Secretaria Municipal da Saúde

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Terça-feira, 24 de Março de 2015 | Horário: 15:17

Consultório na Rua de Pinheiros usa futebol e livros para ajudar pessoas em situação de rua a largar drogas

Programa dispõe de 16 equipes para criar vínculo com pacientes dependentes de álcool e outras drogas

O agente comunitário de Saúde Pedro durante a visita a paciente S., moradora de rua grávida e usuária de droga


Texto e foto: Cristiane Guterres

São pouco mais de 9h quando três profissionais da equipe de Programa Consultório na Rua de Pinheiros chegam ao túnel Noite Ilustrada, principal ligação entre a Avenida Rebouças e a Avenida Dr. Arnaldo. O trânsito está carregado. O barulho é alto e constante dentro do túnel. Mesmo assim, duas mulheres dormem profundamente em meio ao ruído e à sujeira. Pelo menos 18 pessoas estão ali naquele momento. Afora os que dormem, outros estão sentados no chão ou perambulam. Pessoas em situação de rua estão expostas a um alto grau de vulnerabilidade. Necessitam de atendimento específico de saúde. Há quem esteja doente por viver nas ruas; há quem esteja na rua por apresentar doenças mentais, uso abusivo de álcool e outras drogas.

Para atender a estas pessoas a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), conta com 16 Equipes de Consultórios na Rua. Multiprofissionais, elas são compostas por um médico, um enfermeiro, um assistente social, uma psicóloga, um funcionário administrativo, dois agentes sociais, dois auxiliares de enfermagem e de quatro a seis agentes comunitários de saúde de rua.

A equipe Pinheiros, que visita o túnel Noite Ilustrada, atua na região desde 2005. Pedro, agente comunitário, é responsável pela área. Ele conhece todos os pacientes pelo nome. Fala com carinho da história de alguns e das duas mulheres que dormem sob o viaduto. S. – uma delas - está grávida. Pedro teve dificuldade para acordá-la. Precisa lembrá-la que, no dia seguinte, ela tem consulta de pré-natal. Pedro irá buscá-la às 9h.

Acompanhar o paciente à consulta médica é apenas uma das funções dos profissionais da equipe. Eles também trazem medicação, fazem contato com departamentos de Assistência Social para que os pacientes possam tomar banho, propõem atividades recreativas em parques da cidade e localizam familiares, entre outras tarefas. A equipe também conta com agentes sociais que, entre outras funções, cuidam da documentação dos pacientes, de documentos perdidos, solicitações de carteira de trabalho, atestados de antecedentes criminais.

Futebol e livros contra drogas

Os agentes da equipe de Pinheiros são contratados pelo Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto, organização parceira da SMS no gerenciamento de oito das 16 equipes. Uma das atividades recreativas promovidas pela equipe Consultório de Rua Pinheiros é o futebol no Parque Vila Lobos, às quintas-feiras. “Nossa intenção é fazer uma redução de danos com as pessoas. É uma maneira de eles passarem algumas horas com agente e, naquele momento, deixarem de usar a droga”, explicou José Roberto.

Toda quinta-feira pela manhã o grupo movimenta seus parceiros, como o Centro de Atenção Psicossocial Itaim Bibi e o Centro de Acolhida COR Esperança. O carro de transporte do SEAS (Serviço Municipal Especializado de Abordagem Social) busca e trás quem quer ir ao jogo. “O enfermeiro vai junto, a gente leva o quite de saúde, mas o que mais importa é tirar a pessoa da rua. Ela vai jogar bola, mas não é só a atividade esportiva. Lá ela vai poder conversar, se sentir alguém. No momento em que sai dali, percebe que participou de uma equipe”, disse José Roberto.

Outra atividade interessante promovida pela equipe é a Biblioteca Psicoativa Itinerante. Trata-se de uma iniciativa do assistente social Diego, que utiliza o livro como ferramenta de recuperação. “A ideia não é controlar o livro, mas o cara receber, ler e passar para o outro. Da primeira vez eu saí meio frustrado, mas dessa vez eu já trabalhei isso emocionalmente. Esse livro acaba se tornando uma moeda de troca para a droga, eu sei disso. Mas não posso me limitar e dizer que eu fiz uma vez e deu errado e acabou. Porque a gente não pode vir com a ideia de que vai tirar todo mundo daí de uma vez só”, diz Diego.

‘A droga não deixa eles ficarem quietos’

No território atendido pela equipe existem vários pontos de concentração de usuários de drogas visitados pelos seis agentes comunitários diariamente. Localizam-se no Largo da Batata (Pinheiros), na Avenida Rebouças e na Rua Belmiro Braga, entre outros. O trabalho é reconhecido pelos usuários. Em qualquer roda que chagam os agentes são respeitados e bem recebidos. Segundo Pedro, no começo foi difícil o contato com os usuários. Depois ficou mais maleável. “Eles são muito inteligentes, mas a droga não deixa eles ficarem quietos” diz. A. está vivendo sob o viaduto Noite Ilustrada. Vive na rua há muitos anos, tantos que nem consegue precisar por quanto tempo. Para ele, o trabalho da equipe é fundamental. “Eu sou diabético, tenho que tomar insulina e eles me ajudam. Quando quero toma um banho, eles me levam e me trazem”, diz A.

Na praça Dr. Clemente Ferreira (início da Avenida Rebouças), J. vive numa cabana de lona improvisada. É outro que fica feliz com a visita dos profissionais no local onde mora e cuida com zelo. Prova disso, está cultivando um pequeno jardim. Recorda com orgulho do tempo em que era jardineiro, antes de se tornar dependente de drogas. A praça onde J. vive já foi o principal ponto de uso de drogas da região. “Já cheguei a ver mais de 50 pessoas de cócoras, aqui, usando droga. Hoje, muitos dos que estavam aqui estão no túnel, que fica mais escondido dos olhos da população”, completa o agente José Roberto.

Doenças mais frequentes

Os problemas de saúde mais comuns entre as pessoas em situação de rua são o diabetes e a tuberculose, doenças crônicas que exigem regularidade com a medicação. Por isso, se necessário, os agentes trazem o remédio todos os dias. Quando identificam uma situação de saúde mais grave eles voltam com o enfermeiro ou com o médico. Havendo a necessidade, os auxiliares de enfermagem comparecem diariamente para realizar curativos. Toda ação da equipe é discutida em conjunto. Eles passam por cursos e treinamento regulares, pois o dia-a-dia deste trabalho não é fácil.




 

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