Paraisópolis: de São Paulo para o mundo

Localizada na região sudoeste da cidade de São Paulo, Paraisópolis vem sendo alvo de ações contínuas da atual gestão da prefeitura paulistana. A área, que engloba 100 hectares – cada hectare corresponde a 10.000 m² - começou a sofrer intervenções em junho de 2006, objetivando uma nova configuração urbanística e sua futura transformação em bairro. Mas foi a partir de março de 2008, com a abertura de licitações e investimentos na ordem de 400 milhões de reais, que os projetos ganharam grande impulso.
Foram selecionadas onze intervenções pontuais, visando uma total reestruturação do espaço e da infraestrutura desse complexo, que tem população estimada de 60 mil pessoas. Obras de pavimentação, construção de novas unidades habitacionais, implantação de rede de água e esgoto, remoção de moradias em áreas de risco, são apenas algumas delas. Baseadas em estudos profundos, essas ações vêm trazendo uma progressiva melhoria na qualidade de vida da população local, à medida que são implementadas. Além disso, passaram a chamar a atenção da comunidade internacional, como as universidades Columbia e Harvard, ambas dos Estados Unidos.

“Fomos procurados no ano passado e rapidamente estabelecemos um vínculo de cooperação com os departamentos de arquitetura de ambas universidades, o que é benéfico para todos, já que proporciona uma troca de experiências. Acredito que o apelo para isso não foi somente os projetos de urbanização que estamos pondo em prática, mas também a própria característica do local. Uma favela, a segunda maior da cidade, situada numa região rica, valorizada. Esse contraste é muito particular, estimula quem trabalha com projetos urbanísticos”, diz Elisabete França, superintendente de Habitação Popular.

Formandos das duas universidades vieram para São Paulo, sob a tutela de seus professores, conheceram Paraisópolis e apresentaram diversos trabalhos para a Secretaria de Habitação. “São projetos conceituais, inovadores, que contribuem para o aprimoramento das políticas públicas que estamos pondo em prática. Muitos deles nos fazem refletir sobre nossas atividades diárias e vice-versa. Ou seja, exportamos e importamos conhecimento”, fala Maria Teresa Diniz, coordenadora do projeto Paraisópolis.

Subdividida em áreas, a favela demanda intervenções prioritárias em algumas delas. O Grotão, por exemplo, um profundo vale bem no meio do complexo, exigiu a remoção imediata de quem ocupava o espaço, pelo risco iminente de desabamento, pois construções foram feitas nas encostas dos morros, em solo empobrecido pela erosão causada pelas chuvas. O córrego do Antonico – com aproximadamente 1.200 metros de extensão –, que corta Paraisópolis quase que por inteiro, também é alvo de trabalhos que envolvem a remoção de moradias construídas em cima de seu leito, para possibilitar sua limpeza e canalização. Sem falar na construção de 11 prédios com até 9 andares cada um, na área conhecida como Fazendinha, gerando mil novas unidades habitacionais. Todas serão ocupadas pelos moradores da favela que tiverem seus domicílios removidos – estima-se em 2.400 o número de moradias nessas condições, de um total aproximado de 17 mil. Vale ressaltar que a comunidade de Paraisópolis participa ativamente das decisões tomadas, por meio de reuniões com Conselhos Gestores e representantes de entidades locais.

Os estudos de Columbia e Harvard contemplam essas intervenções, apresentando projetos que envolvem vários conceitos urbanísticos. Verticalização das unidades habitacionais, drenagem pluvial, criação de áreas de lazer, integração entre espaços públicos e privados, aproveitamento do solo para agricultura orgânica, sistemas de esgoto e iluminação, fluxo de pedestres e de veículos são exemplos que podem ser citados.

Mas Paraisópolis não chama atenção apenas dos alunos de Harvard e Columbia. Em março de 2008, foi firmado convênio com a Cities Alliance, organização criada em 1999, pelo então presidente da África do Sul, Nelson Mandela. “Dela fazem parte grandes metrópoles pelo mundo, como São Paulo. Projetos estratégicos são discutidos e Paraisópolis não poderia ficar de fora. São mais experiências que vêm para somar”, afirma Elisabete França.

Comitivas estrangeiras também aportam por aqui com frequência atraídas pela complexidade que envolve a urbanização de Paraisópolis. Franceses e marroquinos conheceram in loco todas as ações da prefeitura e saíram positivamente impressionados com tudo o que viram. Para os dias 12 e 13 de maio, é esperada mais uma delegação, a da Índia. Além disso, em setembro, projetos relacionados a Paraisópolis, nacionais e internacionais, serão apresentados na IV Bienal Internacional de Arquitetura de Roterdã, na Holanda, considerada a segunda mais expressiva do segmento.

É importante ressaltar que do complexo Paraisópolis fazem parte as áreas dos vizinhos Jardim Colombo e Porto Seguro, que estão sendo contempladas com ações de urbanização pela prefeitura e serão beneficiadas com esse importante fluxo de informações estabelecido com a comunidade internacional.

Confira os projetos de urbanização de Paraisópolis que serão apresentados na Bienal de Roterdã