100 anos da Semana da Arte Moderna no Cemitério da Consolação em São Paulo

Grandes nomes da literatura brasileira que participaram da Semana de Arte Moderna estão sepultados na necrópole paulista

A Semana da Arte Moderna de 1922 foi um divisor de águas na cultura, literatura, pintura e dramaturgia brasileira. O evento, realizado no Theatro Municipal de São Paulo, entre os dias 13 a 18 de fevereiro de 1922, deu visibilidade para uma das escolas mais inovadoras e importantes do país, o modernismo. Três dos principais participantes do movimento, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade, estão sepultados no Cemitério da Consolação, localizado na zona sul de São Paulo.

Os corpos de Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade foram sepultados no Cemitério da Consolação, que foi inaugurado no dia 15 de agosto de 1858 e se transformou na primeira necrópole pública e o único existente na capital paulista até o ano de 1893. Até sua construção, todos os corpos eram sepultados ao lado de igrejas, na ideia de estarem mais próximos do caminho para o paraíso. Em 1901, o vereador José Oswald Nogueira, propugnou pela completa reforma dos muros, o transformando de fato em um ponto turístico onde atualmente é um patrimônio tombado.

Oswald de Andrade

José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo no dia 11 de janeiro de 1890. Foi um escritor, dramaturgo e fundador, junto com a Tarsila do Amaral, do Movimento Antropofágico. Filho único de José Oswald Nogueira de Andrade e Inês Henriqueta Inglês de Souza Andrade, desde criança compartilhou por um gosto especial da literatura e o ato de escrever. O escritor começou como jornalista em 1909, no Diário Popular, e até o final de sua vida procurou ser revolucionário, com o intuito de agitar o meio artístico.

Ao lado de Anita Malfatti, Mário de Andrade e outros intelectuais organizou a Semana da Arte Moderna de 22. Além da atuação na criação do evento, lançou em 18 de março de 1924 um dos mais importantes manifestos do modernismo, o Manifesto Pau-Brasil, publicado no Correio da Manhã. "Pensei em fazer uma poesia de exportação. Como o pau-brasil foi a primeira riqueza brasileira exportada, denominei o movimento Pau-Brasil", comenta o autor sobre certa redescoberta do Brasil.

Em 1927 fundou o Movimento Antropofágico, na literatura e na pintura, onde apresentou que o Brasil deveria criar uma cultura revolucionária própria, a partir da cultura estrangeira. Nesse período divulgou um de seus textos mais polêmicos O Movimento Antropofágico, com um dos lemas mais famosos da dramaturgia, principalmente na adaptação de “O Rei da Vela” pelo Teatro Oficina, Tupy or not tupy, that is the question.

Oswald de Andrade faleceu com 64 anos no dia 22 de outubro de 1954, em seu quarto vítima de um infarto. Ele foi sepultado no jazigo da família Andrade, no Cemitério da Consolação, junto aos seus pais e avós.

Tarsila do Amaral

Tarsila do Amaral é considerada uma das principais artistas modernistas latino-americanas, além de ser a pintora que melhor alcançou os desejos brasileiros de expressão nacionalista, segundo opinião popular do meio. Filha de José Estanislau do Amaral Filho e Lydia Dias de Aguiar do Amaral, família rica de São Paulo, nasceu na Fazenda São Bernardo, município de Capivari, interior de São Paulo, no dia 1 de setembro de 1886.

Fez metade de sua formação em São Paulo e viajou rumo à Europa, assim, em Barcelona, na Espanha, pintou seu primeiro quadro “Sagrado Coração de Jesus”, aos 16 anos. Em 1922, regressa ao Brasil e ao lado das personalidades modernistas Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia, fez parte do “Grupo dos Cinco”, com grande atuação no período moderno.

A pintora foi uma das artistas plásticas mais importantes da primeira fase do Modernismo. No marco inicial de nome Pau-Brasil (1924), Tarsila rompeu com o conservadorismo vigente no país, com formas e cores voltadas para sua “redescoberta do Brasil”, realizada em Minas Gerais. As obras exploraram temas tropicais, em exemplo a fauna e flora, as ferrovias e as máquinas, símbolo da modernidade urbana.

Em 1928 pintou o quadro mais famoso da arte brasileira, o Abaporu, como um presente para Oswald de Andrade, seu então marido. O Abaporu, ou ‘homem que come’ para tradução livre do tupi-guarani, foi a inspiração e referência do Movimento Antropofágico.

Tarsila do Amaral faleceu aos 86 anos no dia 17 de janeiro de 1973. Seu corpo foi sepultado no Cemitério da Consolação, localizado na zona sul de São Paulo.

Mário de Andrade

Mário de Andrade foi um escritor, poeta, crítico literário, professor e pesquisador de manifestações musicais e um excelente folclorista, além de ser considerada uma das figuras mais importantes da Geração de 22. Filho de Carlos Augusto de Andrade e de Maria Luísa nasceu na Rua da Aurora, em São Paulo, no dia 9 de outubro de 1893.

Em 1917, com o pseudônimo de Mário Sobral, publicou seu primeiro livro Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema, onde faz uma crítica a matança produzida na Primeira Guerra Mundial, defendendo a paz. Para 1922, além do movimento moderno, foi nomeado professor do Conservatório Dramático e Musical.

Durante a Semana da Arte Moderna de 1922, foi o que apresentou o projeto mais sólido e consistente de renovação da literatura, tal qual era proposto na época, à revolução estética. Foi o incentivador de diversas revistas polêmicas sobre a mobilização, como a Klaxon, Estética e Terra Roxa.

Com viagens pelo Brasil e pesquisa sobre culturas, festas populares, lendas, ritmos, canções e modinhas, o escritor fez sua obra-prima e a mais importante da primeira fase do Modernismo, Macunaíma (1928). O trabalho narra a história do anti-herói brasileiro, ou herói sem caráter, via viagem pelo Brasil, com passagens pela Floresta Amazônica, São Paulo e Rio de Janeiro. Destaca-se o uso recorrente de referências religiosas, lendas e folclore. Lembrando que ‘Macunaíma’ foi adaptada para o cinema em 1969, com protagonista do ator Grande Otelo e direção de Joaquim Pedro de Andrade.

Além da participação na literatura, Mário de Andrade, entre 1935 a 1938, também agiu pela cultura brasileira. Convidado por Paulo Duarte organizou e dirigiu o Departamento Municipal de Cultura de São Paulo, construiu bibliotecas, fixas e ambulantes, redigiu o anteprojeto para a criação do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Mário de Andrade faleceu em São Paulo, no dia 25 de fevereiro de 1945, vítima de um ataque cardíaco. Seu corpo foi sepultado no Cemitério da Consolação, localizado na zona sul de São Paulo.

Confira as sepulturas no Cemitério da Consolação