MPL e conselheiros apresentam argumentos sobre revogação de aumento

Cinco representantes do Movimento Passe Livre participaram nesta terça-feira (18) de reunião extraordinária com o Conselho da Cidade e apresentaram argumentos para a revogação do reajuste. Conselheiros também opinaram

O Movimento Passe Livre defendeu nesta terça-feira, durante reunião do Conselho da Cidade, a revogação imediata do aumento das tarifas de ônibus, metrôs e trens. De modo mais amplo, no entanto, o movimento afirma lutar por um transporte público gratuito e de qualidade.

"Nós defendemos que o transporte público precisa ser visto como um direito social elementar, que dá acesso a outros direitos, como a saúde e a educação. Para ser um direito do cidadão de fato, ninguém pode estar excluído do transporte. O acesso deve ser a todos garantido", afirmou Mariana Toledo, uma das porta-vozes do MPL presentes no evento. "É por isso que estamos nas ruas contra o aumento das passagens, porque o aumento agrava ainda mais o quadro de exclusão e faz com que milhares de pessoas deixem de usar o transporte público por não ter condições de pagar a tarifa".

Formado por representantes dos movimentos sociais, entidades de classe, empresários, pesquisadores, artistas e lideranças religiosas, o Conselho da Cidade tem caráter consultivo e funciona como mais um canal de diálogo entre a Prefeitura e a sociedade.

Nesta manhã, 36 conselheiros se manifestaram sobre o tema, a maior parte deles defendendo a revogação do reajuste aplicado.

Veja abaixo depoimentos de alguns conselheiros:

Marcos da Costa - Presidente da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil
“O direito ao transporte é importante por si só, mas ele também traz o acesso a outros direitos, como saúde, educação e cultura”

Raí de Oliveira – Atletas pela Cidadania

“Quando começou o movimento, que eu não conhecia ainda, perguntei: ‘mas por 20 centavos?’, depois que vi que tinha sido abaixo da inflação. Depois me atentei que defendiam o passe livre. Por que não? Pode ser possível. Esse é o maior aprendizado que todo administrador público tem que ter nesse momento.”

Arielli Tavares - DCE da USP e da Executiva Nacional da ANEL
“Vivemos uma oportunidade histórica no momento de renovação das concessões de transporte. O que está em jogo é que as manifestações são de pessoas que não vão aceitar desrespeito. A prioridade não pode ser o lucro dos empresários”

Silvio Caccia Bava - Editor do Le Monde Diplomatique Brasil e Coordenador-Executivo do Instituto Polis
“A prefeitura tem que incorporar contribuições da sociedade civil. A manifestação é pelo direito à cidade, é a reapropriação pelo cidadão do espaço público. Esta é uma oportunidade para rever políticas e revogar o aumento, criando um novo modelo de financiamento, com participação. Esta efetiva inversão radical no transporte tem que ser feita antes da apresentação do Plano Plurianual, senão cai no vazio.”

Maria Alice Setúbal - Presidente do CENPEC (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária) e da Fundação Tide Setúbal

“A população quer recuperar o espaço público. A melhoria de mobilidade urbana é necessária para que parte das pessoas deixe de viver em guetos. É importante termos canais de diálogo. Queria destacar três pontos: a importância da transparência na inclusão dos empresários, a clara sinalização da reversão dos recursos para transporte público e a criação de fóruns permanentes de discussão de mobilidade”.

Leonardo Sakamoto - Jornalista e Coordenador da ONG Repórter Brasil

“Eu coloco não apenas um diálogo pensando no Plano de Mobilidade Urbana, mas também a criação de uma Conferência Municipal de Transportes Públicos, porque com todo respeito aos colegas conselheiros, nós fomos indicados. Isso aqui não representa necessariamente a população da cidade de São Paulo, mas apenas um pedaço dessa população”

Maurício Jorge Piragino - Diretor da Escola de Governo de São Paulo
“É preciso promover um fórum no qual se evidencie tudo que constrói o preço da tarifa, a qualidade do serviço e a malha viária. A partir deste fórum, que se crie definitivamente, um conselho de mobilidade urbana, que é uma velha reivindicação, com representatividade de diversos atores envolvidos nesse processo”

