Da Zona Sul para toda a cidade: empreendedorismo em ação

As 8 propostas selecionadas pelo Projeto Ligue os Pontos receberão aceleração para seus negócios relacionados à agroecologia e ecoturismo em Parelheiros e região

Delícias naturais do campo para a cidade: frutas, verduras, cogumelos – boa alimentação, feita com orgânicos, que geram saúde para quem consome e renda para centenas de famílias de produtores. Mas, e quando o campo é a cidade? E no caso, a maior cidade do País? Para identificar e impulsionar boas ideias de negócios relacionados à agroecologia e ecoturismo no extremo sul de São Paulo, o Projeto Ligue os Pontos viabilizou um projeto de aceleração, em parceria com a Ade Sampa. No último dia 2 de fevereiro, os oito vencedores participaram de uma cerimônia, quando receberam um cheque simbólico de R$ 35 mil cada, valor do prêmio para investir em seus projetos. O programa de aceleração vai impulsionar seus negócios e ampliar os impactos na região e no município.

 

“O que a gente quer é que as pessoas venham, conheçam toda a beleza daqui. Façam uma atividade física saudável e ao livre. E que conheçam tudo isso que é produzido aqui. Para poder entender que aqui tem desde o pequeno produtor, até o grande. E que conheçam quem produz o que vai parar depois na nossa mesa”, relata Roberta Batista, de 39 anos e uma das idealizadoras do Projeto Bike do Polo, um dos vencedores e que oferece pacotes turísticos, incluindo refeições em propriedades rurais e aluguel de bicicletas. “Quero mostrar a terra que a minha avó escolheu para viver, que cultivou, que cuidou, para que as próximas gerações entendam a importância, a beleza disso aqui”, explica.

Outra selecionada para ter seu projeto acelerado é Regiane Rita Bispo, do Sítio Primavera. Engenheira civil, ela trocou, há 3 anos, a vida nas obras pela vida no campo e não se arrepende. “Somos eu e minha mãe e mais duas pessoas contratadas. A gente produz hortaliças e estamos começando a trabalhar com os diversos frutos que temos aqui também como banana, limão cravo, jabuticaba, amora e pêssego entre outros”, completa. Desde que assumiu a gestão da propriedade, Regiane conta que já obtiveram o selo de produção orgânica e passaram a fornecer hortaliças para a merenda escolar na rede pública da região. Com a aceleração querem implantar uma pequena agroindústria para processar as frutas da propriedade.


Os vencedores ganharam um cheque simbólico de R$ 35 mil cada, para investir em seus projetos. 

“Se todos tivessem um pé de cambuci em seus quintais, poderiam melhorar em muito a saúde de suas famílias”, defende Leila Botelho, outra ganhadora. Psicóloga por formação, diz que sempre teve a vontade de viver na região de Parelheiros. “Eu sabia que um dia viria para cá. Aqui, vivo cercada de natureza. Para onde olho tem verde, tem pássaro, tem muita vida”. Foi na sua propriedade que ela conheceu o cambuci, um fruto nativo daquelas matas e, que, segundo a psicóloga, é um grande aliado no combate à diabetes e outras doenças. Leila, que cita estudos desenvolvidos pela Universidade de São Paulo (USP) nesse sentido, quer estimular a adoção de usos desses frutos para além daqueles consagrados na culinária. Quer também montar uma cadeia do cambuci na região, gerando emprego e renda, especialmente para os jovens. “Vivemos aqui, no que é uma zona rural urbana. A concentração de jovens é muito alta. Mas eles não têm mercado de trabalho. Então, queremos trazer esses jovens para desenvolver essa cadeia do Cambuci, tanto como produtores, como guias turísticos” acredita.


Crescimento orientado

A aceleração dos empreendimentos é coordenada pela Ade Sampa, que administra os Teias no município. O Teia Parelheiros é o quinto espaço inaugurado pela Prefeitura de São Paulo e conta com toda a infraestrutura necessária para que empreendedores possam desenvolver suas empresas e projetos. É lá que os oito projetos selecionados passarão por esse processo de aceleração. O Teia Parelheiros também oferece o ambiente de coworking, com salas e internet para que a população local.

“Trata-se de uma região com ótimos projetos, que são simples e muito bons. Falta muito pouco para que consigam promover transformações em seus negócios e na região. E é isso que a aceleração traz. Ajuda no desenho do negócio, no controle financeiro, fluxo de caixa, comunicação, entre outros. São seis meses de aceleração ou incubação, nos quais receberão orientação especializada”, diz Anna Kaiser, do Ligue os Pontos.


O Teia Parelheiros busca proporcionar toda infraestrutura necessária para que empreendedores possam desenvolver seus projetos.

Roberta, do projeto com as bicicletas avisa que tem grandes planos. “Os passeios servirão para monitorar problemas e incutir nas pessoas a responsabilidade em ajudar a cuidar do meio ambiente também”, explica. “Aqui tem macaquinhos, borboletas, capivaras e até onças. Cuidar da natureza é um dos eixos do nosso projeto. Poderemos identificar alguma ação irregular, algum perigo e encaminhar, com a localização exata, as imagens para as autoridades ambientais”, completa.

“A nossa região é muito rica. Tem muita beleza natural, tem história. Não é porque está longe do centro (da cidade), que não tem valor. Tem sim muito valor!”, defende Regiane. Segundo ela, uma das principais vantagens em poder participar do programa de aceleração é contar com a metodologia já testada e aprovada para pequenos empreendimentos. “Vai ajudar a gente a ter mais foco, a organizar melhor as atividades, ampliar mercados e trocar experiências com os demais participantes da aceleração”, diz a engenheira. “O que eu mais valorizo na minha vida de produtora rural familiar é o trabalho que a gente faz. Ele traz benefícios para todos: para quem planta, para quem come e para o meio ambiente, porque a gente produz tudo orgânico”, acredita.

“Os pequenos produtores locais são peça fundamental para toda a economia da cidade. Há grandes ideias de negócios fora dos grandes centros e por meio de capacitações, orientações e um espaço com infraestrutura, estamos impulsionando a participação da comunidade local para serem atores do desenvolvimento econômico e social do território”, explica Aline Cardoso, secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho.