Prefeitura inicia atendimento de hormonioterapia para transexuais

População trans deve buscar orientação em unidades da região central

 

Padilha ponderou que existe uma demanda de travestis e transexuais em busca de hormonioterapia no município, e que a oferta do serviço na rede é uma estratégia preventiva e de inclusão

 

Por Beatriz Prado
Foto: Leon Rodrigues/SECOM

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) deu início, nesta quinta-feira (1), ao serviço de hormonioterapia para a população transexual em nove unidades Básicas de Saúde (UBS) da região central e no Centro de Estudos da Santa Casa de São Paulo. O anúncio foi feito durante cerimônia na Assistência Médica Ambulatorial Sé. Participaram o secretário municipal da Saúde Alexandre Padilha, o secretário-adjunto da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania Rogério Sottili, coordenadores de saúde e participantes do Projeto de Reinserção Social Transcidadania.

O acolhimento de travestis e transexuais será realizado nas UBS Sé, Cambuci, Nossa Senhora do Brasil, Humaitá, Campos Elíseos, República, Bom Retiro, Boracea e Santa Cecília. A SMS estabeleceu um protocolo de atendimento com cuidados específicos desde a chegada à unidade, com avaliação clínica e psicológica, orientação sobre efeitos colaterais, e o início da aplicação hormonal, acompanhado por endocrinologistas, psicólogos e fonoaudiólogos.

Pioneirismo

Padilha ponderou que existe uma demanda de travestis e transexuais em busca de hormonioterapia no município, e que a oferta do serviço na rede é uma estratégia preventiva e de inclusão. “A cidade de São Paulo é pioneira ao desenvolver a primeira política de atenção integral à saúde da população LGBTT, especificamente a reposição e terapia hormonal, que não é realizada dentro das caixinhas em que a população trans esteve inserida nos últimos anos. O atendimento não deve ser realizado em espaço diferenciado”, explicou.

Para o secretário da Saúde, a atenção integral à saúde da população trans é estratégica na medida em que reduz os riscos de auto aplicação de hormônios sem acompanhamento. “A terapia hormonal com acompanhamento médico alivia o sofrimento e melhora a qualidade de vida do transexual, mas também tem impacto positivo em todo o sistema de saúde. Muitas vezes, as pessoas são submetidas a procedimentos inadequados e a recuperação gera custos ainda maiores para o SUS”, afirmou Padilha.

A partir da chegada do transexual à unidade, o cronograma de trabalho da SMS prevê a recepção e rodas de conversas com profissionais da rede, mutirões para confecção do Cartão SUS com nome social, sensibilizações da política e protocolos com as equipes técnicas das unidades e capacitação por psicólogos.

Políticas Públicas de transversalidade

Os primeiros atendimentos de terapia hormonal serão realizados com travestis e transexuais do Projeto de Reinserção Social Transcidadania, coordenado pela Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania. Para o secretário-adjunto da pasta, Rogério Sottili, a implementação de políticas públicas intersecretarial é primordial para o resgate da cidadania. “O Brasil é o país que mais mata travestis no mundo, seguido pelo México com um número quatro vezes menor e a expectativa de vida do grupo não ultrapassa 50 anos. Observar e entender as necessidades de educação, qualificação profissional e atenção à saúde é essencial”, disse Sottili.

‘Oferta de terapia é muito importante’

Aline Marques, de anos, 37 é agente de prevenção do Programa de Reinserção Social e Transcidadania para a população LGBTT do município de São Paulo. Interrompeu o uso de hormônios em 2014 e comemorou a oferta de atendimento nas UBS. “Parei porque tive complicações. Fiz auto aplicação de hormônios durante 20 anos e passei por um processo de coagulação do sangue. A oferta da terapia na rede é muito importante. É melhor que um leito hospitalar seja ocupado por um paciente com uma necessidade maior do por alguém que gerou problemas por uma questão de capricho. Muitas meninas querem atingir a feminilidade e fazem uso de medicamentos encontrados nas farmácias. Comecei a aplicar hormônios por conta própria, aos 16 anos, e é uma prática comum. O acompanhamento de médicos e a assistência integral evita riscos de mortes, tromboses e outros agravos. A conquista de hoje é imprescindível para a igualdade na luta dos grupos de resistência. Vamos continuar engajadas para que o atendimento seja ampliado para as outras regiões da cidade e o avanço das cirurgias de meninas que querem se readequar.”


‘Estou muito feliz por mais um direito à saúde da população LGBTT’

Ciara Pitma, de 25 anos, é agente de prevenção e atua no grupo de resistência de travestis e transexuais do Estado de São Paulo. A descoberta da transexualidade se deu aos 16 anos, em Teresina (PI), após conversa com assistente social. “Aos 14 anos comecei a perceber que meu corpo não apresentava as transformações comuns aos meninos e meninas durante a adolescência. A sensação de desconforto foi provocando uma angústia incessante. Depois de entender que era transexual, decidi vir para a cidade de São Paulo e, assim, fiquei durante cinco anos trabalhando na noite, até começar a participar do projeto de transcidadania da Prefeitura. Estou muito feliz por mais um direito à saúde da população LGBTT que está sendo cumprido de maneira igualitária. É ótimo ver o olhar e a sensibilidade que a administração tem demonstrado com todos. O acolhimento com endocrinologistas e psicólogos garante uma atenção adequada e a complementação com o hormônio é essencial na vida de uma pessoa trans.”