Inclusão da pessoa com deficiência: uma questão de Cultura

O Centro Cultural São Paulo conta com biblioteca Braile e computadores que permitem o acesso de pessoas com deficiência visual à Internet

A Secretaria Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida – Seped – e a Secretaria Municipal de Cultura firmaram um acordo com o objetivo de ampliar o acesso das pessoas com deficiência aos diversos equipamentos culturais da cidade. Algumas ações já foram implantadas, como a reserva de assentos em espetáculos no Theatro Municipal e a recente inauguração do elevador para deficientes físicos do Centro Cultural São Paulo.

A direção do Municipal pretende também ter, em breve, profissionais de tradução do método LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais, que atuarão na apresentação de espetáculos de óperas, beneficiando pessoas com deficiência auditiva. O Centro Cultural São Paulo oferece, além da bem equipada Biblioteca Braile, que reúne em seu acervo livros didáticos, técnicos, literários e infanto-juvenis; banheiros adaptados e uma rampa especial de acesso.

Agora, técnicos das duas secretarias estudam outros projetos para beneficiar esta população, que chega a mais de 10% dos cidadãos paulistanos. A Coordenadora de Relações Institucionais da Secretaria de Cultura, Beatriz Franco do Amaral, é uma das responsáveis por esta iniciativa. “A cultura é fundamental porque favorece a inclusão destes indivíduos junto aos vários segmentos da sociedade. No Centro Cultural São Paulo, por exemplo, a multinacional IBM doou à Biblioteca Braile computadores que permitem o acesso de deficientes visuais à Internet”, explica. Além disso, recentemente, foi inaugurado um acesso direto da Estação Vergueiro do metrô ao Centro Cultural. “Estudamos agora uma proposta de criar áreas que disponibilizem livros em braile nas bibliotecas públicas municipais que estão localizadas em pontos mais distantes da cidade e que não têm acesso próximo às linhas do metrô”, diz a coordenadora da Cultura.

Ações como essa estão de acordo com a proposta da Seped, que visa estimular, ao máximo, a acessibilidade das pessoas com deficiência aos equipamentos públicos da cidade, mas não apenas a eles. É importante incluir essas pessoas no cotidiano e em todas as opções de cultura e lazer que uma cidade como São Paulo oferece aos seus moradores. A grande batalha é tornar os locais acessíveis arquitetonicamente, mas, também, e principalmente, fazer com que eles tenham funcionários capacitados para acolher uma pessoa com qualquer tipo de deficiência. E isso começa com o simples atendimento cordial.

A secretária Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, Mara Gabrilli, aposta na mudança de atitude da sociedade, que vai desde singelas ações individuais até os grandes apoios da sociedade civil. “Este é o primeiro órgão executivo municipal criado para desenvolver políticas públicas para esse universo de pessoas que, hoje, representa mais de 14% da população, ou seja, 20 milhões de brasileiros”, explica Mara. E complementa: “o prefeito José Serra deu um grande e pioneiro passo quando instituiu a Secretaria da Pessoa com Deficiência, e a nós cabe fazer deste um belo trabalho de inclusão social visando a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas”.

Ainda segundo a secretária Mara Gabrilli, a maior deficiência não é a mental, a física ou a sensorial, e sim a deficiência da sociedade em não conseguir atender essas pessoas.

A parceria com a Secretaria de Cultura é imprescindível para a realização de todo esse projeto. Isso porque um bom trabalho social tem como prioridade a difusão da cultura para todos, sem exceção. Para Beatriz Amaral, esse projeto em conjunto visa facilitar, ao máximo, o acesso da população de pessoas com deficiência à cultura, melhorando sua qualidade de vida e servindo como referência aos demais municípios.

Em breve, a Secretaria de Cultura pretende ampliar a realização de oficinas culturais para os segmentos juvenil, adulto e terceira idade, que contemplem as pessoas com deficiência, nas áreas de teatro, dança, marcenaria, brinquedoteca, pintura, desenho, música, expressão corporal, modelagem e escultura.

"As pessoas têm que lutar!"

José Ângelo Ferreira Couto, 42 anos, deficiente visual desde que nasceu, será um dos beneficiados pela parceria entre as Secretarias de Cultura e da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida de São Paulo.

Morador do bairro do Cambuci, região central paulistana, Ângelo, que é apaixonado pela leitura, já aprovou algumas ações adotadas na estação Vergueiro do metrô. "A nova rampa de acesso é muito boa. Sou um freqüentador assíduo da biblioteca em braile. Também já conheço o novo elevador instalado. Só queria pedir aos órgãos públicos que verificassem o posicionamento dos orelhões nesses locais", comenta.

Ângelo costuma, sempre que possível, freqüentar o teatro e também gostou de saber que cem assentos serão reservados às pessoas com deficiência no Theatro Municipal de São Paulo. Sobre as ações que facilitam a vida dos deficientes, Ângelo comenta que essas iniciativas são muito importantes, mas não apenas isso. Ele afirma que todas as pessoas têm que ter paciência, sabedoria, e buscar seu espaço. E mais: as pessoas com deficiência não podem ficar resignadas em casa e têm que dialogar sobre como se deve "orientar" um deficiente. "As pessoas têm que lutar para vencer a exclusão social".