II Mostra Cultural Novembro Negro no CEU Lajeado homenageia Carolina Maria de Jesus

Autora do livro “Quarto de Despejo” é tema de palestra feita pela própria filha, professora Vera Eunice de Jesus

O CEU Lajeado, da Diretoria Regional de Educação (DRE) Guaianases (G), abriu as portas do seu anfiteatro na manhã desta segunda-feira (10) para comemorar o projeto Novembro Negro na Rede Municipal de Ensino com um seminário sobre a vida e obra da escritora mineira Carolina Maria de Jesus. O encontro começou com uma palestra sobre a vida da escritora, feita por sua filha, a professora Vera Eunice de Jesus (que atua na EMEI do CEU Vila Rubi-DRE Capela do Socorro), seguido por um documentário alemão de 1970, gravado com a escritora na Favela do Canindé (região central da cidade) onde ela viveu parte da sua vida.

A mesa desta segunda-feira teve mediação do professor e escritor Abelardo Rodrigues e uma palestra sobre a importância da obra da escritora na literatura negra do nosso país, feita pelo poeta Oswaldo de Camargo, coordenador de literatura do Museu Afro Brasil. O encontro terminou com uma palestra da pesquisadora Raffaella Fernandez, que desde 2005 estuda a obra da autora de Quarto de Despejo, dentre outros livros e que atualmente é investigadora integrada ao CLEPUL (Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em seguida, alunos do último ano do Ensino Fundamental da EMEF Alexandre de Gusmão (DRE G) fizeram uma teatralização da vida da escritora, que elegeram como tema de seu Trabalho Colaborativo de Autoria (TCA).

O seminário termina com o papel de Carolina Maria de Jesus na Literatura Negra, palestra feita pela Coordenadora de Educação Museu Afro-Brasil, Neide Almeida. A mesa será composta ainda pela poetisa e atriz Débora Garcia e o professor Vinebaldo Aleixo, pesquisador do pensamento social brasileiro, relações étnico-raciais e literatura. O evento será concluído com a exibição do documentário “Vidas de Carolina”, de Jéssica Queiroz

Público atento – Durante a palestra da professora Vera Eunice, grande propagadora da obra da mãe, um grande silêncio pairou no anfiteatro. Alunos e professores estavam fascinados com a trajetória da escritora. E o silêncio, quase religioso, foi quebrado algumas vezes com risadas sobre aspectos comportamentais da escritora. A filha contou, dentre outros tantos casos – a maioria tristes – que quando moraram na casa do bairro de Santana, Carolina Maria de Jesus recolhia na rua todo e qualquer mendigo que encontrasse e levava para casa para tomar banho, comer e dormir. A professora Vera também contou que quando a família vivia na Favela do Canindé, a mãe saia para buscar comida e ficava vários dias fora. “A fome nos rondou muito”, informou. Em uma passagem pungente, Vera conta que ela e os irmãos catavam comida no lixo para se alimentarem enquanto a mãe recolhia papel na rua.

A artesã Ana Julia dos Santos, especialista na confecção de bonecas de pano negras desde os 14 anos, levou a neta Inaiê dos Santos, 12 anos, para assistir à palestra. As duas sempre se vestem com os trajes típicos africanos. “Abracei o ofício para resgatar a autoestima das crianças negras. Fui percebendo na minha profissão que as bonecas negras existentes assustavam até as crianças brancas”. Com um ateliê na Cohab Tiradentes (zona Leste) a artesã é conhecida como Ana Fulô. “Visto-me assim em homenagem aos meus antepassados. Minha tataravó era escrava”, conta. Fascinada com a palestra da professora Vera Eunice, Ana Julia disse que a escritora é um exemplo para todos os negros. “Tudo o que queremos é saber que alguém chegou lá. A escritora é um símbolo para nós.” A neta Inaiê, por sua vez, sintetiza assim a opção de seguir a avó na indumentária: “Tenho muito orgulho de ser negra porque eu amo minha cor e minha raça”.

Novembro Negro – Seminários, oficinas e atrações artísticas vão marcar de 8 a 30 de novembro a II Mostra Cultural Novembro Negro nos Centros Educacionais Unificados (CEUs). A mostra pretende valorizar as influências culturais de matriz africana para a formação da cultura brasileira e promover o debate acerca das diferentes manifestações culturais. Serão, ao todo, 14 seminários formativos para os professores da Rede Municipal de Ensino, 40 oficinas para os alunos e 40 atrações artísticas.