Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla

A data tem como objetivo informar sobre como o diagnóstico precoce e tratamento adequado, a fim de reduzir os estigmas da doença.

Arte: Daniela Avancini Pena
Texto: Luísa de Fátima Carvalho

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No dia 30 de agosto é celebrado o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla (EM). A data tem como objetivo levar informações à população sobre a doença, alertando sobre como o diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem favorecer a qualidade de vida das pessoas que vivem com a EM. Entrevistamos a Dra. Taís Benevides, Neurologista do HSPM, que nos traz informações importantes sobre os sintomas, diagnóstico, tratamento e outros fatores relacionados à enfermidade.

1) Por que é importante conscientizar a população sobre a Esclerose Múltipla?
Há muitos anos, os pacientes com doenças neurológicas, como a Esclerose Múltipla, sofrem com estigmas e a chave para reverter esse cenário é a informação verdadeira. Apesar de ser rara no Brasil, é fundamental que a população seja informada e tenha uma melhor noção sobre esta doença.O termo "esclerose", no meio leigo, faz as pessoas - na maioria das vezes - pensarem em idosos demenciados, o que está longe de ser o quadro dos pacientes com Esclerose Múltipla. Atualmente a EM é mais prevalente em adultos jovens e se caracteriza por múltiplos sintomas, sendo de extrema relevância o diagnóstico da enfermidade e o acesso ao tratamento adequado.  

2) Quais são os principais sintomas da Esclerose Múltipla (EM)?
Os sintomas da doença são variados, podendo haver comprometimento de partes diferentes do sistema nervoso central. Os mais comuns são alterações visuais, déficits de força em membros, tontura, dormência/formigamentos, incontinência ou retenção urinária/fecal, incoordenação motora, entre outros.
Em sua forma mais comum - a Esclerose Múltipla remitente-recorrente - os sintomas ocorrem em grande parte como surtos e episódios de comprometimento neurológico com duração de, no mínimo, 24 horas, que podem deixar sequelas ou não.

3) Existe alguma condição física ou ambiental que pode aumentar a probabilidade de se adquirir a enfermidade? A doença é transmissível ou hereditária?
A causa da Esclerose Múltipla ainda não foi elucidada, parecendo ser multifatorial, ou seja, fruto da interação de diferentes elementos/condições. Entretanto, alguns fatores de risco já foram relatados: gradiente geográfico (parecendo haver um maior risco em populações do hemisfério norte, menos expostas à radiação ultravioleta B e com baixos níveis de vitamina D), fatores genéticos, infecção pelo vírus Epstein-Barr, história prévia de mononucleose, tabagismo, obesidade, dieta e microbiota do trato gastrointestinal.

É válido ressaltar que, apesar da provável relação da doença com a infecção pelo vírus Epstein-Barr, a doença não é contagiosa. Esse vírus é extremamente comum na população e contrair essa infecção não quer dizer que a pessoa necessariamente desenvolverá Esclerose Múltipla no futuro. Como se pode ver, ainda estamos no início do entendimento desta complexa doença e, a cada dia, novos estudos vão nos ajudando a montar esse quebra-cabeça.

Além disso, a Esclerose Múltipla não é considerada uma doença genética, mas parece haver alguma influência de genes associados à resposta imunológica no seu desenvolvimento, sendo a região do complexo de histocompatibilidade humano (MHC) o principal lócus conhecido. Assim, ocorre um aumento apenas discreto na probabilidade de uma pessoa com algum familiar portador de Esclerose Múltipla apresentar a doença, em comparação a quem não possui esta correlação genética.

4) Existe alguma faixa etária da população em que a EM é diagnosticada com mais frequência?
Ao contrário do que muitos imaginam, os idosos não são os mais acometidos pela Esclerose Múltipla. A doença é mais comum em adultos entre 20 e 40 anos, principalmente do sexo feminino e caucasianos.

5) Qual é o tratamento indicado?

Inicialmente, havia apenas a pulsoterapia com o corticoide (um potente anti-inflamatório) que era realizada, no máximo, um mês após o início do surto, ou seja, posteriormente ao surgimento de novos sintomas ou piora de antigos. No entanto, nos últimos 30 anos foram estabelecidos também tratamentos que são conhecidos como "modificadores de doença" por evitarem e reduzirem a ocorrência de surtos, sintomas, lesões no sistema nervoso central e acúmulo de incapacidades. São medicações orais ou injetáveis que, ao suprimirem ou modularem as defesas do organismo, tornam os ataques ao sistema nervoso menos frequentes. Porém, justamente por lidarem com a nossa imunidade, aumentam o risco de infecções oportunistas e devem ter o seu uso monitorado de perto por um neurologista. Em casos extremos, o transplante de medula óssea pode ser uma alternativa, entretanto, em função dos seus altos riscos, cada vez é menos indicado.

Outro ponto importante do tratamento do paciente com Esclerose Múltipla é a abordagem multidisciplinar, sendo indicado o acompanhamento com profissionais da Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Psicologia. É válido ressaltar que a vitamina D possui um papel auxiliar no contexto da Esclerose Múltipla, mas o seu uso não exclui a necessidade das medicações modificadoras de doença. Além disso, em excesso se torna tóxica para o organismo, não devendo ser ingerida sem acompanhamento médico.

6) A Esclerose Múltipla tem cura?
Assim como para muitas doenças neurológicas, ainda não há cura para a Esclerose Múltipla. No entanto, nos últimos 25 anos, houve um avanço importante no tratamento da doença, com drogas mais potentes e que podem reduzir significativamente as sequelas. Com isso, os pacientes com Esclerose Múltipla têm apresentado uma qualidade de vida cada vez melhor.