Memórias do carnaval paulistano - pt. 2

Nas décadas seguintes, porém, mulheres e pobres – negros e mulatos, principalmente – começariam a conquistar seu espaço nas ruas da cidade durante os dias de festa.

Nas décadas seguintes, porém, mulheres e pobres – negros e mulatos, principalmente – começariam a conquistar seu espaço nas ruas da cidade durante os dias de festa. Vestindo fantasias luxuosas e a bordo de caleças e tilburis, espécies de carruagens puxadas a cavalo, as jovens de famílias abastadas saíam para se divertir nas tardes de carnaval no que chamavam de “Fazer o giro do Triângulo”, ou seja, percorrer as ruas Direita, XV de Novembro e São Bento, as três principais artérias paulistanas na época. Atrás delas vinham negros e mulatos, que ficavam nas calçadas assistindo às brincadeiras dos ricos. A convivência entre pobres e ricos nas ruas do Triângulo, no entanto, durou pouco tempo.

Assim, quando um grupo de cerca de 20 adolescentes da Barra Funda, tendo à frente o jovem negro Dionísio Barbosa chegou ao Centro de São Paulo, dançando e balançando chocalhos feitos com chapinhas de metal pregadas em ripas de madeira, em 1914, a burguesia paulistana já havia transferido o corso de seus carros e carruagens para a avenida Paulista, no alto do espigão que divide a cidade. Dionísio e seus amigos voltariam no ano seguinte, no seguinte e no seguinte, até 1939, já organizados e identificados como o Grupo Carnavalesco Barra Funda, depois chamado de Camisa verde e Branco, devido à cor das fantasias de seus integrantes. E depois deles vieram outros, da Bela Vista, do Brás e dos outros bairros pobres paulistanos: dançavam pelas ruas do Triângulo, passavam em frente à Central de Polícia, no Páteo do Colégio, e iam se divertir nos salões de baile das ruas 25 de Março, do Carmo e Quintino Bocaiúva, antes de voltarem para casa.

Já no bairro operário da Lapa, os primeiros registros de festejos carnavalescos datam de 1916, quando um grupo de trabalhadores, com apoio financeiro de comerciantes, fundou o Clube Carnavalesco Lapeano. O desfile, no domingo de carnaval, contava com uma comissão de frente a cavalo, com estandarte da agremiação, três ou quatro carros alegóricos e a presença das famílias da região. O corso passeava pelas ruas Trindade e Guaicurus chegando a bairros vizinhos como Pompéia e Água Branca. Na Segunda-feira, as famílias fantasiavam as crianças para brincar no cinema do bairro, o Cine Teatro Carlos Gomes.


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