Como projetar o que não existe? Desafio do CITI aos urbanistas

Em 05 de abril, a Prefeitura realizou o segundo seminário referente ao Centro Internacional de Tecnologia e Inovação, que será implantado na área que hoje abriga o CEAGESP e que tem mais de 650 mil m2


Foto: SECOM

No dia 5 de abril, a Prefeitura de São Paulo realizou o segundo seminário referente ao CITI - Centro Internacional de Tecnologia e Inovação, que será implantado na área que hoje abriga o CEAGESP, Central de Abastecimento, localizado na Vila Leopoldina, e que tem mais de 650 mil m2.

Iniciativa do governo federal, estadual e municipal, o CITI de São Paulo, para o prefeito João Doria, está 20 anos atrasado e se trata de um projeto da cidade, e não de uma gestão. O futuro prefeito Bruno Covas assegurou a continuidade de Prefeitura na concretização do CITI, informando que se trata de uma política de Estado, e não de governo.

Este seminário tratou das implicações urbanísticas do Centro de Inovação e Tecnologia. Organizado pela Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento - SMUL, apresentou o modelo de negócios dos CITI Internacionais: 22@Barcelona, projetado nos anos 90, localizado em um antigo centro de produção têxtil e que contou com € 110 milhões de aporte governamental, além de outras receitas privadas; Toronto, iniciado há 15 anos, com maior presença da iniciativa privada, principalmente a indústria biomédica; e a Cornell Tech na Ilha Roosevelt, em Nova Iorque, uma joint venture entre a Universidade de Cornell e a Technion de Israel, que se beneficia amplamente da cultura universitária norte-americana de doação à Universidade de seus ex-alunos. Cornell Tech recebeu ainda U$$100 milhões em infraestrutura da prefeitura de NY. 

A arquiteta-urbanista Heloisa Proença, secretaria de Urbanismo e Licenciamento, ao lado do procurador José Antonio Apparecido da SP Urbanismo, empresa pública ligada à secretaria, explicaram as condições urbanísticas da área, uma ZOE – Zona de Ocupação Especial, que precisará de um PIU - Projeto de Intervenção Urbana para se requalificar como uma área com urbanidade, densidade, mix de usos e perspectiva de entrosamento dos agentes envolvidos a fim de se transformar, de fato, em um polo de tecnologia e inovação sustentável. Heloisa destacou ainda que a área terá coeficiente de aproveitamento construtivo 4, o que corresponde ao pagamento de outorga onerosa em 4 vezes ao tamanho do terreno original para as edificações que optarem por aumentar seu potencial de construção. Esse montante que deverá ser pago à municipalidade, que investirá, por meio do FUNDURB, em projetos de interesse social.

A arquiteta-urbanista e professora da FAU-USP, Martha Grostein, a convite da SMUL, comentou que o CITI se trata de um grande desafio, pois “teremos que pensar num espaço urbano que abrigará o que ainda não existe”. Marta explicou que, apesar de contar com instrumentos urbanísticos, como PIU e Outorga Onerosa, eles ainda não são suficientes para o tamanho da tarefa. “Temos que avançar no espaço físico, na complexa questão fundiária, questões socioeconômicas, político-financeiras e melhores formas de gestão, em uma perspectiva metropolitana, não apenas municipal.” A arquiteta urbanista ressaltou ainda que será criado um espaço de negociação público-privado e o mais importante é a criação de sinergia entre as múltiplas atividades do conhecimento e da inovação em um Distrito de Inovação como este. Aí está o desafio do urbanismo.

Após oito meses de trabalho conjunto nas três esferas de governo, isto é, União, Estado e Município, os resultados são visíveis para a implantação do CITI. A União, dona da área, assentiu para a mudança de uso do terreno; a Secretaria de Agricultura do Estado, responsável pelo abastecimento, fará licitação em conjunto com a Secretaria Municipal de Desestatização e Parcerias, baseada nos projetos da Manifestação de Interesse Privado (MIP), que definirá a nova área e a instalação do CEAGESP; e as secretarias municipais de Inovação e Tecnologia e SMUL, ao lado da FAPESP – do governo do estado -, projetam e estruturam a ocupação urbanística do Distrito, que implicará em sua sustentação econômico-financeira, bem como em seu conteúdo tecnológico.