Aluno do C.E. Santana que foi vice-campeão mundial de muay thai se aventura no MMA

Em 2014, Dejanilson Moura conquistou a prata na Tailândia e hoje sonha com o UFC

 

O pernambucano Dejanilson Moura da Silva, 26, auxiliar de academia, professor de muay thai e estudante de educação física, é um de tantos talentos que surgiram nos Centros Esportivos da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de São Paulo. Nos últimos cinco anos, foi tricampeão brasileiro de muay thai e campeão pan-americano, além de ter disputado três vezes consecutivas o principal campeonato da modalidade, o mundial de muay thai organizado pela World Muaythai Federation (federação mundial de muay thai), na Tailândia. Mas essas não foram as primeiras lutas que Deja, como é conhecido no esporte, precisou enfrentar.

 

Chegou a São Paulo depois de sair de João Alfredo (PE) quando tinha dois anos. “Minha infância foi complicada, era da casa pra escola e da escola pra casa. Eu brigava bastante”, conta. Como milhões de brasileirinhos, sonhava em ser jogador de futebol. “Até fiz um teste na base do Nacional. Passei, fiquei jogando durante um ano, só que precisava de empresário. Então, desisti”, disse. Mas aos 12, convidado por um amigo, começou a treinar lutas no Complexo Esportivo Baby Barioni, onde conheceu uma das pessoas mais importantes em sua trajetória, o Mestre Miyagi (quase que aquele do filme de 1984), que é seu treinador até hoje. Passou a treinar no C.E. Santana após o fechamento do Baby Barioni. Lá, teve a oportunidade de utilizar todos os equipamentos necessários para sua evolução esportiva, como piscina, quadra e sala de lutas. Ao longo do tempo, ganhou destaque no muay thai. “Comecei a treinar contato livre e parti para o muay thai. Comecei a lutar e fiquei quatro anos invicto. Fui campeão paulista e campeão brasileiro. O primeiro pan-americano, que aconteceu no Rio de Janeiro, eu fui em diante, meu caminho abriu e eu fui crescendo. Então, eu sou muito grato, meu nome ficou mais forte”, explicou. Na categoria amadora, Deja acumula 58 vitórias e oito derrotas. No profissional, triunfou oito vezes e perdeu apenas uma luta.

Até chegar ao mundial, foi campeão em São Paulo e em outros estados brasileiros, como Rio de Janeiro e Minas Gerais. A medalha de ouro no campeonato brasileiro de 2014 garantiu vaga para tentar ganhar o mundo. A primeira luta, no entanto, não foi na Tailândia - tampouco se deu contra um adversário convencional -, aconteceu no Brasil e foi contra a falta de incentivo. “O atleta brasileiro tem muita dificuldade para conseguir um patrocínio, é a realidade. Eu tive que ralar muito, muito, muito. Se cada empresa patrocinasse um atleta, o esporte no Brasil seria outra coisa", lamenta. Para ir a Bangkok e disputar seu primeiro título intercontinental, deveria desembolsar cerca de 6 mil reais. Entrou em cena o espírito hollywoodiano: o mesmo treinador do início de sua vida no esporte foi a principal ponte entre o lutador e a realização do sonho. O Mestre Miyagi brasileiro teve a mesma importância daquele que ensinou Daniel San a “tirar casaco e botar casaco”. O mentor ajudou na busca por patrocinadores e garantiu o valor necessário para passagens, hospedagem e mantimentos durante o torneio.

Aterrissou na capital tailandesa três dias antes do mundial. Estava cansado devido ao tempo de viagem. Muito ansioso e um pouco acima do peso, teve de se esforçar e correr muito para vencer a balança. Na primeira luta, superou um búlgaro por pontos. Na segunda luta, um russo. "Foi uma luta difícil, os russos são muito duros", lembrou. Também levou por pontos. A final foi contra o dono da casa, um tailandês. “A Tailândia é o berço do muay thai. Ele fez o jogo dele, ganhou o primeiro e o terceiro round. Foi uma luta boa pra mim, mas eles bebem disso", reconheceu o brasileiro que saiu de lá com a prata no peito. Depois disso, ganhou os dois campeonatos brasileiros seguintes e, novamente, voltou ao sudeste asiático. Em 2015, ficou em quarto. Já em 2016, foi o terceiro colocado e beliscou mais uma medalha.

Depois de ter participado três vezes do campeonato mais importante do muay thai, resolveu buscar novos desafios. "Eu queria uma coisa a mais, queria crescer mais. Então, passei a focar no MMA (mixed martial arts, ou artes marciais mistas, em português)”, relatou. Decidiu migrar para o MMA por conta da grandeza do esporte. "É mais amplo. Onde você chega, o pessoal conhece. Há mais valorização, mais patrocínio e mais caminhos, mais lugares para conhecer", enfatizou o multiesportista.

Antes, seu ídolo era Buakaw Banchamek, o tailandês lenda viva do muay thai. Atualmente, se espelha nos ícones do UFC. “Wanderlei Silva, Anderson Silva, Vitor Belfort… Hoje, o patamar está muito grande, eu me foco no Pedro Munhoz”. Há dois anos no MMA, ele soma seis lutas na nova carreira. São quatro vitórias e duas derrotas, mas não desanima: "Penso em chegar ao topo no UFC. É fazer um treinamento forte e pensar positivo até chegar lá. Pra isso, tenho o apoio da AIPESP (Associação dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo) e da empresa de produtos médicos Inbone".

 

Texto: Gustavo Henrique Honório de Morais - gmorais@prefeitura.sp.gov.br
Fotos: Reprodução | Facebook Deja Moura