Congresso abre pontes entre municípios e ONU no encerramento da II Semana Internacional da Diplomacia de Cidades

Coordenadores de agências do Sistema ONU e bancos de fomento, entre outras instituições, participaram de debate no Memorial da América Latina nesta sexta, 25; programação completa da semana reuniu 6 capitais ibero-americanas, 19 brasileiras e outra dezena de municípios

Nesta última sexta-feira (25), o congresso “Diplomacia de Cidades e Cooperação Internacional”, com a participação de coordenadores das principais agências da Organização das Nações Unidas, redes de cidades, corpo consular, governo federal, bancos de fomento, academia e gestores municipais de Relações Internacionais, concluiu a programação da II Semana Internacional da Diplomacia de Cidades (SIDC). Aberta ao público, a série de debates realizada no Memorial da América Latina teve a participação de mais de 200 pessoas, oriundas de dezenas cidades do Brasil e do mundo.

O congresso – assim como a programação completa da semana – abriu diversas pontes entre municípios e agências do sistema ONU, redes de cidades e bancos de fomento, contemplando problemas concretos do cotidiano de gestores de políticas públicas. O coordenador de Desenvolvimento Sustentável de Cuiabá (MT), Alex de Deus, por exemplo, obteve o compromisso de apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), na interlocução com a Polícia Federal e atendimento a refugiados que chegam à capital mato-grossense, em especial venezuelanos. Durante o painel de apresentação dos escritórios da ONU, ele apontou a demora na regularização de documentos, e a chefe do ACNUR em São Paulo, Maria Beatriz Bonna Nogueira, se prontificou a ajudar. “Estou em contato com a Pastoral (que faz a recepção imediata a refugiados em Cuiabá) para aproveitar ao máximo o auxílio oferecido pela ONU”, explicou Alex de Deus.

As agências focadas na infância (Unicef), urbanização (Habitat), Desenvolvimento e erradicação da pobreza (PNUD), financiamento e gerenciamento de projetos (UNOSSC) também participaram do painel dedicado ao Sistema ONU, protagonista de vários programas voltados às cidades. Ao longo da intensa semana de programação, encerrada no Congresso, foi possível trocar experiências, compartilhar boas práticas e avaliar políticas públicas de São Paulo, 6 capitais ibero-americanas, 19 capitais brasileiras e mais uma dezena de municípios das cinco regiões do país.

"Fortalecer as relações internacionais e a cooperação das cidades significa qualificar as políticas públicas e o desenvolvimento local; atrair investidores e captar financiamentos. Significa buscar as melhores práticas e garantir qualidade de vida à população, em especial aos mais vulneráveis", afirmou a secretária municipal de Relações Internacionais, Marta Suplicy na abertura do congresso, que trouxe 31 especialistas de instituições de alto nível das relações internacionais.

No painel "Redes de cidades", a secretária executiva de Mercocidades (ligada ao Mercosul), e da presidência da Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU), Fabiana Goyeneche, fez um apelo em defesa da adesão de novos municípios ao ecossistema de relações internacionais como meio para impulsionar o desenvolvimento sustentável das cidades, em especial na América Latina. "As cidades trabalham diretamente com a diplomacia para construir medidas que impactem a população. Por exemplo, para combater a mudança climática, denunciar o racismo, ou reduzir a desigualdade de gênero", disse Goyeneche.

De fato, apenas a minoria dos municípios brasileiros tem alguma estrutura de gestão voltada para as relações internacionais. Segundo Débora Figueiredo, professora titular da Universidade Federal de Uberlândia e palestrante do painel sobre a academia, menos de 40% das cidades brasileiras estão minimamente inseridas no cenário de cooperação internacional, o que mostra a urgência no incentivo à diplomacia de cidades.

Outro dado destacado durante o painel de agências do governo federal mostra ainda o potencial a ser explorado pelos municípios brasileiros. Hoje, o Brasil responde por apenas 1,5% do comércio internacional, destacou o representante da Apex, Sílvio Torres.


BALANÇO

Entre palestras, debates e oficinas práticas, como de captação de recursos para projetos de desenvolvimento sustentável, a II SIDC marcou a retomada do Fórum Nacional de Gestores Municipais de Relações Internacionais (Fonari), que elegeu secretária municipal de Relações Internacionais, Marta Suplicy, como presidente durante a eleição que aconteceu no Museu das Favelas. A cidade de São Paulo foi escolhida para presidir o fórum até 2025. A entidade estava inativa desde 2019 e aprovou um novo estatuto em assembleia geral realizada na capital paulista. O fórum é a principal associação brasileira voltada para a diplomacia de cidades e terá ainda coordenações para as cinco regiões do país.

Também foi celebrado, ao lado da ex-ministra e conselheira hemérita do CEBRI, Izabella Teixeira, a assinatura de um protocolo de intenções da Prefeitura de São Paulo com Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). A cidade de São Paulo junta-se estrategicamente a Associação. O que traz reflexão sobre o papel dos governos locais nas relações internacionais para um novo patamar.

Além da programação voltada a representantes técnicos, a II SIDC também ajudou a democratizar o tema. Na série de atividades batizada “Mundo nos CEUs”, seis Centros Educacionais Unificados espalhados pela cidade receberam apresentações multiculturais, oficinas e participaram de bate-papos oferecidos pelos consulados da Hungria, Índia, Itália, Japão, Portugal e Suécia. O objetivo foi proporcionar aos estudantes e à comunidade do entorno uma imersão na cultura, tradição e história das nações, além de “traduzir” o que é e como funciona a diplomacia de cidades.