Histórias... Nossas Histórias - Estrada das Lágrimas, quantas saudades tenho de você

Bansi é saudoso ao tratar da Estrada das Lágrimas

Quem viveu nos anos 50, 60 e 70 na região do Sacomã, no Ipiranga, certamente assim como eu, terá muitas saudades da Estrada das Lágrimas. Ela era a antiga Estrada do Mar, começava no Sacomã, junto com o início da Via Anchieta e ia dividindo uma área residencial, com uma área com 23 campos de futebol de várzea, mamonais, frutas silvestres, bicas d'água e até algumas pequenas lagoas, onde a molecada da época deu os primeiros mergulhos.

Em seu início, do outro lado, na Via Anchieta, havia um grande lago e ao lado do mesmo tinha um "castelo". É isto mesmo, um verdadeiro castelo em estilo europeu, de propriedade da família Samarone, este castelo deveria ter sido preservado e se transformado em um museu, pois era um cartão postal do bairro.

Descendo um pouquinho, na altura do número 500, havia uma grande figueira, onde os familiares dos viajantes se despediam de seus familiares que iriam viajar, sob as sombras desta figueira, havia muita choradeira e daí esta árvore passou a ser chamada de "Árvore das Lágrimas" e a estrada de "Estrada das Lágrimas", apesar desta árvore ter sido tombada pelo patrimônio público, ela ficou totalmente abandonada. Lembro-me de que, quando criança, ia a pé da Rua Marechal Pimentel, onde morava no numero 508 - fundos, e sempre parava nesta árvore e lia a placa comemorativa instalada no local, que falava sobre a despedida das pessoas.

Nasci no Sacomã em 1952 e morei lá até 1979, quando me casei e mudei-me para Osasco, mas tenho ainda muito vínculo com esta região. Há uns anos fiquei um pouco chateado, pois resolvi ir até este monumento para tirar uma foto da placa com sua inscrição, a placa havia sido furtada e a árvore estava totalmente abandonada, infelizmente não cuidam de nosso patrimônio.

Mas tudo bem, continuemos, caminhando um pouco mais, do lado esquerdo vinha a área onde havia muito verde e 23 campos de futebol de várzea, e de cara a “biquinha”, mina de água natural, que brotava do barranco, e era cuidada pelos moradores, que fizeram o acesso para poder pegar a Água com garrafões e ou grandes panelas. Todos os moradores da região utilizavam esta água para beber, pois era de grande qualidade. Quando faltava água no bairro a fila para a obtenção deste sagrado produto era enorme.

Por falar em sagrado, mais uns 200 metros à frente, na esquina com a Rua Marechal Pimentel, temos a Paróquia de Santa Edwiges, na época uma pequena capela, hoje bem grande e muito procurada todo o dia 16, e principalmente em 16 de outubro. Santa Edwiges é a padroeira dos endividados.

Um pouco à frente, na esquerda, começavam os campos de futebol, o primeiro era o do Flamengo do Moinho Velho, à sua esquerda, o do A.A. Portuguesa do Sacomã, famosa “Portuguesinha”, time que acompanhei desde criancinha, pois meu pai me levava para ver os seus jogos e depois participei também no juvenil e no principal. Organizamos bailes e lá conheci minha esposa.

Que saudades de você, Portuguesinha do Sacomã.

*Texto publicado originalmente em "São Paulo minha cidade"