Monólogo revisita vida e obra de Hilda Hilst

Interpretado por Rosaly Papadopol, vencedora do prêmio APCA de melhor atriz, o espetáculo entra em cartaz, dia 30 de julho, no Teatro Cacilda Becker

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Quando, em 1998, a atriz Rosaly Papadopol pensou em levar a obra da escritora Hilda Hilst para os palcos, poucos livros podiam ser encontrados. Após árduo tempo de pesquisa, somente em 2009 o trabalho finalmente ganhou forma e estreou em São Paulo, sob a direção de Ruy Cortez e com a atuação da própria Rosaly. A partir do dia 30 de julho, o monólogo Hilda Hilst – O espírito da coisa entra em cartaz no Teatro Cacilda Becker para temporada até setembro. A atriz ganhou o prêmio APCA de melhor atriz em 2009.

Ironicamente, romances, poesias e entrevistas da autora agora podem ser facilmente encontrados em livrarias, resultado do interesse de editoras que investiram em novas publicações, e nos muitos arquivos virtuais da internet. “Costumo brincar que se eu soubesse disso, tinha esperado um pouco mais para desenvolver o projeto”, conta Rosaly, que, ao lado de Gaspar Guimarães e José Antônio de Souza, deu forma à dramaturgia final. “O texto utiliza-se exclusivamente da palavra da escritora, na qual presente, passado e futuro se misturam. Meu objetivo é aproximar a obra, que tanto me encantou desde a primeira vista, ao público, mas de forma simples, possibilitando a identificação”, explica a atriz.

Vencedora dos principais prêmios literários no país, como o APCA, em 1977, para o livro Ficções, e o Jabuti, em 1984, para Cantares de perda e predileção, Hilda é reconhecida pelas diversas faces de seu trabalho, que investe em gêneros e temas variados, da poesia à prosa, dos conflitos amorosos às questões da homossexualidade. “Para a montagem, eu tentei descobrir o que era recorrente na vida e no trabalho dela. Cheguei ao cerne de tudo: seu pai”, revela Rosaly. Segundo ela, o universo da escritora trafega pelos planos do divino, carnal e ficcional, no qual a figura paterna se transfigura nos homens.

A peça conta com a participação especial de Antônio Abujamra, que faz a voz em off de Apolônio, pai de Hilda. “No princípio, inclusive, a idéia nem era ser um monólogo, mas sim um diálogo entre ela e o pai”, conta. Passeando pelos textos e utilizando as entrevistas concedidas pela escritora ao longo da carreira, a narrativa se constrói misturando as diversas vozes que formam sua personalidade, entre dados biográficos e ficcionais. Para dar vida à autora, Rosaly não se ateve a trejeitos e características físicas. “O gestual foi o que menos me preocupou, o mais importante é a alma, o que ela é capaz de plasmar e criar”, afirma.

Serviço: Teatro Cacilda Becker. 195 lugares. Rua Tito, 295 - Lapa. Zona Oeste. Tel. 3864-4513. De 30/7 a 5/9. 6ª e sáb., 21h. Dom., 19h. R$ 10