Saúde alerta sobre prevenção ao suicídio

Há muitas razões para discutir o tema, neste 10/9, a principal é que tratamento e atenção podem evitar a perda, sem sentido, de vidas

Por Bruno Kleiman 

O dia 10 de setembro marca a data internacional de prevenção ao suicídio, e por conta disso o mês foi escolhido para uma campanha nacional com objetivo de conscientizar a população sobre o problema. O Setembro Amarelo é organizado pelo Ministério da Saúde desde 2015 e a cor foi escolhida por representar simbolicamente a luz, a alegria e a vida. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade de 15 a 29 anos.

Todos os anos cerca de 800 mil pessoas tiram a própria vida ao redor do mundo. No Brasil houve, em média, um caso de suicídio a cada 46 minutos em 2016, segundo o Ministério da Saúde. Muitas destas tragédias poderiam ser evitadas com o apoio de profissionais de saúde mental. “Quando uma pessoa fala que quer sair do próprio corpo e não quer mais viver ela está perdendo o sentido da vida, e para resgatar isso só com a ajuda de profissionais qualificados”, explica a psicóloga Marisa de Mello, coordenadora da Comissão Interna de Saúde Mental do Hospital Municipal Doutor Arthur Ribeiro de Saboya.

Um dos empecilhos na prevenção ao suicídio é o estigma em relação ao tema, que pode impedir a procura por ajuda. Esforços como o Setembro Amarelo contribuem parar tirar esse status de tabu, trazendo mais luz, como é o mote da campanha, a debates sobre saúde mental. O apoio de pessoas próximas também é essencial. Quando um parente ou amigo apresenta sinais de isolamento, tristeza excessiva e indisposição é importante oferecer ajuda e se mostrar presente, além de sugerir que procure auxílio profissional. Essa pessoa talvez esteja sofrendo de depressão, uma enfermidade que, em casos mais graves, pode levar ao suicídio.

É importante ressaltar que a depressão é uma doença clinicamente comprovada, não um caso de falta de religião ou “do que fazer”, como pensam alguns. A síndrome está listada na Classificação Internacional de Doenças (CID) da OMS e é uma enfermidade que gera efeitos físicos no indivíduo. O cérebro humano é formado por células, os neurônios, que se comunicam por meio de substâncias chamadas neurotransmissores. Pessoas com depressão têm alterações em alguns neurotransmissores envolvidos, por exemplo, na sensação de bem-estar. Esse mal em muitos casos começa devido a fatores externos, como a perda do emprego ou de um ente querido, e com o tempo se torna físico, ficando mais grave conforme a passagem do tempo e necessitando de tratamento profissional.

CAPS e muito mais: O que o SUS oferece para a Saúde Mental

O Sistema Único de Saúde dedica atenção especial à área da saúde mental, atuando em vários níveis através de Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Além de tratamentos psicológicos oferecidos pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), o carro-chefe no tratamento de saúde mental do SUS são os Centros de Atenção Psicossocial, mais conhecidos como CAPS. O CAPS é um serviço de saúde aberto e comunitário do SUS, local de referência e tratamento para pessoas que sofrem com transtornos mentais, psicoses, neuroses graves e demais quadros que justifiquem a permanência num dispositivo de atenção diária, personalizado e promotor da vida.

O usuário que procura o CAPS é acolhido e participa da elaboração de um Projeto Terapêutico singular específico para as suas necessidades e demandas. Uma equipe multiprofissional composta por médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e terapeutas ocupacionais avaliam o quadro do paciente e indicam o tratamento adequado para cada caso. A internação só é indicada quando esgotadas todas as possibilidades terapêuticas disponíveis no CAPS, que também atua nos momentos de crise, nos estados agudos da dependência e de intenso sofrimento psíquico.

O CAPS possui três modalidades de atendimento: Infantojuvenil, Adulto e Álcool e Drogas (AD), o último dedicado a transtornos causados pelo uso de substâncias psicoativas. Os Centros também são divididos nos níveis I, II e III, o último se caracterizando por um acolhimento integral do paciente, com permanência por até 15 dias, para casos mais graves. Existem também as Unidades de Acolhimento (UA), que são moradias provisórias destinadas aos usuários que estejam em tratamento nos CAPS AD e não têm família, residência, ou se encontram em situação de risco e vulnerabilidade nos locais em que habitam. Os Centros também fazem visitas domiciliares e buscas ativas por pacientes que estejam em situação de rua.

A rede de saúde mental da cidade de São Paulo tem 93 CAPS, sendo 30 deles Álcool e Drogas, 31 Infantojuvenis e 32 Adultos. Além de medicamentos para distúrbios como a depressão ou o transtorno bipolar, distribuídos gratuitamente pelo SUS, também são oferecidos tratamentos como a psicoterapia, a terapia ocupacional e terapias integrativas (como a musicoterapia), para auxiliar da melhor maneira na recuperação do usuário.

A cidade conta também com 24 centros de convivência e cooperativas (CECCOS), que promovem saúde atendendo pessoas de 0 a 100 anos em situação de risco social com a realização de oficinas trans geracionais, práticas integrativas, oficinas de geração de renda entre outras.

Outro ponto de suporte para casos emergenciais é o Centro de Valorização da Vida (CVV), que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone (pelo número 188), e-mail e chat 24 horas todos os dias.

De acordo com a coordenadora da área técnica de saúde mental da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), Claudia Longhi, o tema é de extrema relevância dado que a incidência de jovens que cometem tentativas de auto eliminação vem crescendo significativamente. “É importante que todos os pontos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) estejam articulados para garantir a assistência adequada para cada caso” ressalta Claudia.