Coleção, acumulação e... bagunça

O que a Subprefeitura tem a ver com isso?

 As três coisas podem ter até alguma semelhança, mas é nas diferenças que podemos separar a doença, do hobby e da falta de organização ou preguiça.
O colecionador pesquisa, organiza, cuida e tem prazer em expor seus objetos de interesse. A bagunça é fruto da falta de tempo, de organização, preguiça ou disciplina, mas a acumulação vai muito além. Esse último caso, é doença que pode se caracterizar de diversas maneiras. Há quem acumule objetos enquanto outros recolhem animais, mesmo não tendo espaço ou condição de cuidar deles. Pesquisas indicam que os acumuladores compulsivos representam 4% da população mundial.
Inúmeros fatores podem desencadear o problema. O tratamento é multidisciplinar e cada caso merece atenção especial. Muitas pessoas juntam esses objetos porque acreditam que em algum momento serão úteis. Resultado: transformam suas casas em verdadeiros depósitos de lixo, trazendo enorme prejuízo emocional, social, financeiro, físico e legal para elas mesmas, para a família e vizinhos.
Há casos, entretanto, que pode parecer vício em compras, mas na prática é pura acumulação. O comprador doente muitas vezes apenas compra, não tira das embalagens ou sequer usa adquire. Para identificar os sintomas, é preciso observar o estado emocional desta pessoa. O doente normalmente apresenta fragilidade, insegurança, carência, ansiedade, medo, arrependimento, depressão e frustração. Este comportamento se manifesta geralmente em quem tem o famoso TOC (transtorno obsessivo compulsivo que consiste em repetir uma ação várias vezes) e pode vir associado à Depressão. A maioria dos estudos mostra que 24% dos portadores de TOC possuem a doença do acumulador.
O trabalho das equipes de saúde e assistência social é conjunto, mas depende muito da colaboração da família, vizinhos e do próprio paciente. Retirar qualquer coisa da casa de um acumulador pode significar uma violência contra ele. Tudo precisa ser conversado e negociado antes de uma ação mais drástica.
Além disso, a simples limpeza da casa de um acumulador não significa que ele vá deixar de recolher coisas pela rua e manter a casa limpa. Ele pode simplesmente reiniciar o processo de acumulação
Durante o encontro do CRASA - Comitê Regional de Atenção às Pessoas em Situação de Acumulação - foi relatado o caso da senhora X que já em sendo acompanhado há muito tempo sem uma solução. De acordo com assistente social, do lado de fora da casa, é impossível o que se passa naquele endereço. A casa está arrumada e a moradora também se mantém limpa. A surpresa acontece quando se chega ao quintal o há lixo até compactado pelo tempo. Como remover todo aquele entulho? Esse é o grande desafio enfrentado pela equipe. De um lado, a necessidade de limpeza é inquestionável. De outro, a moradora poderia apresentar uma piora do quadro se não houver um acordo entre as partes. Para o comitê, embora exista um fluxo definido para adoção de medidas práticas, ele não tem se mostrado eficaz porque não estabelece um limite para que medidas legais possam ser adotadas a fim de garantir não só a integridade da pessoa doente, mas a saúde e segurança dos que vivem em seu entorno.
O CRASA se reúne mensalmente e a pauta do próximo encontro já está definida: o fluxo de atendimento deverá ser repensado para ter eficácia.