Divisão de Desaparecidos divulga vídeos de mães que tentam localizar os filhos

No Dia das Mães, nem todas podem comemorar a data com os filhos, esse é o mote da campanha iniciada no domingo, quando no município também é celebrado o Dia das Pessoas Desaparecidas

A Prefeitura de São Paulo tem no alerta da Divisão de Desaparecidos da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) 2.865 pessoas que saíram de seus lares e nunca mais voltaram. Muitos estão desaparecidos há vários anos, mas tantos outros foram localizados.

Somente até 04/05 deste ano, a Divisão localizou 181 pessoas que estavam desaparecidas na cidade. No ano anterior, foram localizadas 756 pessoas de 2.555 solicitações e registros de desaparecidos, resultado de diferentes campanhas com a ajuda de parceiros como a concessionária Via Quatro e da Companhia do Metropolitano de São Paulo, com transmissões diárias de alertas pela TV Minuto do Metrô, entre outras iniciativas da Divisão.

O trabalho de localização de pessoas reúne o esforço e a organização de diversos setores e instituições, para esse trabalho em uma metrópole de tão grandes dimensões como São Paulo. Além do vídeo divulgado no domingo, a Divisão de Desaparecidos promoveu na sexta-feira, 6/5, uma ação no bairro da Santa Efigênia, um dos pontos mais movimentados da cidade, para orientar a população sobre como proceder em caso do desaparecimento de um familiar, a quem recorrer nesses casos e como divulgar o ocorrido.

Familiares participaram da ação de sensibilização da população

Foram distribuídos aos que passavam no cruzamento da Rua General Osório com a Rua Santa Ifigênia exemplares do Guia de Orientações – Busca e Identificação de Pessoas Desaparecidas na Cidade de São Paulo, publicado pela SMDHC, em atividade que também contou com a presença de mães que participaram da campanha.

A ação ocorreu no local onde, no dia 2 de fevereiro de 1982, Rogério Bispo do Nascimento, filho de Dona Marina, desapareceu. O fato aconteceu há 40 anos, no mesmo cruzamento aonde ocorreu a ação. Desde então, Dona Marina vem tentando localizar Rogério. Ela chegou a compor músicas sobre a dor e a angústia de ter um filho desaparecido e publicou o livro “O Diário de uma mãe” em que conta a sua saga, após tantos anos de procura pelo filho, e orienta outros pais.

O responsável pela Divisão de Desaparecidos da SMDHC, Darko Hunter, explicou qual é o propósito da iniciativa: “Nossa intenção é sensibilizar a população sobre a campanha para localização de desaparecidos, com conscientização e informação a respeito. Muita gente desconhece que o Dia das Mães também é no município de São Paulo o Dia Municipal de Pessoas Desaparecidas, e que aqui nós temos uma estrutura e um trabalho consolidado com outros agentes que tem conseguido localizar diversas pessoas, que foram acionadas como desaparecidas pelo nosso sistema de alerta”, afirmou.

“Portanto, procurem a Divisão de Desaparecidos da Secretaria de Direitos Humanos, conheçam nossa página na internet e o Guia de Orientação, que temos lá publicado, com todas as informações necessárias para iniciar a busca da pessoa desaparecida”.

O primeiro vídeo divulgado nas redes sociais da secretaria (clique aqui para ver) foi gravado no Theatro Municipal. A imagem dos vários assentos vazios do Theatro dimensiona a dor da ausência de um familiar. Foi possível comparar a capacidade de lotação do auditório, que é de pouco mais de 1.500 lugares, com a quantidade de pessoas que se encontram desaparecidas na cidade, que corresponde a pouco menos do dobro da capacidade da sala de espetáculos.

Os próximos vídeos da campanha contam com os depoimentos de mães que estão à procura de seus filhos desaparecidos e que passaram mais um Dia das Mães sem o tão esperado abraço de reencontro, ou de notícias sobre o que possa ter acontecido com eles.

As personagens
A dor dessas mães é a falta de notícias, de não saber do paradeiro de seus filhos:

A última vez que Rogério Bispo do Nascimento foi visto ele estava em uma rua movimentada do centro da cidade de São Paulo, próximo ao local onde sua mãe Marina possuía uma banca de jornais. Tinha 11 anos de idade, hoje teria 51, e, quando desapareceu, vestia a camisa do Santos Futebol Clube, seu time do coração. Marina tenta localizar o filho há 40 anos. “A morte de uma pessoa não se compara com a dor de um desaparecimento porque quando se morre tem o velório, a preparação e o enterro da pessoa. Você sabe para onde ela foi, o que aconteceu”, conta Marina. “A dor não é só minha, mas de todas as mães que tiveram os seus filhos desaparecidos”, completa. Ela imagina que, como a suas duas filhas que lhe deram os seus netos, Rogério hoje estaria casado e com filhos.

