Prefeitura conclui demolição de 97 casas em área de preservação ambiental na Zona Sul

Saiba mais sobre a ação

Equipes de fiscais da Prefeitura e do Estado, policiais militares, guardas civis, efetivos da Guarda Ambiental e funcionários da Subprefeitura da Capela do Socorro realizaram nesta quarta e quinta-feira (29 e 30) ação de demolição de 97 casas construídas ilegalmente no loteamento Canal de Cocaia, no Jardim das Gaivotas, Zona Sul da Cidade. A área é de manancial e de preservação ambiental.

Foram demolidas todas as 97 casas. Cinco famílias já haviam abandonado o local antes da demolição, e outras 92 foram removidas pela Subprefeitura. Onze delas foram provisoriamente para um abrigo municipal, uma voltou para a terra de origem (Minas Gerais) com passagem doada pela Subprefeitura e as outras 80 foram para casa de parentes e amigos. As 11 famílias vão para hotel em Interlagos, próximo ao Autódromo de Interlagos, até que possam ser transferidas para abrigo em condições de recebê-las.

A Guarda Civil Metropolitana (GCM) manterá 30 homens para fazer rondas no local desocupado no período da noite e assegurar que não seja invadido novamente.

A chegada dos funcionários da Subprefeitura da Capela e dos homens da GCM nos acessos do loteamento Canal de Cocaia se deu por volta das 7h30 de quarta-feira. O subprefeito Valdir Ferreira negociou por cerca de 15 minutos com manifestantes contrários à demolição. Ferreira explicou que não tinha como postergar a operação, já que o loteamento configurava crime ambiental. Lembrou que, desde o início do ano, alertou os moradores para não levar à frente as construções porque o poder público não toleraria ocupações em áreas de preservação ambiental - no caso, os mananciais da Represa Billings .

Para impedir a entrada dos funcionários e máquinas da Subprefeitura, alguns moradores chegaram a colocar barricadas de madeiras e pneus na entrada do loteamento. O material foi retirado pelo pelotão de choque da GCM. Ainda assim, não houve qualquer conflito físico entre os dois lados, dada a clara disposição do subprefeito de dialogar e explicar a situação.

"Não temos pressa. Podemos levar dois ou três dias para fazer a operação", disse Ferreira ainda na quarta-feira, explicando que os moradores teriam tempo para retirar os pertences e materiais de suas casas. "Estamos com o cuidado de não ter pressa alguma na ação, para dar condições às nossas assistentes sociais conversarem com cada família e convencerem-nas a aceitar as alternativas que estamos dando, como abrigo, passagem para suas cidades de origem,  caminhões para as mudanças, matrículas em escolas e inscrições em programas habitacionais. A nossa preocupação é fazer no ritmo das pessoas que vão concordando em sair", explicou o subprefeito.

Ferreira disse que foram feitas reuniões preparatórias para a operação no loteamento e, durante as conversas, ficou acertado que não seria usada qualquer forma de violência pela GCM. O único incidente ocorreu quando um rapaz utilizou líquido inflamável para colocar fogo na cabine de um dos caminhões da Subprefeitura. Por causa disso, homens da Guarda detiveram o rapaz e o levaram para um distrito policial, onde foi feito boletim de ocorrência.

Prova de que os moradores estavam informados com antecedência sobre a ação de demolição das casas foi o trabalho das assistentes sociais. Nos dias 9, 17 e 20 de agosto, elas bateram de porta em porta para obter dados socioeconômicos das famílias, como nome, número de crianças e onde os filhos estudavam, e informaram sobre a operação que teve início na quarta.

As assistentes sociais também participaram diretamente na assistência às pessoas durante a demolição das casas e o transporte dos materiais, que incluíram móveis, telhas, portas, janelas e outros pertences. Nesse ponto, os funcionários que cuidavam da retirada dos objetos tinham todo cuidado em perguntar às famílias se haviam colocado tudo nos caminhões de mudança, antes da derrubada das casas começar.

Durante o trabalho de campo, o loteamento foi subdivido em três setores, nos quais atuaram três equipes. Cada uma dessas equipes era composta por dois agentes de controle ambiental, dois fiscais da Subprefeitura, duas assistentes sociais e 30 GCMs, além de outros 150 guardas na ação de patrulhamento. Foram utilizados três tratores e 15 caminhões.  

Apesar da prestar todas as informações, o subprefeito foi firme em demonstrar a ilegalidade do loteamento. "Nós temos aqui uma situação em que, durante 20 ou 30 anos, houve uma ocupação irregular e clandestina crescente na região. Esta administração resolveu cumprir a lei. Até porque, se ela não cumprir, a situação de defesa da águas vai ficar absolutamente inviável em termos de saúde pública, em termos de abastecimento de água", afirmou Ferreira. "A administração cumpriu uma ordem interna da Prefeitura, baseada em lei federal, para que, em ocupações recentes, não consolidadas, nós possamos impedir que essas operações clandestinas continuem", disse o subprefeito.

O secretário municipal de Meio Ambiente, Eduardo Jorge, também destacou a necessidade de preservação das águas em São Paulo. "Desde 2005 a Prefeitura e o Governo do Estado retomaram a fiscalização dos mananciais. Não só aqui na Zona Sul, mas também na Zona Norte", comentou o secretário. "O abastecimento da água na Cidade de São Paulo, na Região Metropolitana, é um problema gravíssimo. Apenas 25% da água da Cidade é fornecida por esses mananciais, enquanto 75% da água vêm de outros mananciais, de outros municípios, pressionando as fontes de outros municípios", explicou.

Eduardo Jorge concluiu: "Se essa situação perdurar, logo esses 25% da Represa Billings e Guarapiranga vão se transformar em 20%, 15%, 10%, e a Cidade de São Paulo terá de buscar água no Vale do Ribeira, a um custo altíssimo. E quem pagará essa conta será a população".