HISTÓRIA: 472 Anos de Santo Amaro 2024

Santo Amaro – da colonização à República – a história de um bairro que já foi cidade e que não deixa de lado as suas raízes

Dia 15 de janeiro de 2024, Santo Amaro celebra mais um aniversário, com uma vasta programação de eventos que compõem as celebrações que são tão caras para os santamarenses.

O primeiro ato solene é a missa em louvor a Santo Amaro, o Abade São Mauro na Catedral de Santo Amaro, celebrada pelo Bispo Diocesano Dom José Negri. E por que o ato religioso é de tradição o ponto de abertura das comemorações?

Simplesmente porque a história deste bairro que um dia foi cidade, tem na sua origem a religiosidade presente nos tempos da colonização e a adoração àquele que foi dentre outros, o protetor dos agricultores.

Embora existam divergências em relação a origem de Santo Amaro, o povoado e as possíveis datas que levariam a comemoração de 472 anos de fundação, e que levariam a presumir que o bairro que outrora foi uma cidade, tenha dois anos a mais que a cidade de São Paulo, habitualmente o mês de janeiro tornou-se referência para a celebração das festividades antes mesmo de muitos de nós, termos nascido.

Todavia, o que se faz necessário ter em mente, é o fato de que, segundo consta, o Cacique Cáa-Ubi (e os índios guaianases nômades por natureza), por não confiar em homens brancos, se afasta do aldeamento de Tubiaru (onde vivia na região de São Vicente) e segue mata adentro até chegar na região do Rio Jeribatiba, onde nasce o aldeamento de Virapuera. Mais adiante chegam os integrantes da Companhia de Jesus e dentre eles o Beato José de Anchieta.

Em Cupecê João Paes e Suzana Rodrigues, roçam as terras recebidas por sesmarias (lotes de terras distribuídos em nome do Rei de Portugal para cultivo), que eram próximas ao aldeamento de Virapuera.

Nessa época teria sido construída em 1560, uma Capela (feita de taipa e de pilão não forrada), onde o casal teria doado para colocação no altar, a imagem de Santo Amaro (trazida de Portugal), do qual eram devotos, atendendo ao pedido do Beato José de Anchieta, nascendo assim, o povoado de Santo Amaro.

Em 1586, é confirmada a existência da capela curada (título oficial dado pela igreja católica a uma vila com determinada importância econômica e populacional), permitindo assim que o povoado fosse elevado a freguesia com o nome de Santo Amaro.

E assim a região vai se desenvolvendo, de forma preponderantemente agrícola, especialmente em razão dos trabalhos desenvolvidos pelos imigrantes alemães que vieram para o Brasil, após a abolição da escravatura, e que foram assentados na região de Colônia em Parelheiros, no extremo sul da cidade de Santo Amaro.

Em 1832, durante o período de regência trina, o Imperador transforma Santo Amaro em Município, sendo o seu primeiro prefeito, o Comendador e Capitão Monarquista Manoel José de Moraes.

Em 1833 em uma das primeiras sessões do legislativo municipal, foi eleito presidente Francisco Antônio das Chagas e o parlamento composto por 7 vereadores, surgiram os pedidos de construção da Casa da Câmara, a Cadeia, o Cemitério, o Curral, o Açougue e casas do tipo moradia. Em 1837, foi inaugurada a Praça do Largo da Cadeia, pois a área abrigava a sede da Cadeia de Santo Amaro e o prédio da Câmara Municipal.

Em 1841, Francisco Antônio das Chagas fundou a primeira escola pública da região, que teve entre os alunos o seu filho Paulo Eiró. Em 1856 é inaugurado Cemitério de Santo Amaro e o seu primeiro sepultamento se deu em 05 de janeiro de 1857. Em 1866, no dia 16 de novembro o Imperador Dom Pedro II com a inauguração da via férrea, com 20 km, que ligava a cidade de São Paulo a Santo Amaro, visitou o município. Em 1895, foi fundada em 15 de dezembro de 1895 a Sociedade Beneficente Nossa Senhora da Conceição, o seu primeiro presidente foi o Tenente Coronel Carlos da Silva Araújo. Em 1897, no dia 23 de maio de 189, foi inaugurado prédio do Mercado Municipal de Santo Amaro. Em 1899, no dia 08 de dezembro de 1899, foi inaugurado o modesto prédio da Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro, cujo terreno foi doado Dona Benta Bernardina de Morais.

