Saudade... minha terra

Adelino Gonçalves

Mesmo após 64 anos no Brasil, o sotaque da língua nativa ainda é muito presente. Adelino Lopes Gonçalves, o Major, saiu de Braga para não servir ao exército português, um paradoxo que seu apelido na nova terra fosse Major, dado pelos colegas de trabalho, tamanha sua rigidez. Chegou no Ipiranga após 11 dias dentro de um navio, aos 18 anos, e após pouco tempo como padeiro, passou a trabalhar no setor de transportes.

“Eu ajudei a desenhar o itinerário dos ônibus do Ipiranga, passavam bondes na rua Silva Bueno, e mais nada. A empresa era na rua Arcipreste de Andrade, passou para a rua Xavier de Almeida. Me lembro que após a implantação das linhas, por muitas noites, em que a Av. do Estado ficava alagada, e eu ia até lá para rebocar os ônibus, cheios de passageiros, que ficavam ilhados após a chuva”.

“Portugal é muito bom, tenho meus seis irmãos lá, a saúde e a segurança são excelentes, mas é bom para passar um tempo, depois me dá saudade de voltar. Minha vida foi em São Paulo e eu sempre tentei ajudar o bairro, mesmo quando trabalhava com os ônibus, pois quando chegava o ônibus, chegava água, luz, escola, tudo a partir do ônibus. Por exemplo, o Sacomã era um brejo, ficava inundando, mas hoje está bonito”.

Portugal, Ipiranga e transportes coletivos... a vida do Major que nunca foi ao exército se confunde com estas três palavras. Com mais tempo no Ipiranga do que em Portugal, Adelino é mais um dentre os tantos que deixaram sua terra para ajudar a construir um mundo novo.