Há 25 anos, a Seleção Feminina de Basquete conquistava seu primeiro mundial

Por falta de visibilidade da modalidade, equipe de 94 ainda é a única grande inspiração nacional para jovens atletas

Toda a Seleção enfileirada comemorando o ouro

Foi com Hortência, Janeth, Paula, Alessandra, Cíntia, Leila, Roseli, Dalila, Helen, Adriana, Simone e Ruth que a Seleção Brasileira Feminina de Basquete conquistou a primeira e única Copa do país. Longe de ser o queridinho nas apostas para campeão, foi este o time que há exatos 25 anos deixou o Brasil em festa com a vitória do Campeonato Mundial de Basquetebol Feminino de 1994, na Austrália.

E se engana quem pensa que o título veio fácil. Sob a orientação de Miguel Ângelo da Luz, a amarelinha enfrentou na semifinal a maior seleção de basquete do mundo. Para se ter ideia, a Seleção Feminina dos Estados Unidos conquistou dez dos dezoito Mundiais de Basquetebol, sendo que os três últimos ouros foram seguidos: 2010, 2014 e 2018. Em 94, já como a melhor da modalidade, era uma das favoritas ao título, mas teve o percurso interrompido pelo Brasil.

Na grande final, o Brasil enfrentou a China. Muito mais tranquilas após passar por Espanha e Estados Unidos, em 12 de junho de 1994, ELAS venceram a seleção chinesa por 96 a 87 e subiram ao pódio mais alto usando verde e amarelo.

Hortência chora enquanto Paula e Janete a consolam numa espécie de abraçoApesar do fantástico trabalho de toda equipe, o trio Hortência, Janeth e Paula foi quem ganhou destaque nacional. As três ficaram conhecidas por liderar a vitória do país. Isso porque somente Hortência, com 35 anos na época, marcou 221 pontos, consagrando-se a melhor jogadora do campeonato. Janeth ficou em terceiro, com 186 pontos, e Paula em quinto, com 158.

Para uma das técnicas de basquete do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP), Alessandra Minati, 44, as meninas de 94 tornaram-se ídolos nacionais. Alessandra lembra dos jogos com alegria, mas explica toda a dificuldade em acompanhá-los pela TV. Segundo ela, a transmissão ao vivo só aconteceu no último jogo da segunda fase, contra a Espanha, uma experiência “surreal”. “As pessoas torciam muito, iam para o ginásio, acompanhavam pela televisão”, conta a técnica sobre o auge do basquete feminino nacional. Por todo esse ambiente, ela, que jogava no Mauá e hoje é até amiga de algumas das atletas da época, teve a certeza de que a modalidade era sua paixão.

De acordo com Alessandra, atualmente, o basquete feminino brasileiro não tem ídolos tão representativos como as jogadoras de 94, que ainda servem de suporte para as iniciantes. Não com tanta empolgação, afinal, muitas delas nem eram nascidas.

É o caso das atletas do COTP, Vitória Barbosa e Kerolene Araújo, ambas de 16 anos. Apesar de conhecerem Hortência, Janeth e Paula, suas grandes inspirações estão no exterior e, infelizmente, no basquete masculino. As garotas, que já fizeram parte da Seleção B Brasileira, admitem acompanhar os astros americanos LeBron James e Stephen Curry muito mais assiduamente do que os nomes nacionais. “As referências delas não são tão próximas. Sem essa referência é mais difícil. Os obstáculos se tornam maiores e fica mais fácil desistir ao longo do caminho”, explica Alessandra sobre a ideia de ídolos inalcançáveis.

Além do basquete estar longe dos holofotes da mídia, uma das possíveis razões para a ausência de ídolos brasileiros está na falta de investimento ao esporte. O Centro Olímpico, por exemplo, por meio da Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (SEME), é um dos poucos clubes com times femininos de basquete, com. Com 70 atletas entre 10 e 17 anos, das categorias Sub-12, Sub-13, Sub-14 e Sub-17, o COTP contribui diretamente, de forma gratuita, para a formação de base da modalidade há quinze anos, promovendo ainda o incentivo às mulheres no esporte.

Atletas do COTP posam para foto segurando bolas de basquete com a quadra ao fundo

Vitória e Kerolene acreditam que falta mesmo investimento em todos os esportes para as categorias femininas, mas garantem que isso não as desanima. Ao serem questionadas sobre a lição que a Seleção de 94 deixou, Vitória reafirma a importância da representatividade feminina para elas. "Não é porque somos mulheres que não conseguimos chegar ao nosso objetivo", associa.

Alessandra sonha um pouco mais alto. Acreditando em seu trabalho no Centro Olímpico, ela confessa o seu maior desejo: "Meu sonho é que o basquete seja a modalidade mais praticada entre as garotas".

Se você é ou conhece uma garota cheia de garra e com paixão pelo basquete, clique aqui e dê uma olhadinha nas próximas peneiras da modalidade no Centro Olímpico. O Brasil não vê a hora de ter mais Hortências, Janeths, Paulas...

Texto: Beatriz Gois
Fotos: Beatriz Gois e Arquivo CBB