Palestra de sensibilização contra direção perigosa

Na última quarta-feira (08/02), palestra realizada na Seped foi uma aula contra as imprudências no trânsito. Os acidentes com veículos representam a segunda maior causa de lesões medulares no Brasil. O leme (lesado medular), dependendo da altura da lesão, pode ficar paraplégico ou tetraplégico

Há 17 anos, mais um acidente aumentava o índice de ocorrências da rodovia Dom Pedro, na região do Vale do Paraíba. Dentro do carro estava um jovem, de olhos verdes e cheio de vida. Do outro lado da pista, um caminhão modelo Track. O choque foi tão violento que Humba foi arremessado para fora e ainda atropelado pelo próprio veículo. Ele não estava usando cinto de segurança.

Milhares de acidentes ocorrem diariamente por São Paulo e pelo País. Segundo estatísticas, aproximadamente 500 pessoas por dia, no Brasil, ficam com algum tipo de deficiência permanente por causa de choque entre veículos. E sabe qual o motivo encabeça a lista dos acidentes? Uma junção, velha conhecida de todos: bebida e volante.

Humberto Alexandre, o Humba, aumentou essa estatística quando, depois de meses dentro de um hospital, saiu do leito para uma cadeira de rodas. Tocado por um outro número, o de que os acidentes com carro são maiores entre jovens de 17 a 25 anos, Humba resolveu fazer alguma coisa. E fez: elaborou palestras para sensibilizar esse público para o grande perigo que correm por não dirigirem com segurança: o de ter ou de deixar alguém com algum tipo de deficiência.

Faz 2 anos que Humba roda escolas e universidades em São Paulo para levar suas palestras, mas não só isso. Ele leva, dentro do coração e em cima de duas rodas, uma experiência de vida que quer passar para todo mundo. "A nossa vida é boa, mas poderia ser melhor se não tivéssemos essa deficiência, não é?", fala Humba para o seu amigo Willian Coelho, o Billy, que também ficou paraplégico depois de um acidente de moto. Os olhos verdes de Humba irradiam uma alegria imensa, apesar de o assunto ser tão pesado. "Todo quebrado é um revoltado", dispara para a platéia que olha atenta. "Vocês não sabem a briga diária que um deficiente trava consigo mesmo. É uma batalha com o nosso próprio corpo", comenta.

Humba elaborou sua palestra com o intuito de despertar nos jovens uma atenção especial para o perigo que é a direção com a bebida. Durante sua explanação de, aproximadamente, uma hora e meia, ele faz brincadeiras, provoca seus ouvintes e mostra vídeos engraçados e chocantes. "Todo esse conteúdo eu tirei da Internet. As piores imagens eu não vou mostrar, não. Já vi uma menina chorando depois de assistir um vídeo com acidentes. Parei a apresentação na hora", disse. Alguns vídeos têm cenas pesadas de pessoas acidentadas, e uma, em especial, choca mais: a de uma garota que morreu de overdose de drogas. "Essa foto eu inclui a pedido da Polícia Militar, que me pediu para falar algo sobre drogas", avisa Humba. Segundo ele, que é um careta contumaz, essa foto vale mais do que palavras. E vale mesmo.

A platéia de Humba, desta vez, não foi um grupo de jovens em sala de aula. Foram profissionais que trabalham na Secretaria Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida da Prefeitura de São Paulo que estavam ali reunidos para saber um pouco mais sobre a sensibilização desses jovens.

Todos aprenderam um pouco sobre o tema, mas uma outra lição foi mais especial, a de que a deficiência não prende alma nenhuma. E vimos Humba rodar por todos os cantos daquela sala no auditório da rua Líbero Badaró.