Diretor-executivo da Drug Policy Alliance conhece o “De Braços Abertos”. Segundo ele, programa paulistano é modelo para a América Latina.

Ethan Nadelamnn, especialista norte-americano em política de redução de danos, esteve na região da Luz nesta terça (14). Além da passagem pela Luz, teve reunião com o prefeito Fernando Haddad e visitou o centro de acolhimento para população de rua de Zaki Narchi, na Zona Norte.

 Mais uma vez o programa de Braços Abertos, lançado em janeiro deste ano, desperta o interesse internacional. Nesta terça-feira (14), o especialista norte-americano em políticas para drogas, Ethan Nadelmann, visitou as instalações do programa na região da Luz.

Diretor-executivo da Drug Policy Alliance, Nadelmann é apoiador de políticas de redução de danos como as aplicadas em São Paulo atualmente. A partir da compreensão de que a baixa exigência e a criação de vínculos com os usuários, as ações acabam tendo maior eficiência como tratamento e menor custo ao contribuinte. “Existe a crença de que se você ameaçar alguém com um juiz, um pedaço de pau ou uma arma elas vão parar. Mas, na verdade, quando as pessoas têm a oportunidade de ter uma vida melhor, a maior parte delas andará nesta direção”, disse o especialista.

Os aspectos inovadores do programa chamaram atenção do norte-americano, que disse nunca ter visto algo parecido na América Latina e ressaltou que a experiência pode se tornar modelo na região. “Interessate mostrar que isso é possível aqui em São Paulo, mesmo com o tremendo abismo entre ricos e pobres, e não só em cidades de países  ricos”, disse Nadelmann.

Na opinião de Aldo Zaiden, do Ministério da Saúde, que também acompanhou a vista à Luz, o programa é uma referência ao próprio governo federal. “Aqui está se mostrando de fato como se aplica o ‘Crack, é possível vencer’ e a inovar, porque na verdade a questão do trabalho e da moradia não está não está no programa federal. Aliás esta discussão tem que entrar no programa ‘Crack, é possível vencer’ e nos outros relacionados à temática de vulnerabilidade social”, afirmou.

A secretária Luciana Temer (Assistência Social) apresentou os equipamentos do “De Braços Abertos” a Nadelmann, que incluem o ônibus de monitoramento da cena de uso, do Governo Federal; a tenda onde usuários são acolhidos por assistentes sociais e agentes de saúde; e o Largo Coração de Jesus, revitalizado pela prefeitura no contexto do programa.

Foto: Luiz Guadagnoli / Secom

Relatou como foram os primeiros momentos, desde o desmonte da favela entrre as ruas Helvetia e Dino Bueno até o registro dos beneficiários, que hoje já somam 513. “Quando falávamos o que tínhamos, eles não acreditavam”, disse sobre os benefícios oferecidos pelo programa, que incluem moradia em hotéis conveniados, três refeições por dia em restaurantes Bom Prato e trabalho de zeladoria remunerado.

A promoção de direitos incluídas em políticas de redução de danos desperta cada vez mais interesse de acadêmicos e experts no assunto. Algumas entidades e pesquisadores de renome mundial, como Nadelmann, já estiveram na Luz. “Este programa tem despertado a mirada dos órgãos latino-americanos. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) esteve aqui, A ONUDC, órgão da ONU para drogas e crimes , também. Estiveram aqui a Universidade de Lisboa, técnicos do Uruguai e da Argentina, além do maior especialista de neurociência dos Estados Unidos, Carl Hart”, lembrou Aldo Zaiden.

A questão em qualquer do mundo para a aplicação de uma política de redução de danos consistente, para Nadelmann, é enfretar a resistência da população e trazer os problemas à superfície. “A Europa começou seu programa de redução de danos entre os anos 80 e início dos anos 90, a população também era resistente, mas começou a ver que estava funcionando. Acho que é o mesmo que está acontecendo aqui”, concluiu.

Além da ida à Luz, o especialista norte-americano esteve no centro de acolhimento recém- inaugurado em Zaki Narchi, voltado ao atendimento e empoderamento gradativo da população de rua. Na sequência, foi recebido pelo prefeito Fernando Haddad.

Para Haddad a atenção ao De Braços Abertos é uma demonstração de que a cidade está no caminho certo e já é referência. “As pessoas estão buscando alternativas no combate às drogas. O nosso ‘De Braços Abertos’ chamou a atenção da comunidade internacional porque no contexto latino-americano é uma das primeiras iniciativas de redução de danos envolvendo um conjunto tão grande de pessoa. Já mudou a região da Luz e, mais do que isso, vem mudando a maneiras das pessoas pensarem o problema”, disse o prefeito.

Foto: Luiz Guadagnoli / Secom

“De Braços Abertos"
A Prefeitura implementou o programa “De Braços Abertos” após um acordo no início do ano com moradores de 147 barracas que ocupavam as ruas Helvetia e Dino Bueno. Por meio do programa, a administração municipal oferece moradia em sete hotéis, três refeições diárias, oportunidade de emprego com renda de R$ 15 por dia, além de tratamento contra o vício com acompanhamento.

Atualmente, são 513 beneficiários cadastrados, dos quais 23 receberam o atestado médico de aptidão ao mercado de trabalho. Outros 122 estão em tratamento voluntário contra dependência química. Dados do início de março apontam que o consumo de crack entre os beneficiários do programa foi reduzido, em média, de 50% a 70%. De uma média inicial de 10 a 15 pedras por dia, o consumo passou à média de cinco pedras diárias, concentrado no período noturno, segundo os relatos. Do total de beneficiários cadastrados, são 307 homens, 169 mulheres e 37 crianças. Já são 23 usuários trabalhando fora do programa, além dos 49 que atuam nas frentes de trabalho em órgãos municipais. Outros 260 seguem no serviço de varrição de ruas e 25 participantes estão no projeto Fábrica Verde, um curso de capacitação voltado à área de jardinagem.