PREFEITURA DE SÃO PAULO

Desafio real: pais precisam conversar com os filhos sobre o que se passa na internet

Profissionais da saúde explicam como abordar os jovens diante de correntes virtuais que os instigam até ao suicídio

26/03/2019 18h54

Renan Cacioli

Os chamados desafios virtuais, nos quais crianças e adolescentes são provocados a cumprir determinadas ordens em correntes que circulam nas redes sociais, têm tirado o sono de muitos pais. Mas a solução para enfrentar sem alarde esses seres imaginários como a Baleia Azul e, mais recentemente, a boneca Momo, pode estar em algo bem mais simples do que se imagina: o diálogo.

Por mais complicado que seja quebrar os escudos que muitos jovens constroem nessa fase da vida, potencializados ainda pela característica de bolha do mundo online, aos adultos cabe a missão de encontrar o tom adequado para se inserir nesse universo dos filhos e desmistificar as lendas.

“A melhor coisa a se fazer é conversar sobre o assunto. Orientar se aparecer um personagem como a Momo no meio do vídeo e disser que é para fazer coisas como se machucar, que é justamente para não fazer isso”, explica Mônica Barros, psicóloga da equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) da AMA/UBS Integrada Jardim Brasil, na zona Norte da cidade.

Os vídeos já vêm circulando desde o ano passado, mas ganharam repercussão maior nas últimas semanas, quando pais começaram a recebê-los em grupos e correntes do WhatsApp. “Outra orientação é não procurar esse vídeo e orientar as crianças a não acessá-lo. Quanto mais você acessa, mais ele fica acessível”, afirma a psicóloga.

No CAPS Infantojuvenil II M’Boi Mirim, o assunto não teve tanta repercussão, mas a psicóloga Beatriz Deorsola nota que temas como suicídio e automutilação, situações muitas vezes provocadas por esses desafios virtuais, atraem cada vez mais o interesse desse público.

“Essa geração já nasceu nesse meio e passa por uma fase de querer respostas imediatas, de ansiedade, de não ter muito tempo de espera. A internet entra nesse contexto prometendo respostas a todas essas questões“, analisa.

Mais uma vez, os pais precisam estar presentes e conversar, mas sem forçar demais a barra. “A figura de autoridade precisa existir. Pai não é melhor amigo. Mas, antes da imposição, é entender como esse universo da internet conversa com os adolescentes”, diz a profissional de saúde.
 

O que fazer?

A Área Técnica de Saúde Mental da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) dá algumas orientações aos pais de como agir diante de correntes virtuais a exemplo da boneca Momo:

- Se vir seu filho recebendo essas mensagens, imediatamente sente e converse com eles, com postura acolhedora;
- Pergunte do que se trata para avaliar se a criança ou adolescente entende o teor da matéria;
- Pergunte abertamente se eles concordam com o que está sendo divulgado;
- Pergunte abertamente se eles pensam em fazer algo parecido consigo, sem tom de julgamento;
- Nunca aborde seus filhos dizendo que achou a mensagem no celular deles. Isso é invasão de privacidade e faz com que percam a confiança em você;
- Se eles responderem que pensam em agir assim ou estão agindo (se mutilando ou tentativas mesmo frustras de suicídio), procure ajuda imediatamente de um profissional de saúde mental;

Lembrando que a rede de SMS conta com CAPS Infantojuvenil e UBS com equipes de saúde mental preparadas para esse atendimento. Em casos de tentativa de suicídio efetiva, imediatamente procure um pronto-socorro de hospital próximo do local onde está o jovem para avaliação.