De Braços Abertos desperta interesse de acadêmicos em visita a São Paulo

No Brasil a convite do governo britânico para workshop sobre cidades, pesquisadores visitam a tenda do De Braços Abertos, parte da política de redução de danos da Prefeitura. Resultados alcançados desde janeiro deste ano e a natureza do programa surpreenderam os especialistas.

 Nesta quarta (1), três professores convidados a participar do Workshop “Cidades do Futuro”, iniciativa do Governo Britânico, estiveram na região central da capital para visitar o De Braços Abertos, programa da Prefeitura de São Paulo voltado a dependentes químicos da região da Luz.

Os professores Gareth Jones (London School of Economics), Robert Rogerson (Universidade de Strathclyde) e Juan Antônio Carrasco (Universidade Concepción) foram recebidos na tenda do programa por Odimar Reis, assessor técnico de saúde mental álcool e drogas, e Zélia Pagliard, coordenadora do espaço De Braços Abertos.

“Isto aqui não é um equipamento de saúde, mas sim um programa que ajuda a fortalecer a parte da saúde na cena de consumo de drogas”, explicou Odimar Reis sobre o papel desempenhado pela tenda. O objetivo é o acolhimento de usuários sem a necessidade do corte imediato do uso de substâncias, seguindo as diretriizes da política de redução de danos preconizada pelo Ministério da Saúde brasileiro.

O caráter intersecretarial da iniciativa também foi ressaltado. A Secretaria de Saúde é coordenadora técnica, mas outras pastas também atuam, como é o caso de Assistência Social, Trabalho e Direitos Humanos. As avaliações mensais do programa são realizadas pelo Grupo Executivo Intersecretarial (GEM).

Segundo o pesquisador Robert Rogerson, que estuda uma comunidade similar à da Cracolândia em Glasgow, na Escócia, um dos aspectos mais interessantes da experiência em São Paulo foi observar como a ação do poder público municipal tem conseguido reestabelecer os elos entre uma comunidade antes marginalizada com a sociedade em geral.

“Quando as comunidades estão invisíveis, ninguém entende as conexões entre traficantes, usuários, sociedade e o Estado. A cidade do futuro é aquela em que os problemas estão visíveis”, afirmou Rogerson.

Para Gareth Jones, do departamento de Geografia e Meio Ambiente da London School e autor de extensa pesquisa com usuários de drogas e moradores de rua no México, a política realizada pela cidade de São Paulo seria impensável por lá: “Estou vendo aqui um modelo e uma abordagem muito diferente. Em vez de segurança, um dos focos é saúde.”

Os resultados alcançados até agora também impressionam: já são 422 beneficiários. “A escala de um programa como esse no México seria menor. A faixa etária também – aqui vocês parecem ter grupos de pessoas mais velhas”, observou Jones, que tem diversos trabalhos relacionados a violência, juventude e drogas na América Latina.

Outras Agendas

Para o professor chileno Juan Carrasco, engenheiro civil e estudioso da mobilidade, a vivência na Cracolândia aponta ainda para o tema da ocupação do espaço público. “Mobilidade também é sobre como o espaço público é ocupado, sobre como tratamos problemas e lidamos com questões em vez de escondê-las”, concluiu.

O Governo Britânico convidou acadêmicos tanto do Reino Unido quanto da América Latina a conhecer mais sobre como a cidade de São Paulo tem tratado os temas da mobilidade, da ocupação do espaço público e da desigualdade. Além do De Braços Abertos, os convidados visitaram a Companhia de Engenharia de Tráfego, a SpTrans e o Laboratório de Tecnologia e Protocolos Abertos para a Mobilidade Urbana (MobiLab).