Mais comum em idosos, Doença de Parkinson acomete cerca de 200 mil brasileiros

Condição é causada por deficiência no sistema nervoso e afeta funções motoras e não motoras

Logo do HSPM responde, com uma mão segurando um megafone saindo de dentro de um celular

 

Por: Gabriel Serpa


O dia 11 de abril é a data dedicada à Conscientização Mundial da Doença de Parkinson, estabelecida em 1998 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A mesma organização aponta que a condição neurológica, identificada em 1817 por James Parkinson, afeta cerca de 1% da população mundial — no Brasil, o número representa cerca de 200 mil pessoas. Nesta edição do HSPM Responde, a neurologista Dra. Taís Benevides esclarece as principais dúvidas sobre o tema e reforça a importância do tratamento adequado e abordagem multidisciplinar.

O que é a Doença de Parkinson?
A Doença de Parkinson, descrita em 1817 pelo médico James Parkinson, é fruto da deficiência de dopamina, que é um neurotransmissor essencial para a realização de movimentos no sistema nervoso. Isso decorre da perda progressiva de neurônios produtores de dopamina da substância negra, localizada no mesencéfalo (região do tronco cerebral). Assim, conforme a doença vai evoluindo, o paciente tende a ficar mais lento e/ou tremulante, o que leva a incapacidade funcional e comprometimento da qualidade de vida.

É uma doença degenerativa? 
Sim, a Doença de Parkinson é uma afecção *(alteração patológica)* neurodegenerativa progressiva. Ou seja, assim como a Doença de Alzheimer, por exemplo, ela leva à degeneração/morte gradual de neurônios, que não se regeneram nem se multiplicam. Com isso, o paciente vai, aos poucos, perdendo funções neurológicas importantes, como, no caso da Doença de Parkinson, de modo mais evidente, a capacidade de se movimentar adequadamente.

Quais os sintomas?
O sintoma mais reconhecido é o tremor. No entanto, é apenas um dos vários sintomas que, em conjunto, caracterizam a doença. Entre os sintomas motores, além do tremor de repouso, os mais importantes são a lentidão para se movimentar (bradicinesia), a tendência a quedas (instabilidade postural) e a rigidez dos membros. Há ainda sintomas não motores, como redução da capacidade de se sentir cheiros (hiposmia), "prisão de ventre" (constipação intestinal), alterações comportamentais e agitação durante o sono (transtorno comportamental do sono REM).

Como é o atendimento aos pacientes no HSPM?
Os pacientes passam regularmente em consultas nos ambulatórios de Neurologia Geral ou da subespecialidade Extrapiramidal de modo a fechar o diagnóstico e a guiar o tratamento. Quando há suspeita do diagnóstico, além do exame físico neurológico para a avaliação de sinais e sintomas característicos, podem ser solicitados de exames complementares, sendo o mais relevante a ressonância magnética de crânio.

Existe cura? Como é o tratamento?
Infelizmente, ainda não há cura nem prevenção para a Doença de Parkinson. Porém, desde meados da década de 60 do século passado, há tratamentos que melhoram de maneira significativa os sintomas e, por consequência, a qualidade de vida dos pacientes. Em geral, as diversas drogas usadas no tratamento têm como objetivo aumentar a ação da dopamina no encéfalo, seja elevando a sua quantidade, imitando a sua ação ou impedindo a sua degradação. A levodopa é a medicação mais tradicional e ainda a de maior impacto positivo até os dias de hoje, reduzindo principalmente a lentidão e a rigidez do paciente. Além dos medicamentos, em centros especializados, certos pacientes com características específicas podem se beneficiar de tratamentos cirúrgicos, como a estimulação cerebral profunda. Outro ponto importante do tratamento é a abordagem multidisciplinar, sendo o acompanhamento com profissionais da Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Psicologia indicado.

Como é a evolução da doença?
A evolução pode variar de acordo com o paciente. Há casos de pacientes com 20 anos de doença que não apresentam incapacidade física importante. Em contrapartida, há pacientes que, após poucos anos, já possuem grave comprometimento funcional. Em média, os pacientes respondem muito bem ao tratamento por cerca de cinco anos. Entre cinco e dez anos, já ocorrem complicações, mas, em geral, os indivíduos conseguem manter a independência para as tarefas. No entanto, após dez anos de evolução da doença, os pacientes tendem a ter comprometimentos motores e cognitivos acentuados, tornado-se dependentes de cuidadores.

Em qual faixa etária a Doença de Parkinson está mais presente?

Acomete preferencialmente indivíduos, tanto homens quanto mulheres, após os 50 anos. Isto é, predomina entre os idosos.
Além das consequências físicas, o Parkinson pode acarretar depressão, ansiedade e outras condições psicológicas?
A Doença de Parkinson inclui alterações psicológicas/comportamentais como sintomas não motores, sendo a depressão descrita em até 70% dos casos. Em fases mais tardias da doença, problemas de memória, alucinações e delírios podem se tornar evidentes. A demência pode acometer até 50% dos pacientes com mais de dez anos de doença.

Qual a influência de atividade física e alimentação aparecimento da doença?
Há evidências de que exercícios físicos regulares se associam a um risco menor do desenvolvimento da Doença de Parkinson, podendo até retardar a sua progressão. De um modo específico, um estudo com pacientes que dançavam tango mostrou benefícios motores e, possivelmente, cognitivos. Em relação à alimentação, não há dados claros até o momento. No entanto, hábitos de vida saudáveis, como uma dieta balanceada e atividade física adequada, são sempre benéficos para o organismo.