Folhas do cerrado são usadas em artesanato

O grupo Flor do Cerrado é um dos melhores exemplos do bem-sucedido Projeto de Empreendedorismo Social do Sebrae no DF. O projeto foi criado para orientar e capacitar grupos de produção artesanal do Distrito Federal, na maioria compostos por donas de casa moradoras de comunidades de baixa renda.

Há menos de dois anos, 20 artesãs integram o grupo Flor do Cerrado. Elas produzem peças de decoração e, mais recentemente, de moda. As peças fazem o maior sucesso nos eventos para onde são levadas, como no eixo Rio-São Paulo. Cortinas, painéis, bolsas, estolas, blusas, saias e outras novidades inventadas praticamente a cada semana são feitas com folhas do cerrado, sisal e crochê.

O resultado é um trabalho delicado, que agrada e encanta muita gente. Quem conhece as peças, costuma surpreender-se com a beleza. A conquista de clientes sofisticados é importante, mas segundo a líder do grupo, Rose Mendes, "o melhor de tudo é estar trabalhando em equipe e gerando renda para as mulheres da nossa comunidade em Samambaia".

Responsável pela coordenação do grupo, Rose Mendes nasceu e cresceu em Samambaia, cidade-satélite do Distrito Federal. É florista há vinte anos. Começou expondo seus arranjos florais na feira da Torre de TV nos fins de semana, em Brasília. A feira da Torre é o mais antigo local de exposição de artesanato da capital federal.

Em 1987, Rose procurou o Sebrae pela primeira vez. Ela não economiza elogios à equipe da instituição. Diz que fez tantos cursos oferecidos pela instituição, que os certificados poderiam encher uma parede inteira. "Eu coloco tudo que aprendo no Sebrae na prática e não dentro de uma gaveta", diz orgulhosa e aconselhando as outras artesãs. "Jamais estaríamos onde estamos, sem o Sebrae", enfatiza.

Ao participar dos cursos do Sebrae, diz que compreendeu que era uma empreendedora. "Por isso estava sempre querendo aprender mais, renovar meus produtos, não me satisfazia nunca em ficar fazendo as mesmas coisas", explica. Tudo que ia aprendendo foi sendo repassado às suas companheiras no grupo. "Adoro ensinar", revela.

Hoje, o grupo trabalha com o processo de esqueletização das folhas. Para isso, as folhas são cozidas em um caldeirão sobre as chamas de um fogão à lenha por 18 horas. Essa técnica foi resultado de muitos anos de erros e acertos, conta. Outras formas de acabamento e design foram aprendidas com os técnicos do Sebrae, que considera como um pai, seu verdadeiro mecenas.

"É uma satisfação voltar dos eventos que o Sebrae nos leva cheia de encomendas", conta Rose. Na Fashion Rio, que aconteceu em janeiro, as peças desse grupo brilharam na sala vip. A saia preta com folhas-moeda unidas por delicadas tramas de crochê, sobre várias anáguas de filó, foi uma sensação, conta. O Flor do Cerrado voltou da capital fluminense com 300 pedidos para lojas brasileiras e de outros países, como Estados Unidos, Itália, França e Nova Zelândia.

No período de 12 a 16 de março, o Flor do Cerrado participará do evento Craft Design, no Centro de Eventos São Luis, na capital paulista. Rose diz que os clientes já estão ligando querendo saber o que estarão levando, mas será surpresa.
 
 
Questão ambiental

Uma das preocupações de Rose e do grupo é com a obtenção da matéria-prima para os produtos. A natureza é a grande fornecedora. Elas fazem questão de fazer a coleta das folhas caídas no chão do cerrado para evitar devastação e o esgotamento das plantas. "A gente só colhe o que precisa", faz questão de enfatizar. As folhas utilizadas pelas artesãs são de várias espécies, como a folha moeda, palha, pata-de-vaca, de abacate, de castanheira entre outras.

O grande sonho das artesãs do Flor do Cerrado é adquirir um terreno na região do Gama, outra cidade-satélite do DF, onde possam replantar as espécies de que necessitam para confeccionar o artesanato. Futuramente, nesse mesmo terreno, elas também pretendem estabelecer a sede do grupo, as oficinas, salas de aula, serviços de assistência médica, entre outros. "Queremos continuar crescendo, produzindo nossos produtos com qualidade, muito respeito ao meio ambiente e envolvendo mais pessoas da comunidade", afirma Rose.

Até o momento, a líder artesã diz que o grupo está estagiando. A produção mensal beira mil peças/mês. A remuneração média das artesãs está em torno de R$ 300 mensais. A produção das peças é setorizada e as integrantes do grupo são dividas de acordo com os tipos de técnicas e tarefas, tais como o crochê, bolsas, borboletas, estolas, painéis, etc. Todas trabalham em suas casas e somente a finalização é feita na casa de Rose.

Perguntada sobre o futuro, ela responde, que o grupo Flor do Cerrado deverá se transformar numa empresa, de preferência uma média empresa. Seu marido e filhos já foram envolvidos com o trabalho do grupo e ajudam Rose e suas companheiras na administração e comercialização dos produtos.
 
 
Os próximos passos
 
O interesse da Organização Internacional do Trabalho (OIT) pelo Projeto de Empreendedorismo Social do Sebrae/DF vai levar Rose à África no segundo semestre deste ano. Uma comitiva da OIT visitou o Sebrae/DF para conhecer melhor a metodologia aplicada no projeto. A idéia é levar a experiência para as comunidades africanas e o exemplo do grupo Flor do Cerrado foi escolhido para ilustrar os resultados do projeto.

Rose conta que o designer Renato Imbroisi, um dos consultores de design do grupo e de outros núcleos de produção, além de grande incentivador das artesãs, já está em Moçambique. "Fico feliz com essa oportunidade, pois sei que eles têm muita coisa para oferecer e vamos trocar conhecimentos, técnicas e experiências", diz Rose entusiasmada.

Ela também tem quase certeza de que muitas das folhas encontradas no cerrado brasileiro e utilizadas no trabalho do grupo devem existir por lá. Afinal, o cerrado é também uma espécie de savana.


Fonte: Agência Sebrae