Saúde da capital oferece acolhimento para mulheres em situação de violência

Os equipamentos de saúde municipais oferecem atendimento multidisciplinar, com ações de prevenção, conscientização e cuidado integral à mulher

Para enfrentar as diferentes formas de violência contra as mulheres, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) desenvolve ações estratégicas em toda a rede de assistência e institui vários mecanismos de proteção e acolhimento, como os Núcleos de Prevenção à Violência (NPVs), a fim de garantir o acolhimento institucional e sigiloso, além do Programa de Acompanhamento Psicológico às Mulheres Vítimas de Violência Doméstica.

Até o último dia 13, foram notificados 22.022 casos de violência contra mulher na cidade de São Paulo, de acordo com o Sistema de Informação de Agravos e Notificação (Sinan), utilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para o registro de notificações compulsórias. Em todo o ano de 2022, foram registrados 21.638 casos.

Núcleos de Prevenção à Violência
Os NPVs foram instituídos para lidar com a questão da violência contra a mulher e os demais públicos vulneráveis, como crianças e idosos, em todas as unidades da rede municipal de saúde de São Paulo, incluindo as 470 Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Compostos por equipes multidisciplinares, eles desenvolvem ações de prevenção, conscientização e acolhimento. Em casos envolvendo violência, a equipe do NPV é acionada para articular o cuidado de forma integral.

“Esses núcleos articulam ações de assistência, prevenção e promoção do cuidado integral às pessoas vítimas de violência, por meio de um projeto terapêutico singular [PTS] e ferramentas de uma cultura de paz”, ressalta a coordenadora da Área Técnica de Atenção Integral à Saúde da Pessoa em Situação de Violência da SMS, Cássia Ribeiro. Ela afirma que as equipes de saúde atuam de forma ativa e estão preparadas para detectar situações envolvendo violência doméstica.

Além disso, para implementar o Programa de Acompanhamento Psicológico às Mulheres Vítimas de Violência Doméstica, foram criadas as equipes especializadas em violência nas Supervisões Técnicas de Saúde (STSs). Essas equipes atuam em parceria com os NPVs, oferecendo atendimento psicossocial e terapêutico por meio de intervenções e estratégias individuais e em grupo, com o objetivo de promover o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, além da potencialização da autonomia. Elas também apresentam às pessoas em situação de violência, informações a respeito dos recursos jurídicos e de proteção social para lidar com a situação.

Nas UBSs, equipamentos que possuem vínculo mais estreito com as populações de seus territórios, os grupos voltados às mulheres muitas vezes também se tornam o espaço de acolhimento para pessoas que convivem com várias formas de violência, seja doméstica, sexual, assédio moral ou outras.

Na UBS Jardim Fanganiello, na zona leste da capital, por exemplo, são realizadas rodas de conversas com mulheres vítimas de violência doméstica. As reuniões acontecem todas as sextas-feiras pela manhã, com a presença de 12 mulheres, que compartilham as situações que passaram, as dores e os medos.

“Aqui nós acolhemos a mulher e fazemos os direcionamentos necessários para cada caso, sempre respeitando o tempo de cada uma para lidar com a situação”, explica a agente comunitária de saúde (ACS) Cindy Keynrrison, que reforça que os casos mais graves identificados na UBS podem ser encaminhados para outros equipamentos de saúde, além de serviços que promovam encaminhamentos assistencial e legal.

A agente comunitária também foi vítima de violência doméstica e hoje atua nos NPVs, identificando e acolhendo as vítimas na unidade de saúde. Além disso, Cindy também promove rodas de conversas sobre o tema nos territórios para mulheres que não têm acesso aos equipamentos de saúde como forma de inseri-las na rede assistencial e de saúde. “Quando nós identificamos a situação no território, nós convidamos aquela mulher a passar por uma consulta na UBS. Mesmo que ela não consiga falar sobre o assunto diretamente, naquele momento, ela acaba se beneficiando ao receber as orientações e os cuidados necessários, gerando uma relação de confiança e segurança. Com o tempo, ela acaba se sentindo confiante para procurar ajuda”, afirma a ACS.

“Crônicas de Marias” convida mulheres a registrarem suas vivências
Em Sapopemba, na zona leste da cidade, o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) II Sapopemba desenvolve desde 2021 o projeto terapêutico “Crônicas de Marias”, que é referência para escuta qualificada de mulheres na capital.

O projeto propõe um modelo de conversa que reúne e incentiva mulheres frequentadoras a contarem suas histórias e dividi-las com outras que passam por situações semelhantes. É uma forma de compartilhar sentimentos, gerar empatia e dar empoderamento a elas que, em sua maioria, chegam aos locais com baixa autoestima.

O que começou com depoimentos de usuárias de substâncias psicoativas sobre as dificuldades do dia a dia de cada uma, também mostrou histórias das que passavam por violência, solidão, baixa autoestima, dificuldades da maternidade, relações abusivas e muitas outras situações comuns a tantas delas. Foi aí que nasceu a ideia de registrar esses relatos no papel, batizado de “escrevivências”, como forma de inspirar umas às outras.

O projeto já rendeu mais de 100 crônicas, tendo atendido 318 mulheres no Caps Sapopemba e outras 226 na UBS Iaçapé, onde funciona desde agosto do ano passado. Em 2022, o projeto “Crônicas de Marias” foi reconhecido como modelo nacional de atenção à saúde na “17ª Mostra Brasil, aqui tem SUS”, promovida pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e também pelo “11º Prêmio David Capistrano”, promovido pelo Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems).