Hospital municipal usa até videogame para diminuir traumas em crianças e bebês na capital

Cerca de 3,1 mil atendimentos foram realizados nos últimos três anos

Músicas, desenhos na parede e até videogame podem ser instrumentos poderosos para a recuperação de pacientes pediátricos internados no Hospital Municipal Dr. Gilson de Cássia Marques de Carvalho – Vila Santa Catarina, em São Paulo. O atendimento humanizado é parte do tratamento dado às crianças e aos bebês no hospital que integra a rede municipal de saúde e é administrado pela Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Entre janeiro de 2019 e setembro de 2022 foram 1.043 atendimentos nas unidades de terapia intensiva (UTIs) e 2.109 nas enfermarias pediátricas. O objetivo é melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir a possibilidade de traumas.

Esse foi o caso de Sheila Alves da Silva Vilaça, 41 anos, técnica em radiologia e moradora do Jabaquara, na zona sul da capital, que passou dez meses entre idas e vindas diárias cuidando de Heitor, o filho recém-nascido. Após uma gravidez de risco, ele nasceu aos sete meses de gestação e teve um longo caminho até a alta. “O pulmão dele era extremamente ruim, teve que ficar seis meses intubado e, além disso, passou por traqueostomia e gastrotomia, para poder se alimentar. Foi um período muito difícil da minha vida, mas muito amenizado e apoiado pelo tratamento humanizado das equipes médicas do hospital, que fizeram toda diferença nesse processo”, conta. “Mal conseguia pegar Heitor no colo, passamos por muitas dificuldades, ele quase morreu, mas eu percebia que esse tipo de atendimento dava mais força para meu menino. No momento do canguru [terapia que coloca a pele do bebê em contato com a dos pais, em um abraço], com música, por exemplo, eu sentia que ele tinha mais vontade de viver, de lutar”, acrescenta Sheila.

De acordo com Bianca Zólio, fisioterapeuta sênior responsável pelo setor materno-infantil do hospital Vila Santa Catarina, esse olhar humanizado no atendimento vem desde 2015, foi padronizado em 2019 e visa complementar as terapias convencionais. “A UTI é um ambiente muito frio, onde principalmente as crianças têm medo de estar e os pais também ficam receosos. Por isso, pensamos nesses processos para minimizar esses sentimentos e dores, acolhendo desde a chegada ao hospital, até o ambiente físico, com papeis de parede divertidos, estimulando que façam desenhos da família para colocarem no leito e levarem os brinquedos de preferência. Conseguimos televisão e videogame, com os quais o trabalho é feito de maneira interativa, complementando a terapia motora, mexendo os braços e jogando bola, por exemplo. Com muito tempo de internação, a criança perde a força muscular e a coordenação motora. Nosso objetivo é dar alta com todas as funções preservadas. Cada cuidado é individualizado e fazemos a terapia de acordo com o que a criança gosta. Quando uma delas não consegue ficar em pé, por exemplo, descobrimos se ela gosta de desenhar e colocamos alguns desenhos na parede para pintar. É diversão e terapia ao mesmo tempo”, explica Bianca.

Para superar os estímulos dolorosos recebidos com agulhas e procedimentos invasivos, a iniciativa visa proporcionar também estímulos prazerosos. “No momento da música, não fazemos mais nada, pois a criança e até o bebê pode associar a dor ao momento e aumentar o trauma. A criança tem uma memória afetiva bem importante de dor, por isso temos que ficar atentos aos pequenos detalhes e dar a maior qualidade de vida possível para elas. Os pais também participam dos cuidados e das terapias, isso aumenta o vínculo deles com os filhos e, quando adotamos essas terapias alternativas humanizadas e integradas, percebemos que as crianças estão se recuperando até mais rápido”, complementa a fisioterapeuta.

Além de todos os benefícios, essa iniciativa transformou o olhar dos profissionais. “As equipes têm mais vontade de trabalhar, pois o ambiente está mais gostoso, mais calmo e muito produtivo. Todos saímos ganhando”, conclui Bianca.