Um festival de MPB que veio para ficar


27/07/2006 - Itaquera

A cidade de São Paulo ganhou um novo festival de MPB. Pela primeira vez Itaquera, Zona Leste, respirou Música Popular Brasileira durante quatro dias. O evento “São Paulo Musical” promovido pela subprefeitura de Itaquera em parceria com a São Paulo Turismo levou centenas de pessoas do dia 21 ao dia 24 no anfiteatro do CEU (Centro Educacional Unificado) Aricanduva.

Das mais de mil músicas inscritas em 2005 (por meio do site “Festivais do Brasil”) foram selecionadas as 24 melhores. Sendo que 12 se apresentaram na quinta-feira e as outras 12 na sexta-feira. As seis melhores de cada dia foram classificadas para a finalíssima que ocorreu no sábado.

A abertura ocorreu no dia 21, quarta-feira, com uma exposição inédita que
retrata um pouco da vida do cantor e compositor Tom Jobim. Todo o acervo pertence ao Instituto Antônio Carlos Jobim, localizado no Rio de Janeiro, foi selecionado e remetido especialmente para o “São Paulo Musical”. O público pode conferir desde os principais trabalhos do músico, incluindo até as reproduções das letras feitas em próprio punho por Jobim.

Dividindo o mesmo espaço também permaneceram expostas caricaturas do artista paraibano Wiliam Medeiros. Ambas também foram selecionadas criteriosamente para este evento.

O subprefeito esteve presente na festa e agradeceu o apoio de todos que ajudaram para que o festival ganhasse força e fosse exemplo para o Brasil inteiro. Também compareceram o chefe de gabinete e organizador do evento, o Secretário Adjunto de Cultura e diversas autoridades locais.

O secretário elogiou a iniciativa feita pela sub e disse que a cultura tem que começar a encontrar pontos fortes nos bairros e não apenas se concentrar no centro. “Estamos deslocando o eixo dos festivais para os bairros. A cultura assim como a economia tem que ser bem distribuída...” – disse o secretário.

O “São Paulo Musical” contou com as apresentações do músico Sérgio Augusto que viajou o Brasil inteiro, e também muitos países, tocando em festivais. Ele é cantor, compositor, professor de música e também ganhador de muitas dessas competições. Além de cantar várias de suas composições, como “Brasilidade”, música ganhadora de mais de 50 festivais em 1° lugar, como também “Oração ao Mar”, o cantor também falou um pouco sobre a história dos festivais na década de 70, quando as músicas passavam por um controle de censura antes de serem apresentadas no evento. “O festival de música popular brasileira conseguiu ao longo dos anos estabelecer uma liberdade de expressão muito grande devido à luta por artistas dessa época” – disse Sérgio.

Além da pequena introdução aos festivais, a Filarmônica Afro Brasileira apresentou em bom estilo músicas do eterno Tom Jobim como músicas mais populares. A FilAfro trouxe como convidado especial o Grupo JÁ, um grupo de crianças que aprenderam a ler e tocar partituras há pouco mais de um mês. Este grupo se apresentará no “Sala São Paulo” e promete a cada novo show. Amigos angolanos da filarmônica marcaram presença também com uma apresentação de improviso, mas muito interessante com músicas africanas. A noite encerrou-se, com o público em pé, acompanhando por meio de palmas as crianças cantando a música “Happy Day”.

Iniciada em 1998 a FILAFRO conta hoje com 180 integrantes. A Filarmônica tem se apresentado em várias salas de espetáculo: Centro Cultural Britânico Brasileiro, Teatro Alfa, Teatro Municipal, Auditório Araújo Vianna – RS, Teatro São Pedro, II Festival de Inverno de Ilha Solteira, Prêmio Raça Brasil 500 Anos, Prêmio Atualidade Cosmética, The Music of the Night e Uma Noite na Broadway. Já se apresentou com artistas convidados de renome nacional e internacional: como Jamelão, Beth Carvalho, Estevão Maya-Maya, Carla Maués, Márcio Boezen, David Marcondes, Dave Gordon (Trinidad Tobago), Ednéia de Oliveira e também com o grupo Quinteto em Branco e Preto, o violonista Robson Miguel, o Madrigal CantoVivo e o violinista Bruce Kevin Mack (USA).


Primeira semifinal

Durante a noite de quinta-feira, dia 22, a competição começou para valer. Músicos dos quatro cantos do país subiram ao palco do CEU e literalmente deram um show.

A platéia foi totalmente participativa. Interagindo com os músicos no palco acompanhavam os artistas por meio de palmas e até cantavam os refrões. Apresentaram-se canções para todos os gostos. Desde aquelas em um clima mais introspectivo como “Mar de Purpurina” até canções mais ousadas no estilo Zé Ramalho, como “Capital do Boi”.

