Governos locais pedem mais participação na Habitat III

Reunião promovida pela Força Tarefa Global discutiu como ampliar a atuação das cidades na Conferência da ONU. São Paulo compartilhou experiências de governo aberto que podem servir de referência nesse processo.

 Pela primeira vez na História, mais da metade da população do planeta vive em cidades. É nesse contexto que Estados nacionais, governos locais e sociedade civil se preparam para a 3ª Conferência da ONU sobre Moradia e Assentamentos Humanos, a Habitat III.

Em setembro, dois encontros marcaram o início das discussões para o evento, que será realizado em 2016, com grande foco em desenvolvimento urbano sustentável. Na primeira reunião, promovida pela rede de Cidades e Governos Locais (CGLU) em Nova York, municípios do mundo participaram da Força Tarefa Global. A cidade de São Paulo esteve presente, representada pelos secretários Leonardo Barchini (Relações Internacionais) e Fernando Mello Franco (Desenvolvimento Urbano).

Líderes locais se reuniram em Nova York para a Força Tarefa Global. Encontro produziu a Declaração dos Governos Locais e Regionais. Foto: Divulgação. 

Na ocasião, São Paulo apresentou o seu novo Plano Diretor e também defendeu o uso de ferramentas para participação social no processo da Habitat III. Nesse sentido, a cidade compartilhou a experiência do Planeja Sampa, que permite o acompanhamento da evolução do Plano de Metas da Prefeitura, e as iniciativas de Governo Aberto, que também promovem maior controle social da gestão pública.

Os membros da Força Tarefa Global redigiram a Declaração dos Governos Locais e Regionais, em que pedem mais participação dos territórios e níveis subnacionais de governo, bem como maior accountability e inovação na governança, durante a Conferência.

Garantir uma participação mais efetiva dos municípios também foi uma preocupação do primeiro encontro do Comitê Preparatório, entre os dias 17 e 18 de setembro, em Nova York, com a presença de delegações de estados-membros das Nações Unidas. São Paulo e Rio de Janeiro foram as únicas cidades brasileiras a acompanhar, como ouvintes, das discussões da PrepCom.

Brasil e França se declararam favoráveis ao empoderamento das cidades nas deliberações da Conferência. “Os governos locais têm um papel central no processo de decisão de políticas públicas e representam um segmento populacional de rápido crescimento nacionalmente. Nesse sentido, cidades e autoridades locais precisam ser ouvidas de forma efetiva e adequada em todas as fases e modalidades do processo de construção da Conferência”, disse o embaixador brasileiro Guilherme Patriota.

Habitat: 40 anos depois

Criar uma agenda para equilibrar a urbanização crescente com um desenvolvimento sustentável tem sido um grande desafio desde meados do século 20.

Realizada em Vancouver, em 1976, a 1ª Conferência da ONU sobre Moradia e Assentamentos Humanos (Habitat I) e seus desdobramentos foram pautados pela crença de que somente um governo central forte seria capaz de enfrentar os problemas derivados do êxodo rural e crescimento acelerado das cidades.

A Conferência produziu a Declaração de Vancouver, que foi adotada como resolução da ONU na Assembleia Geral seguinte, com um conjunto de princípios para a melhoria da qualidade de vida das populações, e o Plano de Ação de Vancouver, com 64 recomendações para ações nacionais e cooperação internacional.

A segunda edição da Habitat, conhecida como Cúpula das Cidades, foi realizada em 1996 em Istambul, com a participação de setores não-governamentais nas delegações nacionais, uma tendência que vinha desde a ECO-92, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada quatro anos antes no Rio de Janeiro.

A elaboração da Agenda Habitat, plano de ação global com mais de 100 compromissos a serem assumidos pelos Estados e 600 recomendações para a questão dos assentamentos humanos, foi principal desdobramento da Conferência. Ela já assinalava a importância de fortalecer parcerias inter e intra nações, envolvendo todos os setores sociais.