Secretaria Municipal da Saúde

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Terça-feira, 21 de Março de 2017 | Horário: 11:48

Shirlei, uma vida dedicada em favor das mulheres

“Sou mulher, sou negra e tenho orgulho das minhas origens”. Quando o desejo de quebrar paradigmas é maior que as dificuldades, e quando determinação e amor pela profissão se tornam aliados em prol de uma causa legítima, o resultado só pode ser bom para todos os envolvidos

 

 Fotos e Texto Pablo Aquino

 Edição Cármen Ludovice

Shirlei de jaleco branco e salto alto em frente à fachada da UBS Jardim Aurora

 

Desde o início de sua carreira profissional, ainda na faculdade, Shirlei Cristina de Fátima Martins, psicóloga da Unidade Básica de Saúde (UBS) JD. Aurora, sempre esteve engajada em projetos direcionados às mulheres em situação de violência doméstica ou social. Há oito anos na área da saúde, ela tem desenvolvido junto a outros profissionais propostas que ofereçam uma atenção especializada aos casos de violências, com a iniciativa de proporcionar a cada usuária um acolhimento mais humanizado.

Apaixonada pelo o que faz, ela afirma que sua vida pessoal e profissional sempre esteve ligada às causas voltadas à defesa da mulher. Dona de um olhar clínico, ela acredita que muita coisa já mudou, mas que a luta deve continuar: “nós mulheres, estamos fazendo história; este é um momento único, pois estamos estabelecendo uma nova postura diante da sociedade”.

Com base nas experiências já vividas ao longo dos anos, a profissional enxerga promissoras mudanças no pensamento feminino em relação à luta pelos seus direitos e posição enquanto sujeito de decisão. “A mulher dos dias atuais está tomando para si o papel de protagonista da sua própria história”, aplaude.

Para ela, atuar como psicóloga, em uma periferia, onde a grande parte do público é do gênero feminino – na maioria, negras ou imigrantes, e de classe econômica desfavorecida – tem sido uma grande oportunidade de ajudar e compartilhar experiências. “O que mais me atrai é a diversidade das histórias de vidas que chegam até mim”, confessa. “A pluralidade de tantos casos que ao mesmo tempo são tão singulares é o que mais me motiva, e me faz querer compreender ainda mais esse universo feminino”, completa.

Reconhecida pelo seu trabalho na região, que não se restringe somente à saúde, Shirlei também atua com atividades intersetoriais ligadas à educação e a questões sociais. Segundo ela, o objetivo é alcançar todas as mulheres do entorno, de todas as idades, orientando e prestando assistência, de acordo com as necessidades de cada uma.

Experiências e lições de vida

Umas das maiores experiências profissionais já vividas por Shirlei foi trabalhar em uma aldeia indígena localizada no Pico do Jaraguá, em São Paulo. Ela relata que o trabalho desenvolvido durante cerca de seis meses foi diferente de tudo o que já havia até então vivido. Atender a outro tipo de mulher, de cultura totalmente diferente, em um território desconhecido, ajudou a psicóloga a ampliar suas habilidades e a desenvolver sua escuta clínica. Atuar com mulheres com uma visão hierárquica diferente, que não reconhecem seus direitos – por falta de orientação e informação – foi o grande desafio vivido por Shirlei na aldeia, que alega ter saído transformada e com um olhar diferente sobre o ser humano.


A base de tudo

Nascida em Suzano, solteira, e atualmente morando com seus pais, Shirlei é formada em psicologia pela universidade Braz Cubas, e especialista em psicologia e saúde pública pela USP – Universidade de São Paulo. Aos 36 anos de idade, sem filhos, a psicóloga atribui à sua família tudo o que conquistou até hoje, tendo como maior referência sua avó, Dona Laurita, mulher negra, de garra, de origem humilde que trabalhou muito para sustentar, sozinha, toda a família e que sempre lutou para que os estudos fossem um diferencial transformador na vida dos seus filhos e netos. Aos 13 anos de idade, em uma aula que abordava o assunto “profissões” Shirlei descobriu qual carreira profissional iria seguir.

O sonho de ajudar mulheres que, assim como ela, lutam com dignidade pelos seus direitos em meio a uma sociedade que ainda sofre com discriminação e opressão foi o fator motivacional para que ela determinasse, a partir daquele momento, que seria uma psicóloga. Para a psicóloga, a sua profissão é um canal para alcançar, orientar e conscientizar mulheres quanto aos seus direitos.

Mulher, sinônimo de resistência

Incentivar, motivar e encorajar são as palavras de ordem do dia a dia de Shirlei. Escutar o que cada mulher tem a dizer sobre si mesma e sobre sua vida é apenas o primeiro passo. Cada mulher é única, e independente de quem ela seja, sua história merece toda a atenção.

A psicóloga admite já ter visto grandes transformações em mulheres por ela atendidas que sofriam agressões físicas, psicológicas e sexuais. “Muitas mulheres conseguiram sair da situação de violência, buscaram novos caminhos com diferentes atitudes e retomaram suas vidas de uma forma completamente diferente, agora mais empoderadas e seguras de si”. Para ela, a palavra que melhor define a mulher é “Resistência”, por sua garra em persistir na luta contra a desigualdade dos sexos e contra a opressão, batalhando diariamente por seus direitos e seu espaço.

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