*******
Emília é mãe de Samuel Gustavo de Andrade, desaparecido desde 9 de dezembro de 2017, quando tinha 19 anos de idade (hoje estaria com 23 anos). No dia de seu desaparecimento, Samuel foi encontrar com o irmão mais velho em uma balada perto de casa, mas ele não pode espera-lo pois se sentia cansado e voltou mais cedo para casa. A última notícia que se tem de Samuel são as imagens que foram capturadas por câmeras de segurança e depois mostradas pelos pais para a polícia. Elas indicavam que ele teria saído da festa de madrugada, passado sozinho perto de casa e prosseguindo por mais três quilômetros, para nunca mais ser encontrado. “Tenho mais de três filhos, o do meio está em casa, o mais velho faz 9 anos que tirou a própria vida, agora só temos o Juninho. Há cinco dias também perdi meu pai pela Covid. É muito duro (passar) o Dia das Mães (sem eles). Então na Páscoa, em todas essas datas, a gente não tem vontade de sair, só de ficar chorando. A dor maior é a do Samuel, é uma busca incansável em que a gente não tem uma pista e não tem resposta, não sabe se está morto ou vivo. É uma luta muito difícil. O que não me deixa desistir é a fé, a esperança, o amor que tenho nele. Nesse período, fiquei com muitos problemas de saúde, sou diabética, hipertensa, vou no psiquiatra todos os meses, tenho que tomar remédio para viver. Meu marido me dá muita força, sabe? É um maridão. Essa semana, ele foi em Valinhos, em Sorocaba, entrar cartazes, com a esperança de encontrar o meu filho para passar o Dia das Mães comigo”.

******
Vera Ranu é mãe de Fabiana Renata Gonçalves, desaparecida em 12 de novembro de 1992, quando tinha 13 anos e cursava a sétima série do ensino municipal, em uma escola da rede municipal, na região do Jaraguá. “Neste dia, como sempre, saí de casa para trabalhar, por volta das 5h30, levando os meus dois outros filhos para a creche. Minha filha costumava voltar da escola por volta das 18h30, mas naquele dia não regressou. São vinte anos de busca sem respostas”, narra Vera. “É tão invisível (as cadeiras vazias do Municipal) quanto os nossos desaparecidos. Eu sinto que cadeira vazia representa a nossa invisibilidade, como nossos filhos são invisíveis”. A filha de Vera está desparecida há 29 anos e para ela a ausência de Fabiana é como se tivesse sido hoje, no momento em que ela desapareceu de casa para ir à escola e nunca mais voltar. “Para mim, o Dia das Mães vai ser mais um dia comum sem a presença de um dos meus filhos. Eu sei que se passaram 29 anos, que hoje minha filha é uma mulher de 43 anos totalmente diferente do dia em que saiu de casa aos 13 anos, mas nós temos que manter a esperança porque é a única coisa que nos restou”.

Como é a política de São Paulo para pessoas desaparecidos

A cidade de São Paulo conta desde 10 de janeiro de 2022 com a Política Municipal de Busca de Pessoas Desaparecidas, Localização Famílias e Atenção a Familiares Desaparecidas. Instituída pelo Decreto 60.995, e que consolida uma política pública de muitos anos e que prevê ações e ajuda mútua com instituições parceiras, com a criação de um comitê constituído por familiares e agentes institucionais para acompanhar e influenciar as providências e medidas previstas por essa legislação.

A Divisão de Desaparecidos

A Divisão de Localização Familiar e Desaparecidos é um serviço público e gratuito da Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, na maior cidade da América do Sul e uma das maiores metrópoles do mundo. O serviço é gratuito.
Para localizar uma pessoa do seu núcleo familiar é preciso antes de tudo registrar um Boletim de Ocorrência em qualquer delegacia ou pela delegacia eletrônica e em seguida preencher o cadastro da prefeitura para disparar um processo de verificação em toda a rede municipal de assistência.
Para Darko Hunter, que coordena a Divisão, ainda há muita desinformação sobre o assunto. “Ao contrário do que se vê nas séries e filmes, não é preciso esperar 24h para fazer a denúncia. A prefeitura está pronta para ajudar assim que a família constatar que a pessoa não está no local que deveria”, explica Darko.

SERVIÇO
Divisão de Desaparecidos da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania
Ajuda pelo whatsaap 11 97549-9770
Formulário de cadastramento de desaparecidos: https://is.gd/pgmgZm