Filmes franceses ganham acompanhamento musical

Para o professor da USP Rubens Machado Junior, o cinema de vanguarda francês da década de 20 é um tema muito pouco estudado. Conhecido como “escola francesa” ou “impressionista”, o movimento foi um momento de experimentação e, portanto, de grande diversidade estética. Entre os dias 1º e 15, a Biblioteca Pública Viriato Corrêa exibe, com acompanhamento musical e debates após as sessões, duas produções desse período e uma seleção de curtas-metragens do diretor Man Ray. A mostra é feita em parceria com a Casa Guilherme de Almeida.

Abre a programação “Rien que les Heures”, de Alberto Cavalcanti, filme sobre Paris. Um dos primeiros exemplos do que se denominou “sinfonias da cidade”, o longa-metragem não tem uma narrativa convencional, segundo Machado Junior, devido a sua sintaxe de eventos que ocorrem ao mesmo tempo e que se cruzam de modos aleatórios. A cidade não é apenas um mero cenário, e sim parte importante da história. “Uma das características das sinfonias é a de filmar as ruas e articular suas imagens por meio de uma estrutura melódica, na qual cada plano tem o valor de uma nota musical”, conta o professor. Após a sessão, ele participa de um debate.

No dia 8, será exibido “A Queda da Casa de Usher”, de Jean Epstein. O longa é uma mistura de dois contos de Edgar Allan Poe, “O Retrato Oval” e “A Mansão de Usher”. Segundo o coordenador de programação da Casa Guilherme de Almeida, Donny Correa, que participa de um bate-papo após a exibição, o filme foi um marco importante no cinema. “Junto com ‘Napoleon’ [de Abel Gance], consolida uma estética que iria perdurar por muito tempo e dá início a uma discussão bastante controversa e intensa sobre a relação espectador-filme”. O coordenador afirma, também, que a obra de Epstein apresenta uma metáfora da Europa pós-Primeira Guerra, no olhar para a loucura e a doença.

No dia 15, serão exibidos três curtas do diretor Man Ray. Correa classifica a obra do cineasta como “meio surrealista, meio dadaísta” e destaca a ousada carga de experimentação presente em seus filmes.

Serviço:

Biblioteca Viriato Corrêa

Endereço: R. Sena Madureira, 298, Vila Mariana. Zona Sul

Telefone: 5573-4017 e 5574-0389

Programação:  1 a 15

Grátis.

Confira a programação completa:

NADA MAIS QUE HORAS
(Rien que les Heures, França, 1926, 46 min). Dir.: Alberto Cavalcanti. Com Blanche Bernis, Nina Chousvalowa, Philippe Hériat e outros. +12 anos.
O filme mostra o lado mundano de Paris por meio de incidentes pessoais de desconhecidos, ricos e pobres, em meio a monumentos da cultura moderna no transcorrer de um único dia. Filme musicado pelo grupo Cinematécnicos. Após a sessão, debate com Rubens Machado Jr. (pesquisador e professor de teoria e história do cinema no Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da USP).
| Dia 1º, 17h

A QUEDA DA CASA DE USHER
(La Chute de la Maison Usher, França, 1928, 63 min). Dir.: Jean Epstein. Com Jean Debucourt, Marguerite Gance, Charles Lamy e outros. +12 anos.
Baseado em obra de Edgar Allan Poe, o filme narra a história de um rapaz que chega à mansão dos Usher e encontra seu amigo pintando o retrato da mulher, inconformado com sua morte. O nobre acredita que ela está apenas adormecida. Filme musicado por Julia Teles, Luis Felipe Labaki e Tiago de Mello, integrantes do NME (Nova Música Eletroacústica). Após a sessão, debate com Donny Correia (poeta, cineasta e tradutor, coordenador de programação da Casa Guilherme de Almeida).
| Dia 8, 17h

NÃO ME INCOMODE
(Emak-Bakia, França/Espanha, 1926, 16 min). Dir.: Man Ray. Com Kiki de Montparnasse, Jacques Rigaut e outros. +16 anos.
Surrealismo no cinema. O próprio filme se define como um “cinepoema”.

A ESTRELA DO MAR
(L’Étoile de Mer, França, 1928, 16 min). Dir.: Man Ray. Com Kiki de Montparnasse, André de la Rivière, Robert Desnos e outros. +16 anos.
Interpretação cinematográfica do poema homônimo de Robert Desnos.

OS MISTÉRIOS DO CASTELO DE DADOS
(Les Mystères du Château de Dé, França, 1929, 20 min). Dir.: Man Ray. Com Georges Auric, Le Comte de Beaumont, Le Vicomte de Noailles e outros. +16 anos.
As formas cubistas da vila, desenhadas pelo arquiteto Robert Mallet-Stevens, fez Man Ray lembrar do poema modernista de Stéphane Mallarmé, “Um Lance de Dados jamais Abolirá o Acaso”, de 1897.
Três filmes curtos musicados por Luiz Gubeissi e Panda Gianfratti (Duo Abaetetuba). Após a sessão, debate com Sônia Salzstein (historiadora, crítica de arte e professora do Departamento de Artes Plásticas da USP).
| Exibições seguidas. Dia 15, 17h

Fonte: Secretaria da Cultura.