Enquanto os jurados e a comissão organizadora faziam à somatória das letras, o público conferia a apresentação do músico Beto Santos. Radicado na Zona Leste, o músico detém o recorde em ser o mais antigo concorrente de Festivais da MPB, ainda em atividades no cenário da música alternativa brasileira. Na estrada há cerca de 30 anos empolgou o público com uma apresentação totalmente diferenciada tanto na forma de cantar quanto na apresentação com um estilo muito parecido ao do cantor Ney Matogrosso.

A noite encerrou-se com a apresentação dos seis classificados para a finalíssima, sendo: “Mar de Purpurina”, Ivânia Catarina e Carlos Gomes; “Muitas tardes”, Márcia Tauil e Mana Tessari; “Amor Audaz”, Márcio Coelho e Ana Favaretto; “Maria”, Ruth Glória; “Calango na Cidade”, Bilora e “Capital do Boi”, Ubiratan Souza.


Segunda semifinal

A noite de sexta-feira também não foi diferente. Nem o friozinho espantou o público e a animação. O show da noite ficou por conta de Lula Barbosa e Natan Marques. Um dos grandes sucessos de Lula Barbosa e que todo o público cantou junto foi “Desejos e delírios”, que foi gravado pelo cantor Fábio Júnior. Lula Barbosa ainda interpretou “Se eu pudesse”, uma canção que venceu os festivais da cidade de Cascavel e Tatuí. Lula compõem para diversos intérpretes da MPB. Tem mais de 150 composições gravadas por nomes como Roberto Carlos, Jessé, Fábio Júnior, Jane Dubock, Jair Rodrigues, Peninha, entre outros.

Já o seu parceiro Natan Marques é músico, arranjador e compositor. Durante anos foi músico da banda de Elis Regina, Djavan e Ivan Lins. Depois de investir em sua carreira solo, no ano de 2000 lançou o CD Alvorada Brasileira, gravado em parceria com Renato Teixeira.

Os semifinalistas desta noite foram: “Como o vento”, Rosane e Tiago; “Flor Deserta”, Adolar Marin; “Arte Popular”, Teleu e Sanvita; “Me joga na parede, me chama de largatixa”, Zé Alexandre; “Fruto e Pomar”, Wolf Borges; “Anunciação”, Fabrício dos Anjos.


Finalíssima

A noite de sábado começou com um gostinho de quero mais. As doze músicas classificadas na quinta e na sexta-feira se apresentaram com mais empolgação ainda. Cada um da platéia já havia eleito e torcia por sua favorita.

Enquanto os jurados contabilizavam as notas dos vencedores, o palco foi tomado por um ícone dos Festivais: o cantor Jair Rodrigues e banda. Interagindo com o público a todo minuto e contando muitas piadas o artista fez um remake dos seus grandes sucessos, muitos deles vencedores nos Festivais, como “Disparada’, composição de Geraldo Vandré e Téo de Barros que rendeu a Jair o primeiro lugar no Festival da Record de 1966. A música dividiu o prêmio com a canção “A Banda”, de Chico Buarque.

Além disso, Jair também cantou outros sucessos como o “O conde tristeza pega no ganzá”, “O menino da porteira”, “Boi da cara preta” e “Majestade o Sabiá”. Inclusive, em uma das pausas, Jair não se conteve e falou sobre o “São Paulo Musical”. “Estou extremamente emocionado. Nunca um Festival de MPB foi realizado na Zona Leste. E não é um Festival qualquer, mas do porte das canções que vimos aqui. Espero e desejo vida longa a esta iniciativa: parabéns a subprefeitura!”.

Além da premiação em dinheiro os finalistas receberam um troféu exclusivo do evento. Lembrando que, diferente de todos os Festivais que acontecem pelo país, o “São Paulo Musical” ofereceu uma ajuda de custo a todos os 24 participantes.


Os finalistas

Melhor Intérprete – Márcio Coelho e Ana Favaretto, Ribeirão Preto (SP), com a música “Amor Audaz”. Premiação: R$ 500,00.
Melhor Letra – Teleu e Sanvita, São Paulo (SP), com a música “Arte Popular”. Premiação: R$ 500,00.
3º lugar – Ruth Glória, São Paulo (SP), com a música “Maria”. Premiação: R$ 500,00.
2º lugar – Zé Alexandre, Rio de Janeiro (RJ), com a música “Me joga na parede, me chama de lagartixa”. Premiação: R$ 1.000,00.
1º lugar – Márcia Tauil e Mana Tessari, São José do Rio Pardo (SP), com a música “Muitas tardes”. Premiação: R$ 2.000,00.


Apoio

Idealizado pela subprefeitura o projeto “São Paulo Musical” só se tornou viável a partir do apoio de empresas da região, como: Itavel Multimarcas, Banco Itaú, Colégio Augusto Maia, Churrascaria Tendal Grill, Escola de Enfermagem Almeida Santos, site Festivais do Brasil, Instituto Antônio Carlos Jobim, grupo Cava Mar e Giuste.

Toda a premiação, bem como a ajuda de custo aos participantes foram oferecidas por meio do patrocínio dos Biscoitos Dunga, da Faculdade Unicastelo e da AIRI (Associação das Indústrias da Região de Itaquera).