No século 20, Santo Amaro inicia um processo de desenvolvimento e estruturação da cidade.

Foi instalado o Grupo Escolar Paulo Eiró (1910); o trem à vapor é substituído pelo bonde elétrico (1913); é realizada a primeira Romaria de Santo Amaro até a cidade Pirapora de Bom Jesus, organizada pelo comerciante Cenerino Branco de Araújo (1920); foi concebido o Brasão de Armas de Santo Amaro mãos dos historiadores Affonso d’Escragnolle Taunay e José Wasth Rodrigues, o Brasão de Armas de Santo Amaro que tornou-se o escudo oficial da cidade em 13 de fevereiro de 1928 (1926); é inaugurado o Coreto de Santo Amaro na Praça Floriano Peixoto (antiga Praça da Cadeia ou Jardim Municipal)(1928); é inaugurado o prédio administrativo da Prefeitura de Santo Amaro (1929); é inaugurada a autoestrada de Santo Amaro em 09 de julho de 1932, com extensão de 14 quilômetros partindo da Avenida Brigadeiro Luiz Antônio até o Paço Municipal de Santo Amaro, com serviço de auto-ônibus, 05 carros com lotação de 18 pessoas (1932);

Em 10 de julho de 1932, Santo Amaro completa o centenário de fundação com a inauguração do serviço de água e esgoto municipal; com feira agrícola, exposições e várias festividades.

Neste momento, os santamarenses perfilam-se ao Movimento Constitucionalista de 1932 e lutam ao lado do Estado de São Paulo por uma Constituição, contra os atos ditatoriais de Getúlio Vargas. “Trocam a roupa de gala pelo envergar da farda, como ensinava a saudosa Professora Maria Helena Petrillo Berardi.

O ato de bravura em defesa da legalidade, custa aos “botinas amarelas”, três anos depois, em 22 de fevereiro de 1935, a perda da condição de município e a anexação do território à cidade de São Paulo. No ato de incorporação, consta um suposto plano de urbanismo da cidade, onde a região seria destinada construção de hotéis, balneários, cassinos, tornando-se um centro de recreação.

E assim, Santo Amaro, durante os anos seguintes, vai se desenvolvendo, vai progredindo na medida da sua extensão territorial, com a edificação de escolas, de universidades, de teatros, de bibliotecas, de esculturas que remetem a sua própria história, com a inauguração da Marginal Pinheiros, com a formação de um dos maiores parques industriais da América Latina e em tempos atuais com um grande polo de serviços.

Porém, o que notabiliza a região é o sentimento de amor e paixão que move os santamarenses e os “botinas amarelas”, que ainda procuram manter vivas e presentes as chamas que nos remetem as nossas origens, e a defesa intransigente das tradições, das raízes culturais e da história que nos remetem as saudosas memórias que um Santo Amaro tão caro para todos os santamarenses.

Agradecimentos,

Ao CETRASA – Centro das Tradições de Santo Amaro

Ao Diretor Gilberto Marques Bruno pela contribuição em registrar em texto a história de Santo Amaro.

   Cetrasa - Casa Do Botina Amarela - São Paulo, SP, Brazil - History Museum |  Facebook 

 

 

Dr. Gilberto Marque Bruno

Advogado especialista em Direito Empresarial, Direito Tributário, Direito Público e Direito sobre Internet e outras tecnologias, Sócio fundador de Marques Bruno Advogados Associados.

Conselheiro Deliberativo, Consultivo e Diretor do COCCID - Comitê de Civismo e Cidadania da ACSP; Diretor de Relações Institucionais do Cetrasa - Centro das Tradições de Santo Amaro.

Professor, palestrante, autor e coautor de obras jurídicas nacionais e internacionais, dentre as quais, INTERNET LEGAL - O DIREITO NA TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO – 2003 – tratando do tema virtualização do processo judicial; IPTU - Aspectos Jurídicos Relevantes – 2002 – tratando da inconstitucionalidade das alíquotas progressivas do IPTU – CONSTITUIÇÃO & DIREITOS – Estudos Contemporâneos para a Melhor Efetividade do Constitucionalismo -2020 – Os Limites do Exercício do Direito à Liberdade de Expressão no Ambiente Virtual – lançado simultaneamente no Brasil e em Portugal, bem como de e de obras sobre a história, em especial da Revolução Constitucionalista de 1932. Recebeu vários prêmios, homenagens e condecorações. (gmbruno@aasp.org.br)