Ermínia Maricato - Professora titular aposentada da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP)
“Saúdo essa nova geração. Meu coração está em festa. É um novo ciclo de política urbana para a o País”

Eloisa Gabriel do Santos - Presidenta do Conselho Regional de Serviço Social
“De imediato é a revogação da tarifa, mas acho que a gente, enquanto sociedade civil organizada e a sociedade que foi para as ruas têm que debater a estatização do transporte”

Raquel Rolnik - Urbanista, Professora FAU-USP e Relatora Especial da Organização das Nações Unidas para o direito à moradia adequada
“Precisamos agir para avançar no direito à cidade para todos. Temos que romper com a coalizão, bloquear enorme poder das concessionárias no planejamento de políticas públicas com o aprofundamento do processo decisório popular”

Wagner Gomes - Presidente Nacional da CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil
“Segundo o planejamento de 1970, hoje nós deveríamos ter 400 km de linhas de metrô e nós temos apenas 90 km. Precisa melhorar a quantidade e a qualidade do transporte. Suspenda o reajuste e na nova licitação pegue um pedaço do bolo para financiar os R$ 0,20”

Luciana Guimarães - Diretora do Instituto Sou da Paz
“Em primeiro lugar a questão do transporte é geracional. Em segundo lugar eu sugiro que a secretaria de Segurança Urbana e a GCM podem ser mediadoras das manifestações na cidade. Elas têm estrutura para isso”

Frei David Raimundo dos Santos - Diretor Executivo da EDUCAFRO
“Se você leva a sério, nós como conselheiros, revogue já esse aumento. Você será um exemplo para todo o Brasil”

José Américo Dias – Presidente da Câmara Municipal de São Paulo
“Quero propor na reunião de líderes que a Câmara abra discussão sobre o assunto, marque uma audiência pública, com a presença do secretário para que a gente discuta o conteúdo das tarifas, ou seja, a estrutura da tarifa, como ela é calculada e como ela é financiada, porque o que foi dito aqui é correto: não podemos mais imaginar o financiamento da tarifa pública só do ponto de vista da Prefeitura. O Governo do Estado e a União têm também de participarem, como participam da Educação e da Saúde”

José Vicente - Reitor da universidade Zumbi dos Palmares
“Nós podemos esperar mais 15 dias, 20 dias, um mês, que seja necessário, até para voltar com esse preço, mas que nós possamos nos reunir com esses jovens e possamos encontrar com a sociedade para debater esses assuntos e, de imediato”

Vera Masagão Ribeiro - Diretoria Executiva da ABONG - Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais
“Para a gente provar que de fato, a democracia institucional e os espaços institucionais de participação podem dialogar e reverberar o que está acontecendo nas ruas, a gente tem que começar com a sinalização de que participar funciona. Então, vamos primeiro revogar o aumento, para depois, iniciar o dialogo”

Gabriel Di Pierro, membro da Rede Nossa São Paulo, da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo e Ação Educativa
“Eu queria propor a revogação ou a suspensão desse aumento para que a gente faça então a discussão para que a gente efetivamente tome uma direção. Isso é uma decisão política e o prefeito falou que faria uma decisão política quando ele se referiu a argumentos técnicos. A decisão é política e hoje, é nos R$ 3,20. Ou diminui ou reduz, ou então os movimentos vão continuar e isso vai ser ruim para o governo”

Ney Piacentini - presidente da Cooperativa Paulista de Teatros
Defendeu que os empresários abram mão de subsídios para a redução da tarifa. “Nesse momento reduz pra três, e não é pedir dinheiro para a Dilma, não é aumentar tributos, manipular tributos como o prefeito falou, mas os empresários tem que abrir mão”, destacou.

Paulo Feldman, presidente do Conselho da Pequena Empresa da Fecomercio e professor da FEA-USP
Defendeu o debate de políticas para o transporte individual. “Algo tem que ser feito para impedir o avanço do transporte individual de São Paulo também. Varias cidades do mundo estão adotando o pedágio e eu acho que esse é um assunto que deveríamos conversar e discutir”, ressaltou.