Secretaria Municipal da Saúde
Tijolo por tijolo
Por Taynara Carmo
Foto Marie Serafim
Edição Cármen Ludovice
Nascida em São Paulo, capital, no bairro da Lapa, atualmente Cida mora em Diadema. Separada, a profissional que trabalha com gestão participativa há treze anos, tem três filhos, uma mulher e dois homens. Natalie, a primogênita, que é publicitária, já morou e trabalhou em Londres. Hoje, vivendo com a mãe, ela dá expediente na USP – Universidade de São Paulo. O filho do meio, Caio, fez Robótica e mora e trabalha no Canadá. Já Luan, o caçula, cursou Administração de Empresas e vive em Osasco, onde está empregado e atuando em sua área de eleição.
Ela, que namora há onze anos, e pretende um dia “juntar os trapinhos”, ainda sonha fazer curso de Libras e trabalhar com pessoas especiais, torce ela. Já deu aula para um casal de cegos e para dois surdos-mudos que tempos depois “começariam a namorar”. Também lecionou no antigo Mobral – programa de ensino contra o analfabetismo que foi extinto em 1985.
Cida assim se define: “Estou sempre pronta para aprender; sou curiosa; gosto do novo; de viver; e ainda me sinto jovem apesar dos meus 58 anos de idade”, diverte-se.
Minha história
“Minha história profissional”, conta ela, “começa em 26 de abril de 1985, data em que comecei a trabalhar na Prefeitura de São Paulo”. Ela enumera: “comecei na UBS Jardim Eliane, depois fui para a Chácara Santo Antônio e logo em seguida fui transferida para a UBS Guacuri, onde trabalhei uns dezesseis anos; torci para ir para lá, porque a unidade ficava na rua onde eu morava”, comemora.
O Conselho Gestor em sua vida
Quando surgiu o Conselho Gestor, ela foi votada pelos colegas para representá-los. Isso aconteceu na época em que o leite que as mães recebiam para seus bebês havia sido cortado e várias mulheres carentes ficaram sem ter como alimentar os seus filhos. “Diante disso”, conta Cida, “as assistentes sociais Ruth e Olga me convocaram para decidirmos o que fazer para amenizar aquela situação tão angustiante, de fome. Como eu tinha amizade com uma costureira, a Ester, resolvemos chamar aquelas mulheres para aprender a costurar. Naquele tempo, eu fazia parte da Associação de Moradores do Bairro e concordamos em usar a nossa sede para ministrar as aulas de corte e costura. Começamos, então, a organizar bazares para vender as roupas ali confeccionadas e dividir o dinheiro entre as costureiras. Daí, uma representante da C&A Modas ficou sabendo do nosso projeto, e passou a trazer as roupas cortadas para a gente costurar. Com isso, todas as costureiras ganharam, sendo que muitas delas também conseguiram emprego na empresa.
O primeiro tijolo
Segundo Cida, a luta era grande e os moradores sempre se reuniam para debater e tentar encontrar soluções para a melhoria do bairro e das condições de saúde da comunidade. Assim, iniciaram uma mobilização para reivindicar a instalação de um hospital. “Tenho o prazer de contar que eu, meus três filhos e vários moradores locais colocamos o primeiro tijolo para o início das obras daquele que viria a ser o Hospital Pedreira, atendendo a um antigo sonho da comunidade local”.
Quanto mais a gente ensina, mais aprende
Por sempre gostar de atuar no Conselho Gestor, Cida foi convidada a trabalhar na Supervisão de Saúde de Santo Amaro e Cidade Ademar, onde passou a ministrar cursos para conselheiros, tendo, como a própria entrevistada diz, “também aprendido muito”.
Além disso, atuou, ainda, na Supervisão Técnica de Saúde de Parelheiros, o que considera o seu maior desafio. “Os conselheiros”, explica ela, “embora fossem atuantes, não tinham uma metodologia adequada para garantir a efetividade do SUS. Por isso, passamos a colocar na pauta da reunião ordinária palestras sobre os fundamentos que orientam a prática do conselheiro, cuja principal função é a de fazer parte do controle social na gestão das políticas para garantir o acesso igualitário à saúde para todos”.
“Hoje percebo que o fato de estar sempre aberta ao novo, enfrentar os desafios e atuar com muito respeito, faz toda a diferença na vida profissional e pessoal: eu ensinei, mas aprendi muito mais”, constata.
Do trabalho e estudos
Devido à mudança de Gestão, Cida foi trabalhar no COAS – Centro de Orientação e Apoio Sorológico Santo Amaro, hoje CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento Santo Amaro. Segundo ela, suas sempre amáveis colegas de trabalho – Maria Paula Camargo, Lucia Yusim, Maria Salun, Kátia, Doris, e muitas outras –, a incentivaram a cursar uma faculdade. “Minha situação nessa época era difícil, pois tinha três filhos pequenos. Mas ainda assim consegui entrar em Pedagogia na Fundação Santo André – que é uma instituição de ensino de caráter público e de direito privado. Foi um grande salto em minha vida, pois já estava havia vinte anos sem estudar”, espanta-se.
Na Fundação, Cida diz ter conseguido se realizar como ser humano. “Meu desejo inicial era fazer Serviço Social, mas como o centro universitário não oferecia esse curso na época em que lá estudei fazer Pedagogia acabou sendo a concretização dos meus ideais”, reconhece.
Depois disso, a gestora ávida por sempre saber mais ainda fez pós-graduação em Educação e Saúde Pública.
Também ganhou um concurso de poesia no CTA, cujo prêmio era uma vaga para um curso de rádio e comunicadores. Assim, ela e a gerente do CTA, Ruth Barreto Ramos, passaram a ter um programa na rádio comunitária do bairro Guacuri, onde morava na época, com o tema “Seja feliz, use camisinha”, finaliza.