Poty Poran trabalha pela harmonia entre saúde e tradição na UBS Indígena Aldeia Jaraguá

Descendente do fundador das aldeias da terra indígena Jaraguá, ela é gestora da UBS local, que conta com Equipe Multidisciplinar de Atenção Básica à Saúde Indígena para atender às especificidades da cultura guarani

Há dois anos, Poty Poran Turiba Carlos fez uma transição importante em sua vida profissional: deixou para trás os 20 anos como professora e diretora em escolas indígenas da capital para tornar-se gestora da Unidade Básica de Saúde Indígena (UBSI) Aldeia Jaraguá Kwarãy Djekupé, na zona norte.

A pedagoga, de 45 anos, é da etnia guarani-mbya, grupo étnico ao qual pertencem os indígenas aldeados na cidade de São Paulo. Neta do fundador das aldeias localizadas no Jaraguá, Poty havia passado os oito anos anteriores com os três filhos em outra terra indígena, a Tenondé Porã, na zona sul da capital. Voltou ao Jaraguá para ficar próxima do restante da família durante a pandemia de Covid- 19, e foi então que concorreu à vaga de gestora da UBSI local e assumiu o posto.

A foto mostra a personagem Poty Poran, uma mulher indígena com cabelos enrolados, sorrindo. Ela usa ainda colar e brincos de miçangas nas cores azul e amarelo
Poty na unidade de saúde localizada no território indígena do Jaraguá (Foto: Acervo SMS)

A UBSI Kwarãy Djekupé atende uma população estimada em 719 pessoas nas seis aldeias da terra indígena Jaraguá. Seguindo as diretrizes estabelecidas pela Área Técnica de Saúde da População Indígena, a unidade conta com uma Equipe Multidisciplinar de Atenção Básica à Saúde Indígena (EMSI), formada por 27 profissionais. Destes, 18 são indígenas, em todos os tipos de função e níveis educacionais (ensino superior, nível técnico, ensino médio).

Poty diz que a presença deles na equipe, incluindo uma pessoa dedicada exclusivamente à interlocução com as aldeias, permite que a própria UBSI cumpra seu papel, uma vez que, ao mesmo tempo em que é função dos profissionais de saúde diagnosticar e tratar as doenças que acometem a comunidade, também é essencial que cultura e tradição locais sejam compreendidas. “O respeito às crenças e à autoridade indígena é fundamental”, frisa a gestora.

Agentes indígenas identificam a demanda
Nas aldeias, muitas das crianças em idade pré-escolar e idosos só falam a língua guarani-mbya. “Por isso, o trabalho dos agentes indígenas de saúde é essencial para detectar e encaminhar casos que precisam de atendimento”, explica Poty, que também cumpre o papel de mediar demandas decorrentes da tradição Guarani em outros equipamentos de saúde da região, como hospital e Centro de Atendimento Psicossocial (Caps).

Um jovem indígena que sofria de esquizofrenia foi um dos casos que a gestora encaminhou. “Em uma madrugada, no meio a uma crise, o rapaz jogou pedras na janela da unidade, como morava muito perto, cheguei a tempo e ajudei a socorrê-lo”, conta. Toda vez que tinha as crises, era na UBSI de referência que ele batia, quase sempre de forma agressiva. Foi aí que o paciente de 25 anos de idade recebeu o acolhimento. “Atualmente ele faz tratamento com a medicação de alto custo e, com o apoio de toda equipe da UBSI e do Caps, as crises diminuíram significativamente. Isso vai ficar sempre marcado na minha trajetória”, emociona-se.

A foto mostra desfile realizado no Dia da Beleza Indígena; na passarela está uma mulher indígena usando cocar e um vestido amarelo
O desfile dos moradores da aldeia é tradição anual no evento Beleza Indígena (Foto: Acervo SMS)

Q+
Quando não está na UBSI, Poty gosta de ficar em casa com os filhos, Kuaray Vinicius, de 16 anos, Jera Áurea, de 13, e Hendy Nayra, 5. Outras coisas que aprecia são os rituais coletivos como as rezas, que acontecem diariamente em todas as aldeias, os festejos religiosos e celebrações da cultura Guarani como o Dia da Beleza Indígena, realizado há nove anos na aldeia.