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Domingo, 7 de Março de 2021 | Horário: 09:30

Determinada e batalhadora, Rosália simboliza a luta da mulher brasileira

A auxiliar de limpeza que vendia carvão com a mãe na infância hoje comemora, orgulhosa, a conquista da casa própria

Nesta segunda-feira, 8 de março, é celebrado o Dia Internacional da Mulher, uma data mais de luta do que de comemoração. E luta é justamente o que define a vida de Rosália Souza de Almeida, 53 anos, que batalha para conquistar seus sonhos em um país ainda mais desigual para as mulheres.

Auxiliar de limpeza na Unidade Básica de Saúde (UBS) República há sete anos, nasceu em Fortaleza, Ceará, e logo cedo teve que começar a ajudar a família a sobreviver. Durante a infância, vendia carvão junto com a mãe, uma das fontes de renda possíveis na época. Os quatro irmãos vendiam picolé na rua e as duas irmãs, bananas, que a família mesmo plantava. Rosália conta que, junto com suas irmãs, cantava músicas na janela da casa para atrair as pessoas e vender as bananas. “Não me esqueço disso, lembro como se fosse hoje.” Aos 9 anos de idade, em 1977, veio para São Paulo, depois de seu pai - que já havia se mudado para a capital em busca de trabalho - conseguir pagar a viagem para o restante da família.

Como tinha que trabalhar para contribuir com as despesas em casa, Rosália não pôde completar sua educação formal e estudou somente até o 5º ano do ensino fundamental. A partir dos 18 anos de idade começou a trabalhar em diversos lugares. Foi balconista, trabalhou na indústria têxtil e foi arrematadeira (profissional que auxilia na confecção de roupas e fica responsável por todos os trabalhos manuais como pregar botões e colchetes, bordar, fazer bainhas, tirar alinhavos etc.), um emprego em que permaneceu dez anos por necessidade, mas do qual não se lembra com carinho. “Era um trabalho muito pesado, até hoje tenho marcas nas mãos das tesouras e linhas de costura.”

Foto de Rosália com as irmãs Rosilãn e Rosângela no Natal de 2020. Elas estão com gorro de Papai Noel e todas usam máscara

Da esquerda para a direita: Rosália, com as irmãs Rosilãn e Rosângela, no Natal de 2020 (Fotos: Arquivo Pessoal)

 

Depois passou três meses desempregada, fazendo pequenos trabalhos para sobreviver, até conhecer a Guima, empresa de limpeza que presta serviços para a Prefeitura de São Paulo. “Tive que ir até a UBS República para fazer uma consulta em 2013 e foi nesse dia que vi algumas funcionárias da limpeza com o uniforme da Guima. Nesse momento, tive um estalo, estava desesperada por um emprego. Fui conversar com uma das mulheres, ela me explicou quais eram as funções do trabalho e no mesmo mês fiz o teste, passei e comecei a trabalhar na UBS. Foi uma das melhores escolhas que eu fiz na minha vida”, afirma.

Para ela, conseguir esse emprego foi uma grande conquista porque pôde proporcionar um pouco de estabilidade para a família e ajudar sua mãe a pagar as prestações do apartamento dela. Além disso, deu início à compra da casa própria junto com a irmã caçula Rosilãn Souza Almeida. Agora elas batalham, juntas, para pagar as prestações do financiamento. “Minha mãe morreu há cinco anos e foi uma perda enorme para mim, tínhamos uma forte relação. Quero realizar este sonho da casa própria por mim, pela minha irmã e por ela, que com certeza ficaria muito feliz e orgulhosa.”

Em 2018, ela e as irmãs conseguiram voltar a Fortaleza, após 41 anos. Lá reencontraram parte dos parentes e se sentiram próximas da mãe novamente. “Foi uma viagem muito especial, inesquecível”, lembra. Ela diz que sonha ainda em ajudar Rosilãn, com quem mora, a tirar carteira de habilitação, comprar um carro e, no futuro, voltar para Fortaleza novamente, para passar mais tempo com a família.

Foto de Rosália sendo vacinada. Ela está de toca e máscara de proteção e uma profissional da saúde aplica a vacina em seu braço

A auxiliar de limpeza sendo vacinada contra a Covid-19: "Nunca senti tanta gratidão na minha vida"

 

No que depender de sua garra, os sonhos estão garantidos. Já vacinada, diz estar ainda mais motivada. “Tomar a vacina foi um momento inesquecível, nunca senti tanta gratidão na minha vida. Ver os meus colegas sendo imunizados me deu mais gás para continuar a trabalhar nesta pandemia”, afirma. Segundo ela, 2020 foi um dos anos mais desafiadores de sua carreira já que os profissionais de limpeza são cruciais para combater a Covid-19. “Tivemos que trabalhar com mais dedicação e cuidado do que nunca para ajudar a diminuir as taxas de contaminação. Sei que meu trabalho é importante, especialmente neste momento”, pontua.

Fã de forró desde criança, Rosália diz que o que mais gosta é de poder estar em casa, com a família, dançando e tomando cerveja. Antes da pandemia, ela também amava ir a praias com a irmã Rosilãn para descansar e aproveitar o mar. Além disso, conta que no final do ano e no Carnaval, também antes das restrições impostas pelo novo coronavírus, gostava de alugar um sítio com a família para festejar. Consciente, ela espera o fim da pandemia para retomar as viagens e celebrações, principalmente sair para curtir um bom arrasta-pé.

 

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