Carros que correrão o Grande Prêmio Indy 300 já estão no Anhembi

Os carros são matidos dentro dos galpões, onde as equipes trabalham freneticamente

Os carros da Fórmula Indy já estão no Anhembi.

Trinta e seis carretas trouxeram os carros que competirão na da Fórmula Indy para os galpões do Anhembi onde acontece nesse domingo, 5 de maio, a quarta edição brasileira do evento. Estima-se que 40 mil pessoas compareçam à prova.
Apesar de ser apenas um dia, a organização trabalha desde janeiro para fazer um grande evento na prova brasileira, que oferece a maior reta do circuito da Fórmula Indy, uma reta de um quilômetro e meio.

 Os pilotos irão passar por onze curvas distribuídas em quase cinco quilômetros de extensão de pista. Os carros darão largada no Sambódromo, passarão pela Rua Milton Rodrigues e Av. Olavo Fontoura, entrarão no estacionamento do Anhembi, sairão pela rua Marechal Leitão, seguirão pela Rua Marcineti Socineti até pegarem a Marginal Tietê.

Além das obras no circuito, como fresagem da pista e colocação das defensas metálicas e de concreto, a Prefeitura também alterou os acessos do público ao Anhembi.

A CET fará a interdição de uma pista da Marginal Tietê às 23h59 dessa quinta-feira, 2 de maio. A mesma pista será liberada para tráfego logo após o encerramento do evento, por volta de 22h do próximo domingo, 5 de maio. O engenheiro de SPObras, Rafael Myawaki, um dos responsáveis pelas obras no Anhembi, acredita que para desmontar toda a estrutura do evento levará aproximadamente dois meses. “Todo o material será transportado para um galpão onde ficará armazenado. São cerca de sete meses de trabalho para a realização dessa corrida, mas as desinterdições viárias acontecem imediatamente após o encerramento do evento”, explica Myawaki.

As ruas Santa Eulália e Paineira do Campo, o trecho que compreende a Praça Campo de Bagatelle e a Av. Santos Dumont, além da pista central da Marginal Tietê, entre a Rua Voluntários da Pátria e a Ponte das Bandeiras, receberam novo recapeamento.
 

 Saiba mais a respeito da prova e como foi possível trazer o evento para

São Paulo

 O trânsito na cidade de São Paulo sempre foi intenso. Lá pelos idos de 1888, São Paulo já contava com mais de 200 mil habitantes. Já era uma cidade grande, desenvolvida. Pelas ruas, cavalos, carruagens, carroças, pedestres, vendedores de verduras e cachorros se aglomeravam e se atropelavam. Os rios transbordavam e inundavam tudo a sua volta, enlameando as ruas de terra batida, dificultando o trânsito de então. O Tamanduateí e o Tietê dividiam a cidade, bem como o Vale do Anhangabaú. As margens do Tietê serviam de ancoradouro; meninos mergulhavam em suas águas límpidas. De lá pra cá muita coisa mudou, mas o trânsito nessas margens ... 

Descendo do lombo do burro em 1880 e caindo no meio da marginal Tietê em pleno século 21 com uma imagem improvável: carros de corrida, a 300km/h trafegando por ali.  Aquela mesma marginal que tem um dos mais intensos trânsitos do mundo, que é um dos espaços urbanos mais disputados e conturbados do planeta, na qual o trânsito é tão difícil que às vezes torna-se insuperável, é essa mesma marginal que irá abrigar, mais uma vez,  o mais importante circuito automobilístico de rua do mundo.

A Fórmula Indy 300 está chegando e a cidade de São Paulo está se preparando para recebê-la.

Mas como viabilizar que isso aconteça? Como superar os obstáculos? Como superar o trânsito? Como fechar a Marginal Tietê sem que a cidade entre em colapso? Como montar um circuito de alta velocidade nessa avenida tão movimentada, por onde circula o Brasil todo?

Este foi o desafio imposto à Prefeitura de São Paulo pelos comandantes da Federação Internacional de Automobilismo – FIA.

Um dos responsáveis pelo projeto e montagem desse circuito foi o engenheiro Ruy Takeshi Imakuma, gerente de Intervenções de SPObras que, com habilidade e engenhosidade, não economizou esforços para fazer o que, para muitos, parecia impossível.

Com a palavra, Ruy Takeshi. “Quando ficou definido que a Fórmula Indy viria a São Paulo, isso foi em meados de dezembro de 2009. Em abril de 2010, os motores dos carros já estavam roncando aqui na marginal Tietê.Tudo aconteceu em menos de três meses. Um recorde que nem o Tony Cotman nem a FIA acreditaram.”

