Você sabe identificar se tem um distúrbio de voz?

Rouquidão, cansaço ao falar, voz fina ou grossa demais, fraca ou forte demais podem ser sinais de que você precisa ver um médico para identificar uma disfonia

Por Maria Lúcia Nascimento e Renan Cacioli


Se você acha charmosa aquela voz rouca, saiba que o motivo dessa alteração pode ser um problema de saúde. No dia 16 de abril, Dia Mundial da Voz, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) alerta para os cuidados com esse recurso produzido pelo ser humano a partir das cordas vocais para a comunicação.

Portanto, a promoção da saúde e a informação quanto aos distúrbios que podem comprometer a qualidade da voz, da vida e sobrevida dos indivíduos é algo que merece atenção. Os distúrbios vocais funcionais e organofuncionais são considerados questões da Atenção Básica em Saúde.

“Os distúrbios da voz se manifestam por uma série de alterações, como cansaço ao falar, rouquidão, perda de potência vocal, mudanças de intensidade (mais fraca ou mais forte), mudanças de tom (mais grave ou mais agudo), diminuição do tempo de fonação (maior necessidade de pausas no discurso)”, explica a fonoaudióloga Alcione Ramos Campiotto, da Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) Centro e interlocutora da Área Técnica de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência.

Esses casos são atendidos por fonoaudiólogos das equipes de Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), além dos Núcleos Integrados de Reabilitação (NIR) e Centros Especializados em Reabilitação (CER). Há, ainda, tratamento de radio e quimioterapia complementares, nos hospitais de toda a cidade de São Paulo, em casos de comprometimento oncológico do paciente.

Também chamados de disfonias, os distúrbios podem aparecer por conta de lesões nas pregas vocais ou por uso incorreto da voz. “Existem lesões causadas pelo mau uso ou abuso vocal (fonotrauma), mas também pelo tabagismo, etilismo e uso de drogas ilícitas, associados ou não, por distúrbios metabólicos, ligados à presença de Refluxo Laringofaringeo (RLF) ou mesmo lesões congênitas por malformação embrionária, por exemplo”, alerta a especialista.

Segundo Alcione, o tratamento pode ser individual ou em grupo, determinado pelo médico otorrinolaringologista. O fonoaudiólogo reforça as orientações de prevenção, adequação ambiental e necessidade de usar a medicação adequadamente, dependendo dos sintomas, das características da disfunção e diagnóstico de cada caso.

Quando a voz é o trabalho

Dublador Leonardo Camillo ganha o dia a dia com a voz

 

Nódulos, pólipos e edemas das pregas vocais são as principais lesões orgânicas resultantes dos distúrbios funcionais da voz. Os nódulos são lesões bilaterais na transição entre 1/3 anterior e médio das pregas vocais, cujo tamanho, cor (esbranquiçados) e consistência dependem do tempo de instalação. Frequentemente, são pequenos e superficiais, provocados por abuso ou mau uso vocal crônicos, técnica vocal ineficiente; uso profissional da voz; uso crônico da voz em ambiente ruidoso.

O dublador Leonardo Camillo, conhecido pelas vozes de personagens icônicos como o Ikki de Fênix, da série “Os Cavaleiros do Zodíaco”, e o dinossauro Barney, conta alguns segredos para manter a voz apta para a rotina diária de estúdio. “É com minha voz que ganho o meu dia a dia. Trabalhando com a voz, preciso tomar certos cuidados com ela. Um eles é beber muita água. Outro é não tomar café, leite, coisas que vão interferir na hora. Dá muito estalo na voz, e isso prejudica um pouco", explica.

Para Ikki se sair bem nos combates épicos dos episódios da animação que arrasta gerações de fãs desde os anos de 1990, Leonardo sempre bebe muita água, descansa bastante a voz, tomando cuidado com técnicas. “Quando você vai falar mais alto, dar um grito como o do Ikki no ‘Golpe Fantasma de Fênix!’ e não arranhar as cordas vocais, isso é importante."

As lesões que a voz anuncia

Os pólipos geralmente são lesões unilaterais que poderão se apresentar em qualquer porção dos terços anterior e médio das pregas vocais, de consistência mais gelatinosa e de aspecto mais ou menos delimitado, de acordo com a característica de seu conteúdo (sangue, por exemplo).

Os abusos vocais agudos, como o grito longo em estádio de futebol, podem estar associados aos pólipos, quadros alérgicos ou às Infecções de Vias Aéreas (IVAS).

Geralmente bilaterais e não localizados, os edemas são lesões de extensão e volume variável e, frequentemente, ligados à hiperemia (vermelhidão) das pregas vocais. Essas lesões podem ser provocadas pelo tabagismo, etilismo, associadas, ou não, às alterações hormonais, principalmente em mulheres, processos alérgicos e à presença de Refluxo Laringofaringeo (RLF).

Os nódulos e pólipos apresentam os clássicos sinais de rouquidão, fadiga vocal, perda de extensão vocal (agudos e graves), podendo estar associada às tensões músculo esquelética (dor/tensão em pescoço, ombros e faringe). O nódulo, contudo, tem um caráter de perda funcional progressiva.

Além desses sintomas, o paciente tem a sensação de corpo estranho na faringe (globus faríngeo), ardor faríngeo.

O diagnóstico da doença é feito pelo otorrinolaringologista e/ou fonoaudiólogo, por meio de levantamento de histórico detalhado, análise perceptivo-auditiva da voz e exame laríngeo por meio de imagem (telescopia laríngea ou nasofaringolaringoscopia).

"O tratamento pode ser cirúrgico, para remoção de lesões e/ou adequação de estruturas, ou fonoaudiológico, com atendimento sistemático, no mínimo uma vez por semana no início, individual ou em grupo", ressalta a especialista da Saúde municipal.

Prevenção

Os fatores infecciosos, como a sinusite, que diminuem a ressonância e alteram a função respiratória, também prejudicam e modificam a voz. São quadros agudos ou crônicos relacionados a fatores alérgicos, o mais recomendável é não se expor aos fatores alergênicos (desencadeantes) como pó, poeira, giz (no caso de professores), produtos químicos, pelos de animais domésticos, evitar cigarro, álcool e drogas ilícitas em excesso, não gritar, evitar tossir em excesso ou pigarrear, evitar falar em ambientes ruidosos por tempo prolongado, dentre outros.

O ambiente profissional também tem impacto na saúde vocal, tanto em relação ao seu aspecto físico (ruído, fumaça, poeira, produtos químicos), quanto mental (estresse).