Janeiro Roxo: Prefeitura programa mais de mil ações para conscientização da população sobre a hanseníase

Saúde realiza a “Semana H” em unidades de saúde na capital com orientações sobre a doença

Com o objetivo de conscientizar a população, a Prefeitura de São Paulo programou mais de mil ações para a campanha Janeiro Roxomês de conscientização sobre a hanseníase, doença causada pela bactéria bacilo de Hansen que compromete a pele e os nervos, deixando sequelas se não for tratada. 

O seu enfrentamento é um dos principais desafios de saúde pública no Brasil, país responsável por cerca de 90% dos casos novos diagnosticados nas Américas e o segundo a diagnosticar mais casos no mundo, segundo o Ministério da Saúde. 

A fim de intensificar o trabalho, de 15 a 22 de janeiro será realizada a Semana H em unidades de saúde de todas as regiões da cidade. Haverá ações de busca ativa e divulgação de informações sobre o tema em locais públicos de grande circulação como praças, parques, feiras, terminais de ônibus e estações de metrô, para orientar a população sobre os sinais e sintomas da doença e encaminhar casos suspeitos para as Unidades Básicas de Saúde (UBSs). 

Queda na incidência reflete ações de prevenção e controle 
Desde os anos 2000, o município de São Paulo reduziu a prevalência para menos de um caso de hanseníase por 100 mil habitantes, cumprindo a meta de controle preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Levantamento da Divisão de Vigilância em Saúde (DVE), da Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), mostra que a ocorrência da doença está em queda desde 2007, quando teve início a série histórica. Naquele ano, foram confirmados 311 novos casos; em 2023, foram 102 diagnósticos positivos, com uma redução de 17% em relação a 2022, quando houve 122 casos confirmados.  

A maioria dos pacientes com hanseníase na capital é do sexo masculino, na faixa etária entre 20 e 60 anos. Em média, a rede municipal realiza o tratamento de 160 a 180 pessoas por ano, além de manter mais de 2.000 pacientes já tratados em acompanhamento anual pós-alta, devido a complicações, incapacidades físicas provocadas pela doença e acompanhamento clínico protocolar.  No ano de 2023, foram realizadas 135 visitas domiciliares para priorizar o exame dos contatos e interrupção da cadeia de transmissão da doença. O tratamento é realizado nas Unidades de Referência de Hanseníase (URHs), gratuitamente e sem necessidade de internação. 

De acordo com Carlos Tadeu Maraston Ferreira, coordenador do Programa Municipal de Controle de Hanseníase (PMCH) da Covisa/SMS, os resultados alcançados refletem as estratégias de vigilância, controle, prevenção, diagnóstico e aconselhamento sobre a doença junto à população, ações que são realizadas continuamente no município. “Os avanços que tivemos seguem as políticas públicas de controle pautadas em três pilares: educação continuada aos profissionais, divulgação de informação sobre os sinais da doença e manutenção da rede assistencial”, avalia. 

O trabalho de vigilância se intensifica também junto a pacientes suspeitos oriundos de áreas endêmicas com altas taxas de detecção no país, para que não se espalhe localmente. Outro ponto de observação é com relação à incidência da hanseníase em menores de 15 anos de idade, que funciona como um indicador de um possível “descontrole de transmissão” da doença, já que esta pode demorar a se manifestar. Na capital o coeficiente de detecção nessa faixa etária mantém-se baixo: 0,04 em 2022, o que representa um caso por 100 mil/habitantes, e 0,01 em 2023. 

Atendimento na rede municipal 
Para identificar sinais da doença é importante estar atento ao próprio corpo. A hanseníase manifesta-se por meio de manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, dormentes, em qualquer parte do corpo. “A mancha é caracterizada pela diminuição ou perda de sensibilidade [térmica, tátil e dolorosa] na pele. Ela varia de tamanho e aparece principalmente nas coxas, nádegas, abdômen e costas, consideradas áreas frias do corpo”, orienta o coordenador do PMCH. 

