Cemitério São Luiz: quebrando o estigma da violência

O cemitério São Luiz já passou uma fase difícil, especialmente na década de 90; mas hoje, vivencia uma outra realidade, de mais cuidado e paz na necrópole


Reportagem veiculada pela Folha nesta sexta-feira (8) sobre o cemitério São Luiz sugere, em seu título, que a necrópole passa por uma onda de violência e medo por quem o frequenta. No entanto, com informações e dados muito interessantes apresentados na própria matéria, vê-se uma realidade diferente e melhor. Salientamos alguns pontos positivos citados pela reportagem:

Menor número de usuários de drogas
Reportagem relembra a chegada do trailer da Prefeitura Municipal que, “em oito meses, diminuiu o número de viciados circulando pela necrópole”. Sobre o fato dos usuários utilizarem os banheiros do velório, vale salientar que os cemitérios municipais são espaços públicos e, portanto, de circulação aberta para todos.

Mais cuidados com o cemitério
A matéria descreve que o cemitério conta com equipe completa, com empregados de limpeza, faxina, jardinagem, coveiros, agentes de velório e de atendimento ao público. E que a administradora, Zilma, é "detalhista e parece genuinamente preocupada com a manutenção do cemitério. Durante sua administração, concluiu uma reforma nas salas de velório, criou um banheiro com acessibilidade e melhorou os níveis de limpeza”.

Menos violência no cemitério
É preciso não confundir pessoas sepultadas por morrerem de forma violenta com violência acontecendo dentro do cemitério. Um sepultador da necrópole relata na reportagem, por exemplo, que já abriu covas com revólver apontado na cabeça, embaixo de chuva. No entanto, “hoje em dia está ótimo. Depois do posto da Guarda Civil Metropolitana, melhorou demais". E uma jardineira também dá seu relato positivo, salientando “Não troco esse serviço por nada".

 Ainda sobre os perigos do cemitério, reportagem contextualiza que, em 1996, a ONU divulgou dados considerando o Jardim Ângela, bairro vizinho, a região mais violenta do mundo; mas isto aconteceu há 20 anos atrás. E relembra quando, em 2000, um pai foi preso no cemitério após enterrar o próprio filho; ou seja, 16 anos atrás. No entanto, é importante citar que, neste ano (2016), a administração do cemitério registrou apenas um boletim de ocorrência, referente a um relógio de ponto furtado no mês de março.

E de forma muito positiva, reportagem ainda cita que o cemitério é considerado um parque, onde “há pássaros de várias espécies, quero-queros e até gaviões” e, no fim de semana, pessoas frequentam o local; muitas, inclusive, para “empinar pipas”, em um ambiente familiar.

Menos casos de homicídio
Reportagem traz um gráfico que mostra que, no mês de junho, das pessoas sepultadas no cemitério São Luiz durante a semana cujo repórter esteve no local, 72 faleceram com problemas de saúde, enquanto apenas 2 foram vítimas de homicídio e 1 por acidente.

E ao relacionar as estatísticas de criminalidade às pessoas que estão sepultadas na necrópole, reportagem compara que em junho de 2006 foram 26 assassinatos, enquanto em junho deste ano, foram 10 casos, em média. Ou seja, 38% a menos.

Refunta: isto não é reutilização de covas!

Reportagem afirma que “o cemitério tem uma política de reutilizar covas” e que, quando há refunta, “há outros caixões enterrados ali naquele espaço”. Por isto, é importante esclarecer que, após o tempo mínimo requerido de sepultamento, se a família não dá entrada com o processo de exumação (03 anos), o Serviço Funerário do Município de São Paulo realiza a exumação conforme necessidade de uso do solo e, só então, acontece a refunda. Ou seja, os ossos são devidamente identificados e são armazenados na própria sepultura ou em ossário geral, conforme o Decreto nº16.017/80, e não ficam caixões sobre caixões. Além disso, estes despojos não estão perdidos: caso a família retorne, precisa, apenas, esperar o período de exumação do corpo sepultado acima.

Pagamento a jardineiros
Os túmulos são concessões privadas e é de responsabilidade das famílias sua conservação. Assim, os serviços de limpeza e conservação e reparação de muretas, carneiras e túmulos, jazigos, mausoléus e cenotáfios são de responsabilidade dos concessionários dos terrenos e/ou de seus representantes. A administração dos cemitérios municipais não cobra taxas de manutenção, conforme o Art. 37 do Ato nº 326/32 e é responsável pela conservação e limpeza das áreas comuns. Por isto, os concessionários podem contratar profissionais credenciados no SFMSP para fazer a manutenção dos túmulos. Esse serviço não pode ser prestado por funcionários municipais. A lista de profissionais cadastrados fica afixada na administração do cemitério e os profissionais listados possuem carteira de identificação expedida pelo SFMSP, com validade para do ano vigente. Caso a família possua um jardineiro, pode credenciá-lo junto ao SFMSP para poder cuidar do jazigo.