Em Nova York, habitação social vive o ‘boom’ das rendas mistas

Por Débora Yuri

“50-30-20” é um termo quente em Nova York (EUA) hoje em dia. É também o apelido dos imóveis financiados pela Prefeitura que miram a integração das rendas mistas na habitação. Nesse modelo de empreendimento, 50% do total de unidades de cada prédio são ocupadas por famílias de classe média; 30% delas, por moradores de classe média-baixa, e 20% destinam-se à baixa renda.

O presidente da Companhia de Desenvolvimento Habitacional de Nova York, Marc Jahr, afirma que a instituição já financiou e construiu quase 8 mil apartamentos nesse modelo . “Pela experiência de nossa cidade, famílias com rendas diferentes podem conviver em harmonia, mas a qualidade das moradias e do bairro onde elas ficam é um fator decisivo”, diz. “Acreditamos que prédios com rendas mistas e bairros com economias diversas são pilares de comunidades estáveis.”

Jahr será um dos palestrantes do SP Habitação & Urbanismo, congresso que acontece nos dias 29 e 30 de junho no Parque do Anhembi, em São Paulo. O norte-americano participará dos painéis “Políticas de Habitação no Mundo – O Modelo de Nova York”, no dia 29, às 15h, e “O Mercado de Habitação Social e o Setor Privado: A Experiência Internacional”, no dia 30, às 10h40. O evento é uma iniciativa das secretarias municipais de Habitação e de Desenvolvimento Urbano.

Exemplo de empreendimento de rendas mistas da Companhia de Desenvolvimento Habitacional de Nova York, o Tapestry fica no East Harlem e tem 185 unidades. O morador pode escolher entre sete modelos de cozinhas e diferentes terraços. Há estúdios, apartamentos de um, dois ou três dormitórios e dois concorridos duplexes.

Construções “80-20” também estão se tornando comuns na metrópole que tem um dos metros quadrados mais caros do mundo. Nesses conjuntos, 80% dos moradores são de classe alta, enquanto 20% ganham menos ou o equivalente à metade da renda média norte-americana. Para projetos de habitação de rendas mistas vingarem, é preciso estipular mais do que políticas de moradia. “É comum oferecermos serviços de apoio a alguns residentes”, explica Jahr. “A estratégia adotada pelo policiamento também deve ser eficaz.”

Apesar do burburinho em torno dos prédios “80-20” e “50-30-20”, uma tendência nova-iorquina, o foco do governo local é a população de baixa renda. Do total de unidades habitacionais que a Companhia de Desenvolvimento Habitacional de Nova York financia, 75% são destinadas aos estratos mais pobres da cidade. “E esses empreendimentos têm o mesmo nível de qualidade, na construção e no design, dos nossos projetos de rendas mistas”, diz.

Casas de apoio destinadas a populações específicas – como ex-viciados ou alcoólatras, HIV positivos, doentes mentais – também integram as políticas públicas habitacionais da cidade, com o apoio dos governos federal e estadual.
Atualmente, a prioridade habitacional número 1 da cidade é a preservação das moradias acessíveis já existentes, continua Jahr. Essa estratégia leva em conta a crise econômica norte-americana e o esfriamento do mercado imobiliário local.

“Esse é o momento de Nova York cuidar das unidades com preço de aluguel acessível que, num cenário aquecido, poderiam ser transformadas em moradias com preço de mercado. Numa época de recessão, é mais eficaz preservar um prédio que já existe do que construir um novo”, ele compara.

A segunda prioridade é erguer novos empreendimentos em áreas que pertençam à Prefeitura. Dessa forma, o governo dita as regras de moradia local, como valores de venda e locação que serão praticados. Em último caso, financia novas obras em terrenos particulares.

Em 2003, o governo do prefeito Michael Bloomberg (Partido Republicano) traçou uma estratégia de políticas habitacionais para solucionar os problemas de moradia de um amplo espectro de nova-iorquinos. O plano mistura construção de novos empreendimentos com projetos de preservação, dentro do contexto de cada bairro da cidade, e estimula tanto o aluguel social como a compra da casa própria.

De lá para cá, regiões inteiras foram revitalizadas e mais de 112 mil unidades habitacionais, construídas – cerca de 50 mil delas financiadas parcialmente pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional de Nova York. “Aqui e nos EUA como um todo, existe um grande déficit habitacional, que atinge diferentes classes sociais e etnias: renda muito baixa, baixa, média-baixa, idosos. Melhorar essa questão é fundamental para Nova York continuar sendo uma metrópole vibrante, econômica e socialmente”, diz.