Com um período de tempo tão curto para montar tudo, desde o desenho do projeto inicial, o percurso, o lugar do público, os boxes, o trabalho foi intenso e ininterrupto. Ruy conta que, mais que intenso, o trabalho foi desafiador.

A FIA contratou uma equipe de especialistas para orientar e dar suporte técnico à montagem da corrida. À sua frente o inglês Tony Cotman. O neozelandês Brian, o canadense Jimmy e o inglês Phil vieram juntar-se à equipe de São Paulo, que tem à frente Ruy Takeshi e Ulisses Maglioni.

“Foram noites e dias sem dormir direito, sem almoçar ou jantar direito. Mandávamos os esboços dos projetos para o Tony por email, a qualquer hora do dia ou da noite, e ele aprovava com os diretores da FIA e depois nos enviava com as adaptações necessárias, em tempo recorde. Não podíamos perder um segundo sequer, senão não teríamos a corrida no prazo estabelecido e o calendário da prova já estava fechado.Vínhamos ao Anhembi a toda hora. Vivíamos aqui no asfalto tentado solucionar as dificuldades impostas pelo desenho da cidade”, conta Ruy.

Nesse período, quando ainda não se sabia como o circuito ficaria, se os pilotos aprovariam, se a FIA aprovaria, foi importante o envolvimento e apoio de Marcos Penido, à época secretário adjunto da Secretaria de Infraestrutura Urbana, que abria portas e resolvia pendências burocráticas.



Depois de algumas idas e vindas, o circuito ficou assim

Para a corrida, o sentido de direção do sambódromo muda. A largada é dada pelo lado da dispersão. O circuito tem 4.080 metros, onze curvas e a maior reta de circuito de rua da Fórmula Indy, de 1.500 metros, que é a pista da marginal Tietê. Justamente aquela que antes era trafegada por cavalos, mulas, carroças, charretes, e viva alagada pelas águas do rio.

Outro desafio: depois do projeto aprovado precisava começar as obras. E tinha de ser rápido. Como fazer obras no Anhembi, um local de feiras e exposições permanentes, sempre lotado? Como implantar um circuito automobilístico sem interromper os eventos e sem atrapalhar as pessoas que usam o Anhembi?

Ruy Takeshi diz que o planejamento é meticuloso e cumprido à risca. A primeira providência é trocar o piso da passarela do sambódromo, a obra mais demorada. Toda a camada de microcapa de polímero com cimento, bem lisa, é retirada e em seu lugar é colocada uma camada de concreto armado, próprio para a corrida de alta velocidade.
 


Remoção do piso liso


Todo o piso da passarela será removido e, em seu lugar, colocado um piso mais rústico que dará aderência aos pneus dos carros de corrida

SPObras tem a responsabilidade da montagem da pista, dos boxes, pit lane, e de todo circuito com a colocação de alambrados (virados para dentro da pista por questão de segurança) e de dois tipos de barreira baixa: muretas de concreto e guard rail.
 


Colocação de muretas de concreto e alambrados no trecho da marginal Tietê onde os bólidos de corrida passarão


Colocação de barreiras de segurança: grade rail e alambrados no trajeto dos carros

As fotos abaixo mostram o momento em que os funcionários estão recompondo o piso da pista para a saída para a Av. Olavo Fontoura, trajeto que os pilotos fazem antes de entrar na marginal Tietê. (O protetor de roda será removido.)


Funcionários fazem recapeamento do local de onde a mureta foi removida


Os pilotos passarão por este local antes de entrarem na marginal Tietê


A montagem dos boxes é uma questão à parte. São montados no meio do estacionamento e, pasmem, tem um muro entre o boxe e o carro de corrida que pára para abastecer ou trocar de pneu. Diferentemente da Fórmula 1 que precisa de um boxe especial, o da Indy fica em um local descoberto, que originalmente é um estacionamento, e com um muro na frente. Se chover, molha tudo e todo mundo. Inclusive os tanques de etanol que abastecem os carros.

Os carros param na faixa vermelha à direita, junto ao muro. Assim que o carro pára, os mecânicos pulam o muro de 70 cm de altura, com pneus, porcas, roscas, parafusos, ferramentas, mangueira de combustível e o que mais for preciso. Depois, pulam o muro de novo e voltam com todas as coisas pro outro lado. Ruy Takeshi demonstra:


Ruy demonstrando como os mecânicos da Indy fazem para atender aos pilotos e reabastecer os carros


Os mecânicos pulam o muro para ir até o carro e para voltar para o boxe. O muro também serve como proteção


Estacionamento no Anhembi que será transformado em boxe para a Fórmula Indy, e o muro que os mecânicos pulam para atender os carros



Montagem dos boxes no meio do estacionamento


A faixa vermelha que se vê na foto é chamada de “red line” ou “fire line”, uma faixa exclusiva, livre, de alta velocidade, que dá acesso aos boxes e pista, por onde os carros de Bombeiros, de resgate e ambulância possam trafegar, se necessário. Essa montagem é feita na véspera da corrida, pois o Anhembi continua recebendo os eventos normalmente. Apenas a obra de remoção e recolocação do piso da pista é começada com 60 dias de antecedência. Os alambrados e barreiras são finalizados também na véspera da corrida, uma vez que interrompem o trânsito.


