PREFEITURA DE SÃO PAULO

De ajudante de pedreiro a médico de sua comunidade

Pimenta venceu obstáculos da infância pobre e hoje integra Programa Mais Médicos

24/07/2014 18h51

 Médico sente orgulho em trabalhar no mesmo bairro onde viveu durante infância

 

Por Keyla Santos
Fotos: Edson Hatakeyama

 

Até se tornar médico de Saúde da Família na comunidade de onde saiu para estudar, o ex-ajudante de pedreiro Nelson Fabio Pimenta venceu muitos obstáculos para realizar seu sonho. Esta é a síntese de sua bela história de vida. Nascido em Ribeirão Preto (Interior de São Paulo) e morador da periferia da Capital, Pimenta formou-se na Escuela Latino Americana de Medicina (ELAM), em Havana (Cuba). Hoje é clínico geral e atende os pacientes do Programa Saúde da Família (PSF) - pelo Programa Mais Médicos - na Unidade Básica de Saúde (UBS) Juta II, em Sapopemba, da Coordenadoria Regional de Saúde Sudeste. “Atendo pessoas que estudaram comigo na escola pública”, afirma Pimenta.


Quinto filho de uma família de nove irmãos, ele cresceu e andou descalço pelas ruas do bairro Mascarenhas de Moraes, no Sapopemba. Para ajudar nas despesas de casa, dos 12 aos 18 anos foi ajudante de pedreiro. Sem dinheiro para custear uma faculdade, passou a estudar artes. Apaixonado pela atividade, foi ser professor de teatro em escola infantil. Dono de uma facilidade para se comunicar, potencializada pela arte dramática, participou de movimentos sociais e foi coordenador de grupo de jovens das igrejas católicas da região.


Em 2001 passou a trabalhar como agente comunitário de saúde. Foi então que descobriu sua vocação. A princípio, por conta da situação financeira, pensou em estudar Enfermagem. “Era o que eu podia fazer naquele momento, mesmo sabendo que o meu dinheiro não ia dar. Porque o salário de agente comunitário naquela época era de R$403”, disse.


‘Eu não tinha dinheiro nem para pagar a passagem’


Na história de muitos vencedores, o apoio e ajuda de quem identifica um talento é fundamental. Assim foi com o início da mudança de vida de Pimenta. E ela chegou pelas mãos de um padre que o conhecia dos tempos do grupo de jovens. Sentindo sua aptidão para a área da Saúde, o recomendou para o presidente de uma associação que indicava jovens para participar do processo seletivo para bolsas de estudo em países da América Latina. “Deram-me uma semana para conseguir toda a documentação e levar até a embaixada cubana em Brasília, para participar do processo seletivo. Eu não tinha dinheiro nem para pagar a passagem”, contou o médico.


Pimenta recebeu ajuda do presidente da associação para levar a documentação até a embaixada de Cuba e quase não conseguiu. “Tive apenas um dia para carimbar os documentos no departamento de assistência consular – processo que levava dois dias. Mas depois de muitos telefonemas, o cônsul carimbou e levei a documentação até a embaixada”, afirmou.


Depois disso, o médico fez a prova e a entrevista, passou pela análise da documentação e, finalmente, foi estudar em Cuba. “Entre saber da bolsa e viajar foram 43 dias. Cheguei ao país sem conhecer o idioma, mas fui aprendendo, porque morei com a delegação da Argentina, da Colômbia e da Venezuela. Por isso, e pela necessidade, acabei aprendendo mais rápido a falar espanhol”.


‘A dificuldade a gente vai vencendo todos os dias’


De volta ao Brasil, em 2010, Pimenta ainda não podia atuar como médico devido à necessidade de revalidar o diploma. Depois de uma semana em São Paulo, começou a trabalhar na equipe de coordenação do Município de Suzano. Após esse período, trabalhou por três anos e meio como gerente de uma Unidade Básica de Saúde em uma área carente da mesma região.


Pimenta desejava entrar no primeiro ciclo do Mais Médicos. Acabou ingressando apenas no terceiro devido a um atraso do governo cubano em emitir os documentos pedidos pelo Ministério da Saúde. “Escolhi essa região para trabalhar, pois conheço tudo, cresci aqui, andei descalço e trabalhei como agente de saúde”, afirmou Pimenta.


O médico acrescenta ainda que reencontrar seus antigos vizinhos e andar pelas ruas que percorria quando criança o deixam muito feliz. “Trabalhar onde cresci me proporciona uma felicidade diferente. O segredo para alcançar os sonhos é lutar e conquistar aos poucos, sem parar de estudar. A dificuldade a gente vai vencendo todos os dias”, disse.


Para Pimenta, o Programa Mais Médicos é importante devido ao tempo de permanência. “O profissional vem para ficar no mínimo três anos”. Segundo ele, essa condição oferece mais segurança aos pacientes, que se sentem mais tranquilos.


De acordo com o médico, uma recente pesquisa apontou que as regiões que possuem o PSF apresentaram redução de acidentes vasculares cerebrais e enfartos entre seus habitantes. “A pesquisa revelou redução de mais de 20% nos locais onde tem PSF. O Mais Médicos muda a realidade. Eu gosto de trabalhar aqui. É importante trabalhar aqui e visitar aqueles pacientes que outros médicos não visitavam porque tinham medo de ir”, finalizou.

 

 'Trabalhar onde cresci me proporciona uma felicidade diferente. O segredo para alcançar os sonhos é lutar e conquistar aos poucos, sem parar de estudar. A dificuldade a gente vai vencendo todos os dias', disse.


 

Fotos: Edson Hatakeyama