Pessoas com deficiência aprovam currículo on-line

Desde a criação da Lei de Cotas em 1991, empresas com ou mais de 100 funcionários são obrigadas a contratar pessoas com deficiência, sob pena de multa

Em cinco dias, 37 pessoas com deficiência se cadastraram no Centro de Apoio ao Trabalho por meio do curriculum on-line, lançado no último dia 21. A iniciativa faz parte da parceria firmada entre as Secretarias Municipais do Trabalho e da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida.

O número é significativo, pois leva em conta a dificuldade de acesso aos meios de comunicação e também a falta de estímulo de ingressar no mercado de trabalho.

Sandra Maria Salbatinni, de 53 anos, soube do cadastro on-line através de uma revista especializada em deficiência. Logo depois da divulgação do site, no dia 21, Sandra fez o cadastro do próprio computador em casa. "Preenchi o formulário imediatamente pois não vejo a hora de voltar a trabalhar. Como eu preciso do andador para me locomover, tenho muita dificuldade em percorrer grandes distâncias."

Apesar da seqüela de poliomelite na perna direita, Sandra é formada em pedagogia e sempre trabalhou em escolas. No último emprego em uma universidade, resolveu pedir demissão por ter dificuldade de locomoção entre a casa e o trabalho.

Agora, Sandra sonha em conseguir um emprego em que concilie as habilidades profissionais e a deficiência: "Quero aprender outras coisas, mas sem deixar de respeitar os meus limites físicos."

Para quem não tem computador, a Prefeitura conta com uma rede de 118 Telecentros espalhados em todas as regiões da capital. O atendimento é gratuito e o cadastro no banco de dados do Centro de Apoio ao Trabalho pode ser feito no seguinte endereço: www.prefeitura.sp.gov.br/eficiente, ou nos sites das secretarias da Pessoa com Deficiência e do Trabalho.

Telecentro EFORT

Único na América Latina a fornecer acessibilidade total, incluindo todas as deficiências (física, mental, visual, auditiva e múltipla), o Telecentro EFORT, localizado na Vila Mariana, está cadastrando todos os deficientes que freqüentam a unidade.

Criado em 2001, o Instituto Efort passou a oferecer Inclusão Digital somente no ano seguinte (2002) na forma de cursos de informática e oficinas de reabilitação aos deficientes. Desde então, atende diariamente mais de 200 pessoas com ou sem deficiência que queiram acessar a internet gratuitamente.

Para facilitar o trabalho, a instituição destina 15 computadores às pessoas com deficiência e 3 para o público em geral.

Para a diretora do Telecentro, Maria Regina Maciel, a criação do currículo on-line veio em boa hora. "Temos muitos deficientes que querem trabalhar e não sabem aonde procurar emprego. Aqui nós procuramos desenvolver as habilidades de cada um para depois encaminharmos ao mercado de trabalho. Com a criação do currículo online e a divulgação das vagas, eles vão se sentir mais estimulados."

Novas vagas

Atualmente, o Centro de Apoio ao Trabalho tem, aproximadamente, 850 vagas de emprego para pessoas com deficiência. Com a criação do currículo online, a expectativa é que o número de cadastros dobre nos próximos dias.

Desta forma, será possível captar mais vagas de emprego e também organizar cursos de qualificação profissional destinados às pessoas com deficiência.

"Temos a possibilidade de oferecer 50 mil empregos para as pessoas com deficiência. No entanto, captamos apenas mil vagas que, com muita dificuldade, estão sendo preenchidas. Nosso o objetivo é melhorar a empregabilidade dessas pessoas com cursos de qualificação destinados à recolocação profissional. Porém, precisamos ter um banco de dados mais completo para não só elaborar estes cursos, como também captar mais vagas junto aos empregadores", afirma Carlos Eduardo de Lucca, técnico do programa Centro de Apoio ao Trabalho.

Desde a criação da Lei de Cotas em 1991, empresas com ou mais de 100 funcionários são obrigadas a contratar pessoas com deficiência, sob pena de multa. Segundo uma pesquisa recente do IBGE sobre as pessoas com deficiência e mercado de trabalho, o Estado de São Paulo abriga 2,8 milhões de pessoas com deficiência em idade entre 16 e 55 anos (período de trabalho). De setembro de 2004 até hoje, a Delegacia Regional do Trabalho inseriu 33 mil pessoas com deficiência no mercado de trabalho.

Cláudia Aparecida de Lira de 23 anos é deficiente física e mental. Filha de empregada doméstica, a jovem freqüenta o Telecentro EFORT para acessar a internet e também fazer aulas de reabilitação. "Fiquei super interessada nesse cadastro on-line porque tenho dificuldade de ir até um dos postos do Centro de Apoio ao Trabalho. Quero muito conseguir um emprego para ajudar a minha família."

Cláudia é uma das 160.247 pessoas com deficiência em São Paulo que recebem mensalmente a pensão do LOAS (Lei Orgânica de Assistência Social) de R$ 300,00 (um salário-mínimo). Caso consiga um emprego formal, a jovem perderá automaticamente o benefício. Porém, uma das idéias que a Secretaria Municipal do Trabalho pretende implantar junto às pessoas com deficiência é a possibilidade de conseguir uma melhor perspectiva de renda com o emprego.

"Queremos mudar a concepção que a sociedade tem em relação ao deficiente. A pessoa que recebe um benefício está perpetuada a ter uma vida com pouco mais de R$ 300,00. Caso trabalhe, ela não só poderá multiplicar essa renda como também melhorar e muito a sua auto-estima", ressalta Carlos Eduardo de Lucca.

fonte/matéria: Secretaria do Trabalho