Local onde estão sendo instalados os camarotes, em frente os boxes. Os convidados ficam do outro lado da mureta e podem ver os pilotos bem de perto


A “fire line” que passa no meio dos boxes: faixa livre para bombeiros e resgate

 

Na curva para entrada na rua que dá acesso à marginal, será montada uma barreira de pneus.


Pneus que serão usados na barreira de proteção

 

A faixa vermelha que se vê abaixo delimita a pista onde os carros deverão correr. O portão verde será removido para alargamento do trajeto e uma mureta de proteção, de concreto, será colocada do lado direito da pista.



Uma das curvas mais perigosas do circuito. Por esta via os pilotos chegam à marginal Tietê



Trecho da Av. Olavo Fontoura por onde os carros da corrida passarão. Aqui, a velocidade é reduzida, depois de alcançarem 300 km/h na passarela


Colocação de mureta de proteção no circuito, dentro do Anhembi

Ruy Takeshi conta que este é um circuito do qual os pilotos gostam muito, pois é cheio de curvas, e por ter a reta mais longa de todos circuitos da Indy, conseguem alcançar maior velocidade.


A reta onde os pilotos desenvolvem a maior velocidade


Visitantes ilustres na pista da Indy 300 SP, em checagem inusitada


Ruy Takeshi e Ulisses Maglioni durante a montagem da Indy 300 SP 2013

A Federação Internacional de Automobilismo destaca a dedicação e empenho de Ruy Takeshi para viabilizar a prova em São Paulo, Afinal, projetar e montar o circuito da Fórmula Indy 300 em tempo recorde, viabilizar as obras, aprovar as modificações junto à FIA, passar pelo crivo dos organizadores, resolver os problemas junto à Prefeitura, enfrentar o trânsito e fazer obras na marginal com a cidade em movimento, remover os obstáculos logísticos, deixar o circuito digno de um Grande Prêmio Internacional merecem reconhecimento. Em 2010, Ruy foi homenageado pela FIA com uma placa de reconhecimento, dada a apenas algumas pouquíssimas pessoas, gente que de fato faz a diferença em prol do esporte.


Placa em reconhecimento ao trabalho de profissionais da Prefeitura de São Paulo

“Adorei essa homenagem, até porque, na rotina do trabalho, nem sempre os profissionais são reconhecidos pelo esforço e dedicação. Afinal, trabalhar bem faz parte de nossa obrigação”, diz Ruy, que destaca ainda o esforço da equipe.

Uma equipe de quatro pessoas é responsável por montar e desmontar todo o circuito da Indy 300. Além de Takeshi, os engenheiros Rafael Miyawaki e Ulisses Maglioni e a tecnóloga Roberta Maiume.

A Prefeitura de São Paulo, por meio da SPObras, investe cerca de R$ 12 milhões com obras para o evento. O engenheiro destaca que, além da montagem, a desmontagem do circuito é um grande desafio. “Temos um acordo com a CET. Temos de liberar a marginal em algumas horas apenas, duas, no máximo. Assim que termina a corrida, antes mesmo de os pilotos subirem ao pódio, nossa equipe já está na marginal desmontando e removendo as barreiras. Não podemos perder um segundo sequer, senão as marginais param em um efeito dominó e as rodovias que chegam à São Paulo param também”, destaca Ruy.

Depois de tudo desmontado, o material é guardado até o ano seguinte, quando será usado novamente na montagem de mais uma corrida.

A equipe de engenheiros da Prefeitura de São Paulo se sente recompensada ao ler os jornais no dia seguinte e saber que deram conta do recado. Nas páginas dos vespertinos, apenas as notícias sobre o desempenho dos pilotos.

E a vida volta ao normal. Os alambrados e barreiras são retirados. A marginal Tietê volta a ter tráfego intenso e ininterrupto, às vezes, para completamente. O Anhembi volta receber suas feiras e eventos, os pilotos partem para outro circuito, os turistas seguem para outros lugares e Ruy Takeshi segue para o Autódromo de Interlagos. Afinal, tem de deixar o autódromo pronto para a Fórmula 1, em outubro. A correria é grande, mas esse é assunto para outra matéria.