Confiança une enfermeira e idosa após receberem primeira dose da vacina

Maria Eliana venceu a covid-19 após longa internação; já Élide comemora poder retomar aos poucos a antiga rotina

Entre os primeiros profissionais de saúde vacinados no início da campanha de vacinação contra a covid-19 na rede municipal, nesta terça-feira (19), a enfermeira Maria Eliana Bonviccini Quiaratti, 57 anos, é uma sobrevivente da covid-19.

No dia 19 de maio, ela foi internada no Hospital Municipal Dr. José Soares Hungria, em Pirituba, onde trabalha. Foram 27 dias de internação, 17 na UTI, sendo 14 deles intubada. No dia 16 de junho, Maria Eliana teve alta, mas foram necessários outros 28 dias em casa, antes de voltar a trabalhar. “Eles estavam precisando da gente”, relembra.

A enfermeira revela que trabalhar no início da pandemia foi muito difícil. “Depois, na medida do possível, a gente trabalha um pouco mais tranquilamente, se Deus quiser com a vacina vai melhorar ainda mais.”

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Após receber a primeira dose, ela declarou: “Para mim, essa vacina é vital. Eu tive covid de forma grave. Vi meus colegas terem, muitos morrerem. Vi meus vizinhos, amigos e familiares em estado grave. Hoje agradeço a Deus pela oportunidade. Eu não perdi a vida, não perdi parentes, mas oito, nove amigos e colegas aqui do hospital, dois auxiliares de enfermagem do meu plantão... Além de perder um amigo, tive que apagar seus nomes da escala. Imagina a dor.”

Emocionada, a enfermeira conta que ao retornar ao hospital, o lado lógico trabalhava, mas o emocional estava muito mudado. Maria Eliana diz que tudo muda depois de passar pela covid-19.

“Acredite na covid, ela existe! Nós vivenciamos isso todos os dias, todos os dias dia vejo muitos irem embora... Gente jovem também, não só grupo de risco. Então, o que a gente pede é que as pessoas usem máscara, lavem as mãos, tomem os cuidados que a gente está cansado de ouvir. Eu sou prova disso”, resume.

Uma enfermeira aplica a vacina no braço esquerdo de Maria Eliana, que olha para o lado. Atrás dela, algumas pessoas acompanham o momento

“Para mim, essa vacina é vital", disse a enfermeira Maria Eliana após receber a primeira dose (Foto: Edson Hatakeyama)

 

Élide Merlini, de 76 anos, foi a primeira idosa a receber uma dose da vacina do Butantan nesta terça-feira (19). Ela é moradora do ILPI (Instituição de Longa Permanência para Idosos) – Pinheiros há quatro anos e se mostrou bastante confiante em poder recuperar sua antiga rotina na companhia dos amigos e familiares.

“Gosto de passear e nem isso estava dando para fazer. Agora vai dar para passear e aos poucos voltar a ter a vida que eu tinha”, disse. Élide é bisavó e gosta de cozinhar. Conta que é craque em preparar nhoque de mandioca, carne assada e costelinha de porco. Vaidosa, gosta de estar bem arrumada, com vestido e o cabelo preso.

Élide está sentada numa cadeira logo depois de tomar a vacina. Ela usa um vestido estampado. Do lado direito está a enfermeira que aplicou a dose e do lado esquerdo aparece o secretário da Saúde, Edson Aparecido. Ao fundo há um painel com flores rosa

Moradora da Instituição de Longa Permanência para Idosos - Pinheiros, Élide foi a primeira idosa a receber a vacina (Foto: Edson Hatakeyama)

 

Missão especial
Mas a emoção não é só de quem é vacinado. Cristiano Povijan, 48 anos, motorista que transportou as vacinas para o Centro de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) falou sobre a missão especial.

“É uma sensação inexplicável. É muita adrenalina. É bom demais! Na semana passada eu recebi as informações de que iria carregar. E no momento foi assustador porque é uma carga muito importante”, afirma.

O motorista Cristiano aparece em primeiro plano. Ele tem cabelo grisalho, usa camisa azul e máscara preta. Atrás dele está o caminhão que transportou as doses, estacionado em um pátio

Cristiano ficou assustado quando soube que transportaria a carga de vacinas: muita adrenalina (Foto: Alexandre Moreira)

 

Ele conta que há pouco tempo perdeu um amigo que era muito próximo para a covid-19. “As pessoas só valorizam quando perdem um ente querido. Porque as pessoas, infelizmente, não estão levando a sério.”

Cristiano também comenta que participar deste processo de vacinação é importante. “O SUS está se dedicando bastante para nós”.