Capital Paulista tem queda inédita de casos de HIV

A cidade nunca havia registrado redução das notificações do vírus por dois anos consecutivos

Por Thiago Pássaro

A cidade de São Paulo registrou um feito inédito na luta contra o HIV no município. A capital paulista teve uma queda no número de casos de HIV por dois anos consecutivos, o que nunca ocorreu desde que o levantamento começou a ser realizado há 36 anos, em 1983. Em 2018 foram notificados 3.145 casos de HIV contra 3.826 notificações em 2017, uma queda de 17,8%. A queda de 2016 para 2017 foi de 1,4%. Antes disso, o número de casos só havia registrado quedas isoladas em 2004 e mais tarde em 2006.

As informações sobre o registro de casos são divulgadas tradicionalmente na semana em que se comemora o Dia Mundial de Luta contra a Aids, no próximo domingo (1º/12), data que marca também o início do Dezembro Vermelho, criado para dar visibilidade e aumentar a consciência das pessoas sobre a necessidade de proteção contra o HIV.

“Os dados registrados mostram que estamos numa tendência de redução de infecções pelo HIV, em razão de ações ampliadas de prevenção, como PrEP [Profilaxia Pré-Exposição], PEP [Profilaxia Pós-Exposição], camisinhas dispensadas em locais de grande circulação e o início precoce do tratamento das pessoas diagnosticadas”, afirmou Cristina Abbate, coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids (PM DST/Aids), órgão da SMS. “Mas ainda temos um grande caminho a percorrer, por isso o trabalho deve se manter intenso, principalmente junto às populações mais vulneráveis¨, completou.

A queda não alterou o perfil geral da epidemia de HIV na cidade São Paulo. Os homens continuam sendo a grande maioria dos novos casos (82%) e os jovens de 15 a 29 anos concentram 49,3% das notificações. A via sexual segue sendo a principal forma de infecção pelo HIV, como a origem de 88,8% dos casos de 2018. Do total de notificações entre homens, 70,3% se declaram homossexuais e 18,6,% heterossexuais.

A razão de sexo em 2018 foi de 5 casos de HIV em homens para cada caso notificado em mulher. Entre os casos registrados em homens, 60,9% tem 12 anos ou mais de estudo. Entre as mulheres esse número é de 37,2%.

A região do Centro da cidade, apesar de manter a taxa de detecção mais alta, apresentou a maior queda: foram 137,3 casos para cada 100 mil habitantes em 2017; esse número foi de 87 em 2018. Nos dados deste ano, a região Oeste ficou com a segunda maior taxa (26,4 casos por 100 mil habitantes) e a região Leste apresentou a menor (21,6). As regiões Sudeste, Sul e Norte tiveram taxas muito próximas, respectivamente 24,6, 24,5 e 24,2.

Casos de Aids

O número de notificações de novos casos de aids, a doença causada pelo HIV, também teve redução significativa, mantendo a trajetória de queda iniciada em 2014. Foram 1.543 casos registrados da doença na cidade em 2018, 12,6% a menos do que 2017.

Em 2018, homens representaram 80,2% dos novos casos de aids, e 35,6% das notificações foram em pessoas com idades entre 25 e 34 anos. A razão de sexo para aids em 2018 foi de 4 casos em homens para cada caso notificado em mulher. E 50,9% dos casos notificados em homens tinham 12 anos ou mais de estudo, enquanto entre as mulheres essa proporção foi de 32,5%.

A taxa de mortalidade também caiu pelo quarto ano consecutivo, com 4,1 mortes registradas para cada 100 mil habitantes, o que representa uma redução de 48,75% em relação à taxa de mortalidade de 2014, que foi de 8,0.

Estes resultados expressivos somam-se à conquista da certificação de eliminação da transmissão vertical (da mãe para bebê) do HIV, (https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/noticias/?p=288178), fatos que reforçam a efetividade das ações desenvolvidas e o compromisso da Prefeitura de São Paulo com o combate ao avanço do HIV.

População Negra

As pessoas que se declaram como pretas (de acordo com a classificação utilizada pelo IBGE) possuíram em 2018, em média, uma taxa de detecção, calculada para cada 100 mil habitantes, tanto para HIV como para aids de cerca de 3 vezes maior que aqueles que se declaram brancos. Considerando apenas as mulheres, essa relação aumenta para cerca de 4 vezes. A taxa de mortalidade, por 100 mil habitantes, com recorte raça/cor é 4 vezes maior entre mulheres pretas em relação às mulheres brancas e 2 vezes maior entre homens pretos em relação aos brancos.

Meta 90-90-90

Em junho de 2018, o prefeito Bruno Covas assinou documento confirmando o compromisso da cidade de São Paulo com a Meta 90-90-90, uma iniciativa do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) que visa eliminar a epidemia de Aids no mundo.

O objetivo é, até 2020, ter 90% das pessoas vivendo com HIV diagnosticadas, 90% destas em tratamento, e 90% das pessoas em tratamento com carga viral indetectável (quantidade bem baixa de vírus no organismo e que, após seis meses nessa condição, o HIV se torna intransmissível nas relações sexuais).

A Rede Municipal Especializada em DST/Aids, composta por 26 serviços de saúde, possui atualmente 46.500 pessoas vivendo com HIV ou aids em seguimento.