Eleições do CMH destacam líder histórico da zona leste

Por Luiz Pombo

O candidato titular da chapa “Habitação no Rumo Certo”, a mais votada das últimas eleições para o Conselho Municipal de Habitação, Elgito Alves Boaventura, 59 anos, é um dos mais antigos líderes de movimento de moradia da capital. Ele afirmou em entrevista ao Habitação em Pauta que tem uma boa expectativa com relação à participação dele e dos outros companheiros eleitos.
“Apesar de ser minha primeira vez como conselheiro, procuro ajudar o CMH desde 2005. Acredito que o mais importante seja um direcionamento coerente na aplicação dos recursos. A grande vantagem dos conselheiros ligados aos movimentos por moradia é o profundo conhecimento que temos da periferia. Sabemos quais são os principais problemas e vamos ajudar os técnicos em questões importantes, como a regularização fundiária e a implantação de infra-estrutura”, discursou.

E que ninguém duvide desse conhecimento, já que são mais de 30 anos envolvido com os movimentos sociais. Mineiro de nascimento, mas paulista por méritos, recebeu o título de cidadão paulistano em 2007, devido a seu engajamento na luta por habitações dignas para a população de baixa renda. 
Nascido em Caratinga, Minas Gerais, Elgito migrou para são Paulo em 1969 por melhores condições de vida. O ex-roceiro então se tornou mecânico e tecelão, e foi nas fábricas que iniciou sua ligação com a luta social. Ingressou no movimento sindical, onde segundo ele, brigava por maior dignidade, sobretudo na época da ditadura. Com a queda do regime militar, foi aberto o espaço para as ocupações. “Eu organizava os movimentos, mas com um caráter político; era tudo bem trabalhado, como um questionamento do sistema, pois ainda não havia uma política habitacional dirigida, específica”, relatou.

Em 1987, participou da “grande ocupação na zona leste”, na qual quase todas as terras vazias na região foram ocupadas, contando com a participação de mais de 150 mil pessoas. “Parecia uma guerra. Em qualquer espaço vazio fazíamos acampamentos; tudo isso para mostrar ao Estado que uma questão social precisava de solução.” Elgito recorda que em alguns casos as ocupações deram certo, relatando um caso em Guaianazes. "Tivemos vitórias com o movimento, por exemplo, ocupávamos o Kicizani, uma fazenda do antigo Banco Minhos. Após ocorrer a desapropriação da área, fomos andando até outra região em Guaianazes, ocupamos, resistimos e ficamos. Hoje a prefeitura está realizando a regularização fundiária da região”.

Em 1995, fundou a Frente Paulista de Habitação Popular do Estado, atuou no movimento de favelas e ajudou a organizar o Conselho Organizador dos Moradores de Favela (Corafasp). A esse respeito, Elgito Alves observa a importância da urbanização e o trabalho em áreas de risco. “Antigamente, as favelas não tinham água e luz; as áreas de risco eram desocupadas e depois invadidas por outras famílias. Atualmente, as condições são bem melhores que antes e as áreas de risco são substituídas por parques lineares.”
Mesmo com essa trajetória de vida e histórico de luta, Elgito afirma que “qualquer um da Chapa 2 poderia ser o primeiro titular”. “Todos têm qualidades para isso. Só fiquei em primeiro devido a um consenso de opiniões, não existiu um critério preciso para essa escolha”, pondera. “As eleições da CMH foram bem organizadas, proporcionais, tiveram uma política extremamente correta. O que me deixa mais feliz é saber que fui eleito através de uma organização que permitiu a participação de vários segmentos”, finaliza.

Dezesseis representantes ligados a movimentos populares de moradia foram escolhidos por meio das eleições do Conselho Municipal de Habitação (CMH) biênio 2009-2011, realizadas no último dia 4 de outubro. A Chapa “Habitação no rumo certo” foi a vencedora, recebendo 28.968 votos (60,82%) e elegendo 10 representantes.