Diante de um sinal ou sintoma suspeito da hanseníase, o indicado é procurar a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima para avaliação inicial e, de onde, se for necessário, é feito o encaminhamento a uma Unidade de Referência de Hanseníase (URH). A capital conta com 29 URHs para o tratamento dos pacientes e seus familiares, com equipes multiprofissionais capacitadas e especializadas para atuarem nas ações assistenciais, de vigilância e controle da doença.

De acordo com Ferreira, um dos desafios do trabalho é enfrentar o estigma que ainda cerca a doença. “No passado, a hanseníase era conhecida como lepra e, como era diagnosticada tardiamente, causava mutilações e deformações físicas nas pessoas. Ainda é estigmatizada hoje em dia por conta desse histórico, por isso quanto mais informação e orientação houver, mais teremos condições de desmistificar a doença e identificar rapidamente a pessoa infectada, realizando o encaminhamento correto para iniciar o tratamento em tempo oportuno, conforme o fluxo de atendimento e a linha de cuidado regional de hanseníase”, reforça. 

O alcance da campanha 
O Programa Municipal de Controle de Hanseníase capacita os profissionais da assistência, entre eles, médicos, enfermeiros, agentes comunitários e outros que atuam nas UBSs. Também são treinados os profissionais das Unidades de Vigilância em Saúde (Uvis), que se responsabilizam pela organização e logística das ações realizadas nos respectivos territórios. Entre 2013 e 2023, foram treinados 177.528 profissionais da rede municipal para o desenvolvimento das atividades do Janeiro Roxo, média de 17,7 mil por ano.  

De 2013 a 2023, durante as campanhas de hanseníase, foram confirmados 293 casos da doença de um total de 4.878 suspeitos avaliados nas URHs do município. Em janeiro de 2023, os profissionais conseguiram alertar 1.716.390 munícipes, com a identificação de 1.951 casos suspeitos, dos quais 488 foram encaminhados às URHs para realizar a elucidação diagnóstica, que resultou em 21 confirmações da doença. Em 2022, foram realizadas 1.076.836 abordagens, com 858 suspeitos, 255 avaliados e 21 confirmados. 

Os profissionais de saúde da rede municipal também têm a chance de se capacitar pela plataforma da Escola Municipal de Saúde (EMS), em um curso a distância com duração de 16 horas. 

Saiba mais sobre a hanseníase 
A hanseníase é transmitida de pessoa para pessoa por meio de secreções das vias respiratórias (nariz e boca) e de contato íntimo e prolongado com um doente sem tratamento. A enfermidade tem uma lenta evolução, sendo que, após o contágio, o indivíduo leva até cinco anos para iniciar os sintomas. A maioria das pessoas tem resistência natural e não fica doente mesmo tendo contato com pacientes acometidos.  

Além das manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, dormentes em qualquer parte do corpo, as manifestações da doença geralmente são: diminuição da sensibilidade ou formigamento de extremidades de mãos, pés ou olhos. Por não sentir dor, o paciente pode se ferir ou se queimar, e desenvolver complicações como úlceras e infecções locais. Também pode ocorrer a diminuição ou perda de força muscular em mãos pés e pálpebras, levando a queda de objetos das mãos, andar arrastado e dificuldade em fechar as pálpebras que leva ao ressecamento dos olhos. 

A doença tem cura, mas pode ser incapacitante se não for tratada. O tratamento, via oral com a associação de dois a três medicamentos, é realizado nos serviços de saúde da rede municipal, gratuitamente e sem necessidade de internação. Os pacientes positivos podem conviver normalmente com sua família, seus colegas de trabalho e amigos, enfim, permanecerem na sociedade sem nenhuma restrição. A duração do tratamento varia entre seis e 12 meses, dependendo da forma clínica da doença.