Papagaios fazem a já tradicional visita outonal à Subprefeitura de Itaquera

Nos últimos anos, sempre no outono, a Subprefeitura Itaquera tem recebido em sua sede a visita de convidados inusitados. São papagaios da espécie amazona-aestiva, o popular loro ou papagaio verdadeiro, que não é comum de ser avistado em metrópoles como São Paulo. Este ano não foi diferente e os animais aparecem pela manhã e no final da tarde comer sementes de santa bárbara, árvore que frutifica nesta estação.

 

Os grupos chegam a ser compostos por até 30 aves, como ocorreu em 2009. Neste ano, nos dias mais carregados foram contados cerca de 20 pássaros. Os servidores, mesmo já acostumados com o espetáculo, ainda dão uma paradinha no final da tarde para observá-los, como conta Ademir Corrêa, funcionário da Defesa Civil. “É legal parar cinco minutinhos para dar uma olhada neles, são muito bonitos”, confessa.

 

Os papagaios verdadeiros são observados na cidade desde o início dos anos 90, porém hoje com mais freqüência e há registros de reprodução em diversos parques e espaços arborizados, como o Parque do Carmo, Parque Ibirapuera e a Cidade Universitária, e até em áreas residenciais. De acordo com Anelisa Magalhães, bióloga da Divisão de Fauna Silvestre da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente (SVMA), a ocorrência original da espécie, no entanto, não inclui a cidade de São Paulo. “Dizem que a espécie surgiu por aqui como resultado de escapes de cativeiro, ou também devido à supressão da vegetação original”, afirma.

 

Segundo a bióloga Martha Argel, doutora em ecologia de aves e autora do livro Aves Urbanas, os exemplares avistados na sede da Subprefeitura Itaquera podem ser de uma segunda geração. “Aparentemente, a espécie agora está se reproduzindo na cidade, e parte das aves avistadas pode ter nascido aqui”, conta. “Pela minha experiência, esses animais não estão restritos a áreas verdes, pois se deslocam por cima de bairros, e muitas vezes pousam em bairros mais arborizados para se alimentarem ou descansarem”, acrescenta.

 

Sua sobrevivência depende das áreas verdes, pois é lá que encontram melhores condições para pernoite, alimentação e reprodução. Desde 2005 já foram implantados 33 novos parques em São Paulo, somando 67 parques municipais. Nos últimos cinco anos a cidade passou de 15 milhões de m² de áreas protegidas para 24 milhões de m². O plantio anual de árvores era de 25 mil antes de 2005 e passou para 200 mil novas mudas em 2009. Em 2012 a cidade de São Paulo chegará ao número de 100 parques municipais. Prova de que a fauna está cada vez mais surpreendente em São Paulo é que no mês passado, a Secretaria do Verde divulgou o Inventário Faunístico da cidade, revelando que mais de 700 espécies selvagens vivem na zona metropolitana.

 

No mundo todo o papagaio verdadeiro é uma das aves mais procuradas como animal de estimação, e por culpa do comércio ilegal é cada vez mais difícil vê-la na natureza. “É importante insistir para que caso encontrem ninhos, as pessoas evitem pegar e comprar filhotes de papagaio e de outras espécies também. Um papagaio que voa livre é de todos, e muita gente pode se maravilhar com sua presença”, alerta Martha Argel.

 

Estes bichos são mais comuns de serem avistados em pares do que em bandos, e não devem ser confundidos com as maritacas, que tem plumagem verde e fazem barulho quase que ininterruptamente. O papagaio verdadeiro se comunica apenas durante o vôo, ficando o resto do tempo em silêncio. Atualmente, além dos parques, estes animais podem ser vistos ou ouvidos em bairros residenciais como Itaquera, Ipiranga e Pacaembu.