"Estado Imediato" leva erotismo dark a três espaços

Coreografia do Grupo Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira é apresentada nos teatros Arthur Azevedo, João Caetano e Paulo Eiró


“Estado imediato” discute a condição do profissional da dança
 a partir de uma perspectiva do luto (Foto: Inês Correa)

Por Gabriel Fabri

A trilha sonora é cheia de vida, um caldeirão de referências populares. Da canção dos Bee Gees “Stayin’ Alive”, que marcou o filme “Embalos de sábado à noite”, com John Travolta, até o “quebra-prato” do candomblé, passando por Dominguinhos e Gilberto Gil. A energia dessa mistura contrasta com os figurinos de cores sóbrias e com a simplicidade da luz e dos cenários de “Estado imediato”, a mais recente coreografia do grupo Ângelo Madureira e Ana Catarina Vieira.  O espetáculo chega a três teatros municipais em fevereiro: de 12 a 14, no Arthur Azevedo; de 19 a 21, no Teatro João Caetano; e de 26 a 28, no Paulo Eiró. 

Por conta dessa atmosfera criada, Madureira destaca, na coreografia, um “erotismo dark”.  E não se trata do gesto de abertura do espetáculo, quando todos os bailarinos, enfileirados, tiram a roupa e mostram as nádegas para a plateia. O erotismo vem, na visão do coreógrafo, da movimentação dos corpos no palco. “Percebe-se que existe uma sensualidade, mas não na perspectiva do senso comum, não é vontade de sedução”, explica. E o resultado é bastante sombrio, pois “Estado imediato” discute a condição do profissional da dança a partir de uma perspectiva do luto. “Existe sempre uma sensação de recomeço”, afirma. “O movimento do artista surge e, logo em seguida, morre, dando lugar a outro.” 

O frescor de cada momento é o “estado imediato de dançar” a que se refere o título do espetáculo. “A gente se pergunta o que acontece com uma pessoa que dedicou a vida inteira à dança”, explica Madureira. Ele afirma que, na dança contemporânea, os profissionais geralmente estão muito focados nos conceitos e nas ideias de cada espetáculo e se esquecem do corpo, não buscando o prazer.  “Uma coisa é gostar, outra é viver de dança”. No fundo, a coreografia fala sobre as estratégias de sobrevivência do artista e as dificuldades de dar continuidade aos seus trabalhos. “É o estado imediato de dançar que nos move e dá força para continuarmos trabalhando”, conclui.  

| +14 anos. Teatro Municipal da Mooca Arthur Azevedo. Zona Leste. Dias 12 e 13, 21h. Dia 14, 19h; Teatro João Caetano. Zona Sul. Dias 19 e 20, 21h. Dia 21, 19h; Teatro Municipal de Santo Amaro Paulo Eiró. Zona Sul. Dias 26 e 27, 21h. Dia 28, 19h. Grátis (retirar ingresso a partir de uma hora antes)