Exposição em São Paulo traz projetos urbanísticos voltados para favelas na América Latina

Na terça-feira, 12 de maio, foi inaugurada a exposição Redesenhando a Cidade Informal, no Museu da Casa Brasileira, em Pinheiros. Organizada pela Secretaria Municipal de Habitação, em parceria com o americano John Beardsley e o alemão Christian Werthmann, professores de arquitetura da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, a exposição permanece aberta ao público até 28 de junho, quando reinicia seu giro pelas outras seis metrópoles envolvidas. O principal objetivo do evento é mostrar as diversas formas que os atuais arquitetos encontram para reparar fisicamente, por meio de projetos urbanísticos, favelas e áreas de risco social, sem precisar destruir suas identidades, preservando estruturas na tentativa de suavizar problemas ambientais e sociais.

De caráter essencialmente exploratório, os estudos contemplam sete cidades, selecionadas para representar a extensão das estratégias que estão sendo desenvolvidas na América Latina, por meio de trabalhos concluídos e projetos em discussão. São elas, Bogotá (Colômbia), Buenos Aires (Argentina), Caracas (Venezuela), Cidade do México e Tijuana (México), Rio de Janeiro e São Paulo (Brasil). A importância do tema ganha ainda mais magnitude ao sabermos que nada menos do que 21 milhões de pessoas vivem nessas cidades, em espaços urbanos precários, construídos sem planejamento, criando um ambiente de certa forma antagônico com a chamada cidade formal. Todos os projetos levam em conta esse grande desafio do século 21.

Outro dado que impressiona é a representação dessa parcela de pessoas com relação ao total de habitantes. Por exemplo, 51% da população da Cidade do México e 68% de Caracas encontram-se nessa situação. A região metropolitana de São Paulo tem população estimada de 19 milhões de habitantes e 4 milhões de indivíduos moram em assentamentos informais, representando 21% do total, em áreas que apresentam extrema densidade demográfica. “Nossa ideia é, além de apresentar os projetos aos visitantes, gerar discussões por meio de mesas redondas, com profissionais e estudantes de arquitetura, com o Conselho Municipal de Habitação e as comunidades envolvidas. É preciso que se debata como o arquiteto se insere nas ações direcionadas a estes conglomerados urbanos tão particulares que são as favelas”, diz Maria Teresa Diniz, coordenadora do projeto Paraisópolis.

Elisabete França, superintendente de Habitação Popular da Prefeitura, discorreu sobre a importância das parcerias firmadas: “Esta relação com arquitetos de todo o mundo é extremamente benéfica, porque gera troca de experiências e ganho de conhecimento. E não é só isso. Quero ressaltar que relações como as da Secretaria de Habitação com o Museu da Casa Brasileira permitem que o público em geral fique por dentro do que de mais significativo está sendo desenvolvido sobre o tema. Espero que esta exposição seja a primeira de várias”.

Durante a apresentação dos projetos, Christian Werthmann destacou diversos pontos explorados nos projetos apresentados. “Estamos presenciando um crescimento dos conglomerados informais, e essa tendência tende a se confirmar nos próximos 20 anos. Acredito que o maior desafio não é a construção de novas unidades habitacionais, mas sim a criação de espaços públicos que se integrem com a comunidade local. E tudo tem de ser visto sob a ótica do longo prazo. Um projeto urbanístico precisa ser pensado, levando-se em consideração as transformações que as comunidades sofrem, com o passar dos anos.”

Opinião essa compartilhada pela arquiteta Marta Maria Lagreca de Sales, responsável pelo projeto realizado no Parque Amélia, em São Paulo. “Cerca de trinta famílias viviam em área degradada e sem nenhuma infraestrutura. Foram removidas e o espaço foi redesenhado, com foco no lazer e na preservação ambiental. Criamos pistas para patins, bicicletas, além de termos recuperado três nascentes no local. Fizemos um espelho d’água, que serve para as crianças da comunidade brincarem”, explicou.

O evento foi prestigiado por representantes de outras quatro secretarias, além de treze subprefeituras. Entre eles, Soninha Francine, subprefeita da Lapa. “Presenciar uma exposição com essas características realimenta velhos desejos e traz conhecimento técnico. Tenho algumas atribuições referentes à requalificação urbana e pretendo unir pontas para sanar problemas crônicos que enfrentamos na área sob nossa jurisdição”, disse.